Omissão e burocracia transformam carro abandonado em "praga" paulistana

Não é preciso procurar muito para achar um carro abandonado em São Paulo (SP). Basta sair um pouco das avenidas mais conhecidas e buscar travessas -- nem tão escondidas assim -- em regiões como Santana (zona norte) e Santo Amaro (zona sul) para dar de cara com algum deles. As características são parecidas: pintura maltratada pelo sol, sujeira acumulada, pneus murchos... O aspecto triste acentua o mistério: por que alguém abandona dessa forma um dos bens mais cultuados pelos brasileiros?
Com a legislação atual, resolver o problema não é fácil. O Código de Trânsito Brasileiro (CTB) nada prevê a respeito (a não ser que o automóvel estiver estacionado em local proibido), e cabe aos municípios tratar desses "entulhos de metal" de acordo com suas respectivas leis de limpeza urbana.
Em 2013, o deputado federal Oswaldo Reis (PMDB-TO) apresentou projeto de lei que transforma o abandono em infração gravíssima no CTB, com aplicação de multa e apreensão do veículo.
A proposta ainda está em tramitação e, com a aproximação das eleições, fica difícil imaginar que seja votada em 2014. Enquanto isso, São Paulo usa suas próprias leis para lidar com a questão. Veja como funciona: LONGA ESPERA
Há uma diferença entre a letra da lei e o que ocorre na prática com os carros abandonados. Em vez de cinco dias, um automóvel desses costuma ficar meses parado até ser removido, o que traz outros problemas: a carcaça pode virar esconderijo para assaltantes e até foco de doenças como dengue (a água da chuva acumulada vira criadouro do mosquito) e tétano (se houver contato humano com partes enferrujadas).
Não dá para culpar só o poder público por essa morosidade: a omissão da população contribui para a permanência desses esqueletos sobre rodas em nossas vias. "Os órgãos competentes precisam ter conhecimento da existência desses carros", ressalta Martinez. Muitas vezes, porém, o carro pertence a um morador da região e, com receio de prejudicar um conhecido, os vizinhos ficam quietos.
UOL Carros saiu com essa impressão após um passeio pela Chácara Santo Antônio, bairro da zona sul paulistana. Trata-se de uma das regiões com maior incidência de abandono de veículos na cidade, e se engana quem imagina que só modelos muito antigos são renegados. Em nossa visita, encontramos dois Volkswagen Polo sedã, um do início e outro da metade dos anos 2000; um Peugeot 206 também de meados da década passada; e um Fiat Palio do final dos anos 1990. O segundo Polo estava estacionado em frente a um edifício da rua Américo Brasiliense. De acordo com o porteiro, o exemplar pertence a um dos moradores. "Ele diz que ficou meio apertado [de dinheiro], sem condições de arrumar, então acabou deixando aí. Já teve gente, inclusive aqui do prédio, querendo comprar, mas ele não mostrou interesse em vender", conta.
Morador daquela região, o jornalista Marcos Rozen criou em 2008 um blog só para tratar do tema, que hoje se tornou uma seção dentro de outro endereço sobre o universo das quatro rodas, o "Carro Cultura". "Comecei a fotografá-los por curiosidade e, para minha surpresa, descobri que outras pessoas também se interessavam pelo tema. Elas passaram a fotografar os carros de seus bairros/cidades e enviar para o blog", comenta.

Entusiasta de automóveis, Rozen defendeu o estímulo a um "processo de recuperação" dos veículos, algo extremamente raro de acontecer -- muitos donos até têm a chance de vender seus abandonados, mas recusam porque teriam de arcar com as dívidas antes de consumar a venda.

Admirador de antigos, o hoje proprietário de um bar na zona sul localizou o dono e fez uma oferta pelo jipinho. "No fim, ele resolveu me doar, e eu só tive que pagar R$ 200 para transferir ao meu nome."
Claro, os gastos não pararam nisso. Na época, Pessoa pagou R$ 3.000 para reparar o Gurgel e, neste ano, está investindo mais R$ 10.000 em outra restauração. E não se arrepende de nenhum centavo gasto. "Ele está ficando lindo. Só isso já vale a pena", garante.
DISQUE-ABANDONADO
Tem um carro abandonado em sua rua? Avise as autoridades competentes pelo telefone 156, pelo site da Prefeitura de São Paulo ou direto na praça de atendimento de sua subprefeitura.
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