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Mari Rodrigues

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Cássia Kis: Às vésperas da eleição, homofobia abala a identidade nacional

Cássia Kis  - Globo/ Ellen Soares
Cássia Kis Imagem: Globo/ Ellen Soares

Colunista do UOL

29/10/2022 06h00

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Estava procurando sobre o que falar esta semana, porque o noticiário está tomado de bobagens da disputa eleitoral. Não conseguirei escapar dessa discussão, mas tentando escapar dela, falarei por alto do que me vem à cabeça.

Todo mundo pode expressar suas preferências políticas, afinal, este é um país livre. O que não podemos é ver cenas como a que estão sendo perpetradas por alguns artistas que cederam à loucura e estão tentando arrastar outrem para ela. A última foi a Cássia Kis, que vem com pregação no meio do set, tumultuando e fazendo declarações homofóbicas, como se ser gay ou lésbica fosse errado.

Homofobia está tão fora de moda que nem deveríamos estar falando dela. Mas neste buraco em que nos metemos, as pessoas parecem se achar legitimadas para falar asneiras e coisas que beiram o criminoso.

Quando falei da peça na semana passada, omiti certas citações porque não interessavam no meu raciocínio, mas uma ficou impregnada na minha cabeça: se o artista se rende à política partidária, é o fim da arte. Isto não significa que o artista é "apolítico"; toda manifestação artística tem um componente político em sua essência, uma mensagem que precisa ser divulgada. Quando esta mensagem ao invés de ser propositiva passa a ser panfletária ou ofensiva, a arte vira propaganda.

Neste Brasil fragmentado, vemos a corrente que pede votos e a corrente que pede caos. É triste, pois não nos amadurece politicamente, nem nos salva de nosso fratricídio moral.

Neste Brasil fragmentado, vemos a corrente que fala que não pode matar o amiguinho e a corrente que dissemina ódio contra o amiguinho porque ele é diferente. Isso é desmoralizante para a nossa identidade nacional.

Neste Brasil fragmentado, há o discurso do respeito à inclusão e à diversidade que é intrínseca ao ser humano e o discurso de que todo mundo precisa ser de uma forma só, como um sapato que não se molda no nosso pé.

A arte tem o objetivo de trazer à tona esses antagonismos e propor uma via melhor e não apoiar uma via pior.

Amanhã, dia da eleição, deveríamos estar apenas prontos a deixar nosso voto na urna, e não a tumultuar e a ameaçar. Isso não é artístico, é apenas bárbaro! Salvemo-nos!

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL