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"A vida em um dia 2020", de Kevin Macdonald, traz esperança à pandemia

Mulher em Tóquio. Cena do filme "A Vida em um Dia" - Divulgação
Mulher em Tóquio. Cena do filme "A Vida em um Dia"
Imagem: Divulgação

Juliana Domingos de Lima

De Ecoa, em São Paulo

12/02/2021 04h00

Você lembra como foi seu dia em 25 de julho de 2020? Nesta data, pessoas no mundo inteiro registraram cenas de suas vidas com o propósito de participar do projeto mais recente do cineasta escocês Kevin Macdonald (de "O Último Rei da Escócia" e "Whitney"): "A Vida em um Dia 2020".

O produto final evidencia, a um só tempo, a diversidade e similaridade da experiência humana. Se por um lado um único dia pode abarcar eventos e emoções completamente distintas, até opostas — como nascimento e morte, amor e desamor, celebração e luto —, vivências de seres humanos que habitam todas as partes do mundo são próximas a ponto de formar, no filme, blocos temáticos sobre aquilo que Macdonald define como os aspectos fundamentais da vida.

"É um filme sobre conexão, sobre se dar conta de que todos ao redor do mundo têm as mesmas experiências. É muito positivo pensar que não estamos separados, não somos diferentes porque todos compartilhamos os aspectos básicos da vida", disse Macdonald em uma entrevista concedida a Ecoa. "E é isso que a maioria das pessoas filma, elas filmam aquilo que é importante para elas, e dá pra ver o que é — amor, perda, alegria, tristeza, amizades, filhos".

É uma mensagem potente para o momento atual, marcado pela polarização política e pela emergência de um vírus que ressalta as desigualdades entre as pessoas. O documentário fez sua estreia no prestigiado Festival de Sundance em 1º de fevereiro e foi lançado pelo YouTube na última sexta-feira (6). Produção original da plataforma, está disponível para assistir gratuitamente.

Uma década depois

Kevin MacDonal - Divulgação - Divulgação
O cineasta Kevin Macdonald, diretor de "A vida em um dia 2020"
Imagem: Divulgação

Foram mais de 320 mil vídeos recebidos de 192 países. O triplo do material processado no primeiro "A Vida em um Dia", lançado por Macdonald em 2011. A empreitada original buscava se aproveitar do boom de vídeos caseiros propiciado pelo nascimento do YouTube, em 2005.

De lá para cá, muita coisa mudou na internet e no mundo. Segundo Macdonald, plataformas como o YouTube se tornaram "mercantilizadas" e grande parte da população mundial dispõe de um smartphone e produz vídeos cotidianamente.

Também houve grandes mudanças no cenário político mundial na última década, uma atmosfera que se faz presente em momentos pontuais de "A Vida em um Dia 2020", como no segmento gravado por um ex-soldado americano e apoiador de Donald Trump.

Por fim, como não poderia deixar de ser em um filme sobre 2020, vários dos clipes lidam com a pandemia de covid-19 e seus efeitos, seja na rotina de trabalhadores da saúde, na vida de um homem que perdeu tudo na crise e agora vive em seu carro, nas já conhecidas imagens de cidades esvaziadas ou nas famílias que perderam entes queridos.

Estabelecendo uma comparação com o primeiro filme, Macdonald afirma que "A Vida em um Dia 2020" tem um tom um pouco mais sombrio e reflexivo, algo que ele relaciona ao clima político, mas principalmente ao isolamento exigido para conter a doença. Segundo ele, sua equipe recebeu uma quantidade bem maior de material relacionado à perda e ao luto dessa vez.

Ainda assim, não estamos falando de um filme desesperançoso. A combinação de momentos triviais e grandiosos, tristes e felizes, de fins e recomeços, tragédias e bênçãos parece criar algum tipo de equilíbrio complexo no qual o mundo inteiro toma parte. "Acaba sendo um filme muito inspirador e positivo porque, no fim, o que ele diz é que somos todos mortais e nascemos para a tristeza, mas que também há coisas maravilhosas e existe lugar para a alegria", diz o diretor escocês.

A vida em um dia 2020 - Divulgação - Divulgação
Memorial em Minnesota. Cena do filme "A Vida em um Dia"
Imagem: Divulgação