Topo

"A gente naturaliza e banaliza mortes e chacinas", diz ativista histórica

Carmem Lúcia

Colaboração para o UOL, do Rio

21/11/2021 04h00

O quarto painel de Origens: Passos que Vêm de Longe, que aconteceu na quarta-feira (17) em Ecoa, discutiu sobre os processos e os desafios na busca pela garantia de direitos para a população negra no Brasil.

Reconhecendo que há avanços na política, a ativista paraense Nilma Bentes fez um alerta: "Precisamos ter figuras que impactem e estimulem a autoestima coletiva da população negra, que lute com a gente, contra esse racismo horroroso de morte e encarceramento. A gente convive, naturaliza e banaliza as mortes e as chacinas".

Em sua participação, Nilma Bentes chamou a atenção para o fato de que o movimento negro sempre lutou para conquistar leis que melhorassem a situação da população negra no país. No entanto, alertou para o fato de que mesmo as leis já existentes têm dificuldades de existirem na prática. "Como operar as leis que a gente já conquistou?", questionou.

"O racismo se modifica a cada instante. Ele vai se atualizando e a nossa luta também tem que se atualizar".
Nilma Bentes, ativista

FOTOS: Origens - Nossos Passos Vêm de Longe

FOTOS: Origens - Nossos Passos Vêm de Longe

Nilma tem cerca de 40 anos de ativismo político e considera o atual momento político do país "um retrocesso". Ainda assim, ela continua articulando iniciativas para incidir na política de forma incisiva. Recentemente ela propôs a criação de um tribunal para julgar os crimes do Estado cometidos contra a população negra. "Não um júri simulado, e sim um tribunal que funcione, inclusive, com pressão internacional", explica.

Talvez, o movimento negro tenha que fazer algo que ainda não sabe o que é. Você não pode ter um resultado diferente fazendo a mesma coisa. É super importante que a gente insista em existir e politizar a população negra ao invés de só fazer notinha quando falece uma pessoa. É chocante e adoece a gente".
Nilma Bentes, ativista

E qual seria a melhor forma de fazer o povo negro acreditar nele próprio? Para Nilma, existem algumas ideologias que precisam ser discutidas ou combatidas amplamente, entre elas, a da democracia racial, conceito que nega a existência do racismo no Brasil. "Algo que a própria população negra acredita e entra nesse jogo", disse.

Nilma, que também é co-fundadora do Cedenpa (Centro de Estudos e Defesa do Negro do Pará), participou do painel Outra política: cidadania conquistada com luta, que teve mediação da co-fundadora da ONG Criola e diretora da Anistia Internacional no Brasil Dra. Jurema Werneck, e participação do arte-educador e fundador do projeto Geloteca João Belmonte e da professora de direito constitucional Thula Pires.