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Relíquia: GT Piquet retorna do esquecimento cheio de histórias para contar

GT Piquet com o dono - Acervo pessoal / Caíque Pereira
GT Piquet com o dono Imagem: Acervo pessoal / Caíque Pereira
Guilherme Menezes e e Carolina Barros Lopes

Do UOL, em São Paulo

26/12/2022 04h00

Se você buscar pela Estrada da Posse, número 623, Rio de Janeiro (pelo satélite do Google), vai encontrar uma joia abandonada na oficina de "Luíz Fibra". O carro em questão é o único GT Piquet já produzido. "Nasceu" em 1966, mas há pelo menos 30 anos "vive" a dura realidade do abandono. Hoje pertence ao marqueteiro de 67 anos, Caíque Pereira, que tenta de tudo para trazê-lo de volta.

GT Piquet na única foto de época em cores - Divulgação - Divulgação
GT Piquet na única foto de época em cores
Imagem: Divulgação

O GT Piquet foi projetado por Cristiano Piquet, arquiteto e primo de primeiro grau do tricampeão de Fórmula 1. Antes de conseguir realizar o seu sonho de criar o seu próprio carro, faleceu na Praça da Bandeira, a caminho da faculdade em um acidente de trânsito. O jovem arquiteto foi quem desenhou o carro, mas seu pai e amigos finalizaram o "bólido" em memória póstuma.

O carro é totalmente baseado no DKW Vemaguet. Tem o mesmo chassi e mecânica (motor 1.0 dois tempos), mas foi remodelado para assumir a forma de uma Berlinetta e ganhou interior caramelo, característica marcante dos esportivos da época. Talvez Cristiano tenha olhado para o já belíssimo Malzoni GT e pensado: "vou fazer ainda melhor".

  • Feito pelo primo de Nelson Piquet
  • Concluído por amigos e familiares
  • Baseado no DKW Vemaguet
  • Único exemplar produzido
  • Feito de massa plástica
  • Não roda desde antes do surgimento da placa cinza (no início dos anos 90)
  • Restauração parada há quase 15 anos

Segundo Caíque, logo após o término do "Projeto GT Piquet", ele foi entregue aos parentes de Cristiano. Mas o carro passou por poucos donos em sua história. "Eles usaram o veículo por anos, mas doaram para um funcionário da família, que foi vendido para o ex-dono do carro", diz Caíque.

Ainda está com a placa amarela (extinta no início dos anos 90) e o chassi original, que é o que mais conserva o seu valor histórico. A ideia é ele ganhar a placa do Mercosul em breve, o que pode acabar levando certo tempo, mas todo o esforço valerá a pena para marcar o seu retorno.

Ressurgindo das cinzas

Registro de revista dos anos 60 - Divulgação - Divulgação
Registro de revista dos anos 60
Imagem: Divulgação

Caíque adquiriu a relíquia em 2005 por R$ 8 mil, mas por ter que custear seu tratamento de câncer, não conseguiu dar continuidade na restauração do carro. "Sinto que o GT Piquet foi feito para mim, tudo encaminhou para ser meu", afirma o dono do veículo.

De acordo com Caíque, o carro não caiu em suas mãos por acaso. Ele conta que leu sobre o GT Piquet em uma revista bem antiga e, após dois dias, encontrou o veículo no seu bairro.

"Ele estava abandonado em uma casa há um 1km de onde eu morava na Tijuca e o mato da garagem tomava o carro. Procurei pelo dono do imóvel, ele me vendeu a relíquia e depois viramos amigos", conta o marqueteiro. Hoje, pretende vender o exemplar por não ter condições de seguir com as reformas.

"Eu não tinha muitas fotos da parte traseira do carro e queria fazer a restauração. Fui até uma corrida do Nelson Piquet e comentei que o automóvel estava comigo. Ele foi super gentil e até me passou o contato de um familiar para me ajudar (...) já apareceram várias propostas, mas eu criei obstáculos para fechar o negócio. Vender o carro é como se tirasse uma parte de mim", afirma.

Processo de restauração

GT Piquet pelas lentes do Google Street View - Reprodução / Google Street View - Reprodução / Google Street View
GT Piquet pelas lentes do Google Street View
Imagem: Reprodução / Google Street View

Apesar de ser tão exclusivo, "Luíz Fibra", o dono da oficina que acolheu a "jóia", comenta que não é nenhum "bicho de sete cabeças" para restaurar, mesmo faltando peças importantes, como farol, lanterna e outras partes.

"Não é tão difícil achar as partes mecânicas, que são as mesmas do DKW. Além disso, só de olhar para as fotos da época, quando o carro estava inteiro, é possível recriar do zero as partes que estão faltando. Originalmente ele leva pouca fibra; mais plastique (massa plástica). Mas com os materiais modernos, dá para deixar mais bem acabado do que quando ele surgiu, lá nos anos 60", diz.

"Esse carro está na oficina desde o fim dos anos 2000. Chegou para mim cheio de ratos. O problema foi que o projeto não conseguiu prosseguir. Para concluir o serviço por completo, com os melhores materiais, estimo mais ou menos R$ 30 mil", segundo Luíz.

"Se hoje ele já vale mais de R$ 150 mil do jeito que está, por toda a sua história, vai multiplicar esse valor algumas vezes depois de pronto. Já tem um interessado em SP, mas em leilão poderá valer muito dinheiro", complementa. Confrontamos essa estimativa de mercado com Gabriel Elero Espinola, especialista em carros e motos clássicos, que também acha que os valores estão nesta faixa.

Há pouquíssimos registros sobre o GT Piquet na Internet. Quem já identificou e escreveu sobre a raridade até então, foram apenas os mais aficionados. Ainda assim, encontrar esses envolvidos foi como achar uma "agulha no palheiro" (tal como quando Caíque encontrou o GT Piquet encoberto pelo mato).

As expectativas sobre o clássico ímpar são as melhores, por toda a sua história, criatividade e raridade. Jamais deverá se manter no esquecimento e merece seguir viagem para representar o passado automotivo para muitas gerações que ainda virão. Esperamos poder acompanhar e trazer mais boas notícias desse esportivo nacional.

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