Projeto conecta instituições a pessoas interessadas em oferecer ajuda
O voluntariado sempre fez parte da vida da publicitária Marina Chavez, de Niterói, no Rio de Janeiro. A avó e a mãe prestam serviço no ambulatório de uma igreja, e os exemplos dentro de casa a influenciaram: quando tinha cerca de 12 anos, decidiu que também queria fazer algo para ajudar as pessoas. Sua avó indicou um asilo feminino, e ela começou a visitá-lo com frequência para ajudar nas aulas de pintura.
Em 2014, aos 21 anos, Marina resolveu aproveitar a Páscoa para arrecadar chocolates. Falou com familiares e amigos e pediu caixas de bombom, que seriam mais baratas e fáceis de estocar. A estratégia deu tão certo - e se espalhou tanto no boca a boca - que ela conseguiu juntar 800 caixas. "Foi uma bagunça, minha casa ficou lotada e tudo ficou cheirando a chocolate", ri.
Embora a ideia inicial fosse ajudar apenas uma instituição, o volume de doações tornou possível ajudar muitas outras. Mas não foi tão fácil encontrar quem pudesse recebê-las. "Fiquei surpresa ao receber tantos 'nãos'. Falavam que já tinham recebido outras doações e que não era necessário ter mais", afirma.
No fim, Marina conseguiu ajudar 12 lugares, incluindo creches, asilos e orfanatos de Niterói e do Rio de Janeiro. Ao chegar para fazer a entrega, ela entendeu melhor a razão das negativas: datas comemorativas significam um excesso de doações de certos itens, enquanto outros básicos - como alimentação não perecível - continuam em falta.
Além de ver as necessidades de perto, Marina ficou tocada pelo carinho que recebeu: "Eles nos abraçavam e sorriam muito, e pediam para não irmos embora". Foi daí que veio não só a ideia, mas também o nome do projeto Por mais um Sorriso, que ela passaria a tocar a partir de então. "A ideia é fazer as pessoas sorrirem, e não só as que recebem doações, mas também as que as realizam", completa.
O projeto busca entender o que as instituições realmente precisam e conectá-las com pessoas dispostas a ajudar. "Muita gente não sabe como fazer isso e, como eu passei a ter contato com vários lugares nessa busca com os chocolates, achei que poderia fazer a ponte", conta.
A divulgação das necessidades é feita por meio de grupos no WhatsApp, e-mails e campanhas nas redes sociais. Quando as arrecadações atingem o objetivo, uma ação é organizada com os voluntários, que vão até as instituições para levar as doações e promover atividades.
Até hoje, cerca de 800 voluntários já passaram pelo projeto, entre aqueles que ajudam mensalmente e os que fazem isso de forma pontual. Mais de 40 instituições já foram ajudadas, 2.700 famílias foram impactadas e mais de 17 toneladas de alimentos foram arrecadadas.
Diversão educativa
Com o tempo, empresas, restaurantes, parques de diversão e professores, entre outros, começaram a procurar o projeto para oferecer parcerias. Isso permitiu que as ações passassem a incluir passeios combinados com atividades educativas. As crianças já foram levadas para visitar a praia e o Cristo Redentor, por exemplo - boa parte delas nunca havia ido a esses lugares.
Tudo acontecia, é claro, antes da pandemia. Hoje as doações continuam, mas sem as visitas e passeios. Por serem organizadas de acordo com a demanda, as ações não seguem um calendário específico. Mas as datas comemorativas não ficam de fora: "Como a gente está sempre nesses lugares, as pessoas acabam criando essa expectativa de que também estaremos nas datas especiais. As crianças perguntam se o Papai Noel vai visitá-las e não queremos frustrar essas expectativas", pondera Marina.
Trabalho direto de Portugal
O "Por mais um Sorriso" já se expandiu para São Paulo e Recife por meio de parcerias locais. E também foi para Portugal: Marina mudou-se para Lisboa em 2018 e passou a atuar na cidade portuguesa. "Aqui tem muita gente em situação de rua, então tenho feito essa conexão com instituições para doar alimentos e roupas", conta.
Hoje com 28 anos, ela concilia a coordenação do projeto com um emprego regular como organizadora de eventos. Para isso, conta com uma equipe no Brasil que inclui um designer, uma redatora, uma pessoa de estratégia e ainda sua mãe e irmão, que dão apoio logístico.
Assim como ela, todos atuam de forma voluntária. "Hoje recebemos doação em dinheiro, mas transformamos tudo em alimento. A gente tem o sonho de alcançar a sustentabilidade financeira e se tornar uma ONG, mas entende que a fome fala mais alto nesse momento", explica.
Marina defende que, com alguma organização, é possível conciliar tudo. "Fazer o bem é mais fácil do que se imagina. O que falta é as pessoas darem o pontapé inicial e se encantarem com esse mundo, porque é muito gratificante ver coisas boas acontecendo. Traz esse sentimento de que nem tudo está perdido", conclui.
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