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Professor coloca berço em sua sala para ajudar aluna com filha pequena

Reprodução/Twitter
Imagem: Reprodução/Twitter

Carolina Vellei

Colaboração para Ecoa, de São Paulo

16/07/2021 06h00

Karen Cunningham, de 29 anos, é estudante de pós-graduação em biologia no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos. Sua filha Katie nasceu em julho do ano passado e, desde então, sua vida tem sido uma grande correria para dar conta de equilibrar os afazeres como mãe e como pesquisadora dentro do laboratório. Sem opções de creches por conta da pandemia, ela e seu marido, Steve Cunningham, passaram por sufocos até receberem uma ajuda providencial.

Vendo a situação, seu professor Troy Littleton teve uma ideia: colocar um berço em seu escritório para que Katie e sua mãe pudessem ficar mais próximas uma da outra. Ele, que leciona no MIT há 21 anos, tem um filho já adulto e sabe como a rotina com um bebê pode ser complicada.

Em entrevista ao The Washington Post, o professor explicou a razão para ajudar sua aluna: "Cuidar de crianças em qualquer profissão é um desafio, mas em ciências pode ser ainda mais desafiador."

A equipe do laboratório não conseguiu fazer um chá de bebê para Karen por causa da pandemia, então todos se juntaram para lhe dar um berço portátil.

Em maio, depois que todos receberam suas vacinas contra o coronavírus e voltaram ao trabalho presencial, o professor convidou Karen a colocar o berço em seu escritório. Assim, teria um lugar seguro para a filha ficar enquanto ela estivesse no laboratório - ele próprio faria o papel de babá enquanto isso. A ideia surpreendeu a família, que ficou admirada com a gentileza.

Um bebê na pandemia

Karen e Steve já tinham um relacionamento de dez anos. Apesar de ela ainda não ter terminado o doutorado e de ele trabalhar em tempo integral, os dois desejavam muito ter um bebê e, finalmente, tinham conseguido gerenciar seus planos para ter um filho em 2020.

Karen estava grávida quando a pandemia os pegou de surpresa. Os Cunningham moram em um alojamento estudantil e a creche no campus foi fechada durante o período de isolamento social. "Foi realmente estressante ter o mundo fechado no meio de nossa gravidez e dar à luz sabendo que iríamos nessa grande aventura sem toda a infraestrutura de que precisávamos", disse a mãe.

Sem parentes morando nas proximidades para ajudá-los, a sorte dos dois é que Steve conseguia trabalhar remotamente, dentro de casa. Então, quando Karen precisava ir ao laboratório, ele conseguia cuidar da filha. Mas seu trabalho também exigia reuniões presenciais periódicas e quase sempre a agenda dos pais ficava tumultuada. Pelo menos até a iniciativa do professor Troy.

Gentileza surpreendeu a internet

Em 7 de maio, o professor postou uma foto de seu novo escritório no Twitter, junto com uma legenda:

"Minha compra favorita de novo equipamento para o laboratório - um berço portátil para colocar no meu escritório para que minha aluna de pós-graduação possa trazer sua filha de 9 meses para trabalhar quando necessário. E eu posso brincar com ela enquanto sua mãe trabalha", escreveu.

Após ver que sua postagem no Twitter havia viralizado com mais de 118 mil curtidas, o professor decidiu pontuar que, em sua opinião, era Karen quem merecia os elogios pela façanha de equilibrar a maternidade com a vida acadêmica.

"Gostaria que as pessoas pudessem localizar o verdadeiro herói aqui. É a estudante de pós-graduação, não eu. Ela é incrível para fazer tudo o que precisa com sua filha e ainda manter sua pesquisa", escreveu.

Ainda assim, a postagem recebeu muitos comentários elogiando a sua postura. "Como graduada com um filho de 9 meses que ainda está na lista de espera para uma creche e eu não posso pagar: obrigada", agradeceu uma mãe.

Uma mulher canadense ressaltou a importância do ato em apoio ao feminismo. "O senhor é feminista. É assim que a igualdade acontece ", escreveu.

O professor quase não usava o Twitter e, por isso, não esperava que a história pudesse ficar famosa e virar notícia em diversos jornais do mundo. "Fiquei muito feliz por ter desencadeado uma discussão sobre como criar ambientes de trabalho mais amigáveis para a família", explicou.

Falta de suporte

A aluna Karen Cunningham e o professor Troy Littleton - Reprodução/Twitter  - Reprodução/Twitter
A aluna Karen Cunningham e o professor Troy Littleton
Imagem: Reprodução/Twitter

Troy Littleton afirma que a falta de creches a preços acessíveis, escolas fechadas e empregos perdidos durante a pandemia ajudaram a expor um problema frustrante enfrentado com mais frequência por mulheres do que por homens.

A família sabe que a situação em que se encontra não é a ideal, mas é uma solução apenas temporária. Katie não é permitida em certas áreas do laboratório e nunca é deixada sozinha, como conta a mãe. Agora com um ano, sua filha vai começar a frequentar uma creche a partir de setembro.

"As barreiras contra ter bebês no início de uma carreira acadêmica contribuem para a sub-representação das mulheres em posições de liderança na ciência, e realmente precisamos consertar isso como uma comunidade", defende o marido, Steve.