Indústria da multa? Radar defeituoso emite 1 ano de infrações em 30 dias

Radares de velocidade costumam ser o terror de motoristas infratores que não respeitam os limites das vias. Mas no Rio de Janeiro, um deles foi além e bateu recorde de autuações. Desregulado, o equipamento registrou o equivalente a um ano de infrações em apenas 30 dias - e até agora quem foi "flagrado" por engano pelo aparelho não teve suas multas canceladas.

Nos últimos oito anos, a rotina diária do geógrafo Hugo Costa, a caminho do colégio dos filhos, incluía passar pelo radar de velocidade (40 km/h), localizado na Rua Barreiros, no bairro de Ramos, zona norte do Rio. Nessa quase uma década passando pelo local, nunca havia tido qualquer infração de trânsito. Mas em março deste ano, dez dias após trocar o seu veículo por outro em uma concessionária, ele se deparou com uma infração gerada no dia 3 do mês.

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Para a surpresa dele a multa era gravíssima, por passar acima de 50% da velocidade permitida no local, o que para ele seria impossível, já que dirige há anos na região e conhece bem a via, ainda mais com tamanha velocidade. Ele também afirma que essa velocidade detectada pelo radar não é possível: devido a sua localização, fica depois de cruzamento e pouco antes de uma curva.

No dia 23 do mesmo mês, ele recebeu outra infração, no carro recém-retirado da concessionaria. Outra multa gravíssima, com data de infração do dia 17/3, exatamente dois dias após ter conhecimento da existência da primeira multa.

O morador foi pesquisar a fundo sobre o problema e constatou que a situação não havia acontecido apenas com ele, mas com quase mil pessoas que passaram pelo mesmo local.

"Tenho certeza de que não havia cometido esta multa, e através de redes sociais encontrei outras pessoas na mesma situação. Não era um erro pontual e sim um grande defeito", afirma Hugo. Que foi mais ao fundo na investigação do caso e, através dos relatos de outras pessoas e da Lei de Acesso a informação junto a Prefeitura do Rio de Janeiro, averiguou as multas geradas neste radar entre os meses de março de 2021 até o mesmo mês em 2022.

A média mensal encontrada foi de cinco multas gravíssimas neste equipamento, mas em março deste ano foram registradas 189, bem diferente do comum.

Assim que detectou o problema, o morador abriu uma defesa prévia para o primeiro carro, que foi indeferida. Quando foi recorrer da multa para o segundo veículo, encontrou o sistema Carioca Digital, da Prefeitura do Rio, fora de funcionamento.

Mesmo que a multa seja cancelada, a solicitação de reembolso só é possível através do sistema, que a Prefeitura alega ter sido alvo de ataque hacker e não tem previsão de volta do funcionamento.

Em um primeiro contato informal com a CET-Rio (Companhia de Engenharia de Tráfego), responsável pelo radar, o motorista recebeu como resposta que as multas seriam canceladas até abril deste ano. Até agora, porém, elas permanecem e Hugo teve que pagar por todas as infrações emitidas, já que precisava prestar contas do carro vendido para a concessionária.

Outro morador do bairro relata que passou pelo mesmo problema. Daniel Antunes, que mora próximo do radar, diz que também foi prejudicado pelas multas irregulares.

"Passo quase que diariamente no radar desde que o mesmo foi colocado há 10 anos, e nunca sofri uma multa sequer. No mês de março surpreendentemente chegou uma multa para mim no valor de R$ 880, gravíssima e com suspensão do direito de dirigir. O radar possui um limite de velocidade de 40 km/h e a minha multa registrou 80 km/h, sendo que é impossível [atingir] essa velocidade, pois o radar está em um cruzamento e a menos de 100 metros há uma curva de 90 graus à esquerda", afirma Daniel.

Na primeira semana de abril o radar foi quebrado, e mais uma consulta à Lei de Acesso à Informação identificou que zero multas foram geradas. O radar foi consertado, já está no lugar, só que desativado.

Em nota, a Secretária de Transporte do Município do Rio informou apenas que todas as multas de março aplicadas por este radar estão em processo de cancelamento. E sobre o não funcionamento do radar, a informação deveria ser dada pela CET-Rio.

Entramos em contato com a CET-Rio, mas até o momento não obtivemos retorno.

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