Topo

Em crise na Europa, GM compra parte da Peugeot Citroën, também em baixa

Dan Akerson (GM) e Philippe Varin (PSA) posam em Nova York, onde fecharam o acordo - EFE
Dan Akerson (GM) e Philippe Varin (PSA) posam em Nova York, onde fecharam o acordo Imagem: EFE

De Paris (França)<br>e Frankfurt (Alemanha)

29/02/2012 13h42

A General Motors anunciou nesta quarta-feira (29) que formou uma parceria estratégica global com a francesa PSA Peugeot Citroen, com foco no compartilhamento de plataformas de veículos e em compras conjuntas. O negócio deve render um aumento de capital de cerca de 1 bilhão de euros à PSA. Em contrapartida, a GM vai ficar com participação de 7% no grupo francês.

A partir dessa aliança, as empresas vão explorar áreas para novas cooperações, como logística integrada e transporte. O valor das operações conjuntas pode chegar a US$ 2 bilhões por ano, dentro de cinco anos. Os primeiros produtos da aliança, provavelmente carros urbanos de pequeno e médio portes, são esperados para 2016.

O acordo não dá à GM direito a voto nas decisões corporativas da PSA, mas a transforma na segunda maior acionista do grupo francês, atrás apenas da família Peugeot.

Quem precisa de quem?

A aliança entre General Motors e Peugeot Citroën será concentrada em carros de passageiros pequenos e médios e crossovers. Posteriormente, os parceiros pretendem desenvolver juntos uma nova plataforma para veículos com baixa emissão de poluentes. Os primeiros automóveis produzidos em uma plataforma conjunta começarão a ser comercializados em 2016.

O comunicado sobre a parceria não mencionava possíveis fechamentos de fábricas ou demissões -- consequências esperáveis de um movimento corporativo como esse.

As economias de custos com o acordo serão limitadas nos primeiros dois anos, mas eventualmente atingirão US$ 2 bilhões por ano, valor que deve ser dividido igualmente entre as companhias.

A reação ao acordo entre analistas do setor é de ceticismo. "A Peugeot precisa da GM, mas a GM não precisa da Peugeot", disse o analista Matthew Stover, da Guggenheim Securities, em Nova York. "É difícil compreender como esse acordo ajuda a GM na Europa", acrescentou.

Ambas montadoras têm excesso de capacidade de cerca de 25% na Europa, disse Stover, acrescentando a aliança traz riscos no momento em que a GM está em um ponto muito delicado de sua reestruturação.

A família Peugeot disse que investirá 150 milhões de euros no aumento de capital na montadora, permanecendo como maior acionista da companhia francesa. (Reuters)

Parte mais frágil do grupo PSA, a Peugeot vai mal das pernas tanto na Europa como em mercados emergentes cruciais -- como o Brasil, onde sua participação vem caindo nos últimos anos. A marca francesa e a Opel, subsidiária europeia da GM, enfrentam fracas vendas e capacidade ociosa em seu continente-sede. As operações europeias da GM perderam US$ 747 milhões em 2011, enquanto a Peugeot ficou 497 milhões de euros negativa na segunda metade do ano.

No comunicado à imprensa emitido nesta quarta, GM e PSA tentam transformar um movimento corporativo típico de empresas em crise numa espécie de conto-de-fadas.

"Essa parceira traz excelentes oportunidades para nossas companhias", disse Dan Akerson, presidente da GM. "A sinergia da aliança, assim como nossos planos específicos, colocam a GM em condições de obter lucratividade sustentável e a longo prazo na Europa".

Por sua vez, Philippe Varin, líder do conselho da PSA, disse que "esta aliança é tremendamente excitante para os dois grupos". E fez uma referência à família Peugeot: "Com o apoio de nossa acionista histórica e a chegada de um novo e prestigioso acionista, o grupo todo se mobiliza para colher os benefícios desse acordo". Mais protocolar, impossível.

SINERGIA É REGRA
O grupo PSA Peugeot Citroën é o segundo maior fabricante autmotivo da Europa e vendeu 3,5 milhões de carros no mundo em 2011, sendo que 42% desse volume fora do continente -- a PSA tem negócios em 160 países (mas não nos Estados Unidos). No Brasil, somadas, as duas marcas detinham no final de janeiro 4,43% do mercado, com a Citroën em 10º e a Peugeot em 11º.

Já o grupo General Motors fabrica (e não apenas vende) seus carros em 30 países, e luta para se manter como o maior fabricante automotivo do planeta. No Brasil, sua marca é a Chevrolet, mas ainda há Cadillac, Buick, GMC, Opel e Vauxhall, para citar apenas as ocidentais. Fora dos EUA, seu mercado estratégico é a China, onde tem diversas joint ventures.

Na França, a Renault possui aliança com a japonesa Nissan e utiliza plataformas da romena Dacia, sua subsidiária, para produtos globais. Nos EUA, a aliança mais notável é a que uniu a Chrysler à Fiat, evoluindo até o ponto de esta controlar a americana, em 2011. Foi uma maneira de salvar a Chrysler da falência, e já rendeu vários produtos -- como o Fiat Freemont (Dodge Journey), Dodge Dart (plataforma de Alfa Romeo) e alguns modelos ianques vendidos na Europa com o selo Lancia, do grupo Fiat.

O compartilhamento de plataformas e de sistemas de compras de peças e partes não é novidade na Europa. A PSA tem carros produzidos em parceria com a Fiat, por exemplo, e o Mitsubishi ASX, de boas vendas no Brasil, é irmão do Peugeot 4008 e do Citroën C4 Picasso. O que chama a atenção na parceria entre GM e PSA é a dúvida sobre se a capitalização com a venda de apenas 7% das ações será suficiente para aplacar a crise do grupo francês, ou se é o primeiro passo para um domínio mais completo da GM.

*Com Redação, em São Paulo (SP)