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COP26 tem críticas à falta de acesso e apelo por novas estratégias

Manifestação no centro de Glasgow, liderada pelo movimento Extinction Rebellion - REUTERS/Hannah McKay
Manifestação no centro de Glasgow, liderada pelo movimento Extinction Rebellion Imagem: REUTERS/Hannah McKay

Flora Bitancourt e Kamila Camilo

Colaboração para Ecoa, de Glasgow (Escócia)

04/11/2021 06h00

Embora o presidente da COP 26, o britânico Alok Sharma, tenha prometido uma conferência inclusiva, muitos participantes e organizações reclamaram ontem (3) da falta de acesso às salas de negociação em Glasgow. "Esta é a sétima COP de que eu participo e até agora a mais problemática que tenho visto", afirma Iago Hairon, oficial de programa com foco em justiça climática para a Open Society na América Latina.

Ele justifica: "Foi criada basicamente uma COP 'falsa', à qual só têm acesso os negociadores que estão decidindo sobre o presente e o futuro do planeta, enquanto há essa outra COP em que todas as pessoas que têm credencial amarela podem entrar. É fundamental que a discussão sobre o clima tenha participação popular e ouça todas as vozes, incluindo as populações tradicionais, indígenas e negras, em especial do sul global. Nós viemos até aqui para isso, mas até agora eu vejo quase nada ou muito pouco dessa participação".

As normas da Convenção das Nações Unidas sobre a Mudança Climática determinam que as organizações da sociedade civil têm o direito de assistir a essas reuniões globais sobre o clima como observadores, inclusive dentro das salas de negociação, para garantir a transparência do processo.

"Não podemos manter a mesma estratégia dos últimos 26 anos"

O ativista Ben Larsen em manifestação no centro de Glasgown nesta quarta (3) - Flora Bitancourt - Flora Bitancourt
O ativista Ben Larsen em manifestação no centro de Glasgown nesta quarta (3)
Imagem: Flora Bitancourt

Também na quarta-feira, o grupo Extinction Rebellion liderou uma manifestação no centro de Glasgow. O movimento, que conta com participantes de diversos países, defende a desobediência civil não violenta como estratégia de combate ao colapso do clima e ao ecológico.

"Nós temos aqui um monte de pessoas diferentes com ideias diferentes se reunindo pela mesma crença: a de que a política de sempre não vai nos levar a lugar algum. Esta é a COP26, o que significa que tivemos 25 antes dela, e as coisas seguem sem nenhuma ação prática razoável para combater a crise climática em escala", disse a Ecoa o ativista Ben Larsen, que conduzia a manifestação.

"Nós não estamos fazendo nada doido, não estamos atacando ninguém — este é um pequeno passo para dizer que não vamos continuar com as mesmas ações de sempre, como assinar petições e escrever cartas para políticos. Tudo isso tem seu valor, mas está sendo feito há décadas. Nós precisamos de algo mais ativo, e queremos juntar cada vez mais pessoas nas ruas", completa.

Voz da juventude

A ativista Vitoria Pinheiro, de Manaus (AM), foi até Glasgow para representar a juventude brasileira na COP26. Jovem liderança e ativista afroindígena, travesti, artista e inovadora social, ela contou a Ecoa que um dos seus objetivos na conferência é "pensar como as juventudes da periferia e de cidades urbanas da região amazônica podem atuar para impactar positivamente as políticas públicas".

Um de seus projetos nesse sentido é o Epicentro Jornalismo, que pretende trazer dados e narrativas sobre justiça ambiental e climática a partir da visão das juventudes e comunidades que habitam a bacia amazônica. "Essa é uma plataforma de jornalismo comunitário e narrativo que quer pensar como as histórias dessas comunidades podem gerar dados para subsidiar políticas públicas ligadas ao meio ambiente. Nossa visão está muito alicerçada em conhecimentos tradicionais, ancestrais, que podem impactar nessa transição climática", explica.