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Brasileiro aproveita folga para varrer estande no Salão de Paris

Carlos Teixeira, funcionário público da área de segurança no Brasil - Murilo Góes/UOL - Murilo Góes/UOL
Carlos Teixeira, funcionário público no Brasil
Imagem: Murilo Góes/UOL

Leonardo Felix

Colaboração para o UOL, em Paris (França)

07/10/2014 09h53Atualizada em 07/10/2014 11h49

Durante visita ao estande da Citroën no Salão de Paris 2014, chamou a atenção de UOL Carros um grupo que cuidava da limpeza do local e conversava em português. Eram três brasileiros e quatro portugueses, todos trabalhando para uma empresa responsável por organizar os espaços das três grandes marcas francesas (as outras duas são Peugeot e Renault).

Ao perceber que nossa reportagem conversava no mesmo idioma, um deles se aproximou e puxou conversa. Era Carlos Teixeira, funcionário da área de segurança pública no Brasil. Na Europa desde o final de junho, ele aproveitou as férias e uma licença-prêmio (benefício reservado a servidores públicos, que concede três meses de licença a cada cinco anos de trabalho) para ganhar um dinheirinho extra durante quatro meses. Ele retorna ao país no final de outubro.

Desde que chegou, Teixeira fez vários bicos em serviços de limpeza e pintura, sempre ganhando entre 10 e 12 euros por hora trabalhada (de R$ 30 e R$ 37). E quer mais: assim que retornar ao Brasil sua ideia é pedir licença de dois anos (não remunerada) do cargo para voltar ao Velho Continente e, com o dinheiro desses serviços, bancar os estudos dos dois filhos. "Quero que eles sejam criados aqui. O Brasil está numa situação insustentável, principalmente para quem trabalha com segurança. E só vai piorar. Não quero mais viver assim", reclamou.

Nem mesmo as puxadas cargas horárias (que às vezes chegam a 16 horas por dia), nem o fato de ser destratado por alguns patrões tiram dele a motivação de seguir com o plano. "Já fui obrigado a catar lixo com a mão. É difícil, mas acho menos pior do que trabalhar com segurança pública no Brasil", garantiu.

Carlos Teixeira trabalha no estande da Citroën - Murilo Góes/UOL - Murilo Góes/UOL
Carlos Teixeira trabalha no estande da Citroën
Imagem: Murilo Góes/UOL
Outro problema é se adaptar aos idiomas. "Eu enrolo um pouco no inglês, espanhol e francês, mas não sou fluente. Às vezes não dá para entender o que o patrão está pedindo, e aí o jeito é balançar a cabeça [afirmativamente] e fingir que está tudo certo", confessou.

É preciso estar preparado para encarar concorrência na busca por vagas. "Se fizer muito corpo mole, eles contratam romenos que aceitam ganhar 6 euros [R$ 18] por hora".

Quando a conversa já se encaminhava para o final, um dos chefes apareceu e, com cara de poucos amigos, cochichou algo ao ouvido de Teixeira. Pouco constrangido com a reprimenda, ele ainda teve tempo de brincar (ainda que meio a sério) com a reportagem: "Está vendo como é? Daqui a pouco vocês vão me fazer ser demitido", disse, entre risadas. Depois se despediu, e acelerou as esfregadas no chão brilhante do pavilhão.

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