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Saiba como ter um carrão de luxo por R$ 25 mil, preço de Palio Fire

Alfa Romeo 1999 de Oreste Laércio Junior, "completinho", está à venda por R$ 24.990; Fiat Palio Fire 2015 "peladinho", o zero quilômetro mais barato do país, sai por R$ 24.730. Qual vale mais a pena? - Arte UOL Carros
Alfa Romeo 1999 de Oreste Laércio Junior, "completinho", está à venda por R$ 24.990; Fiat Palio Fire 2015 "peladinho", o zero quilômetro mais barato do país, sai por R$ 24.730. Qual vale mais a pena? Imagem: Arte UOL Carros

Leonardo Felix

Colaboração para o UOL, em São Paulo (SP)

19/06/2014 19h14Atualizada em 19/06/2014 19h23

O carro zero quilômetro mais barato do Brasil atualmente é o Palio Fire. Por um pacote que não inclui nada além de airbags frontais e freios com ABS (agora obrigatórios) e que mais parece uma máquina do tempo que nos leva ao fim dos anos 1990, o compacto de entrada da Fiat custa pelo menos R$ 24.730 para sair da loja.

Nas reportagens de UOL Carros, é (muito) comum ver comentários de leitores indignados com os preços praticados pelas montadoras no país, e uma solução frequentemente apresentada é: vamos comprar carros usados. Segundo esse raciocínio, pelo preço desse mesmo Palio Fire é possível achar um seminovo em bom estado e mais bem equipado -- o que é verdade.

Mas dá para ir além disso e buscar um usado mais "idoso", só que recheado de itens de conforto e segurança, e ainda por cima oriundo de uma grife automotiva. UOL Carros pesquisou ofertas de veículos em classificados online e comprovou que, com até R$ 25 mil no bolso, é possível comprar um modelo de marcas como Alfa Romeo, Audi, BMW, Jeep, Land Rover, Mercedes-Benz e Subaru, recheado de equipamentos e em bom estado -- embora com vários anos de uso (a maioria deles é dos já citados anos 1990). 

Alfa Romeo 156 1999 interior - Arquivo pessoal  - Arquivo pessoal
Airbags, ar-condicionado, bancos em couro, direção hidráulica, teto solar, retrovisores, travas e vidros elétricos fazem parte do pacote de conforto do Alfa 156 de Oreste Laércio Junior
Imagem: Arquivo pessoal
Os itens de série de quase todos eles incluem airbags, alarme, ar-condicionado, direção assistida, câmbio automático, volante com regulagem de altura, computador de bordo, travas e vidros elétricos, bancos em couro com regulagem elétrica e até aquecimento, sistema de áudio com rádio, CD e (alguns) MP3, controle automático de velocidade, piloto automático, alerta de descanso, freios ABS, retrovisores elétricos, rodas de liga leve e, em alguns casos, até faróis de xenônio e teto solar.

É possível, então, comprar um "carrão" de luxo, completinho, gastando o equivalente a um Palio Fire pelado? Sim, mas é preciso estar ciente dos cuidados que a aquisição de um veículo desses requer. "Fazer esse tipo de negócio significa entrar em outro universo. Se a pessoa cair de paraquedista, sem saber o que está adquirindo, pode acabar se sabotando", alerta o consultor automotivo Paulo Garbossa.

Veículos como esses já estão perto das duas décadas de vida, e não são de marcas "comuns", generalistas. Portanto, podem dar mais trabalho e gerar mais custos na hora da manutenção. É justamente por isso que desvalorizam tão mais rápido.

Para evitar dissabores, há algumas dicas básicas:

NÃO TER PRESSA -- Achar um bom usado de luxo por R$ 25 mil é exercício de paciência. Empolgar-se com a primeira oferta dos classificados pode terminar em dor de cabeça e, por isso, recomenda-se pesquisar bem e comparar vários anúncios até encontrar o negócio certo.

PESQUISAR A PROCEDÊNCIA -- Saber o histórico do veículo é fundamental. Exija do vendedor as notas fiscais e o livreto com os registros de todas as manutenções. Procure também se certificar de que o carro está equipado com peças originais.

TER SUPORTE DA MARCA -- Alguns usados de luxo pertencem a fabricantes que não operam mais no Brasil, ou foram importados de forma independente. Isso traz dificuldades na hora de achar peças de reposição. Certifique-se de que a montadora oferece algum tipo de assistência no país, de preferência nas proximidades -- ou se há um bom número de oficinas independentes especializadas na marca.

VERIFICAR O SEGURO -- Temendo os custos de reparo, muitas seguradoras se recusam a trabalhar com importados mais antigos. Não feche negócio sem antes verificar se o carro desejado (e não apenas o modelo) é aceito por essas empresas.

USAR COM MODERAÇÃO -- Por mais bem-cuidado, um carro de luxo como esses é como um "senhor de idade". Usá-lo no dia-a-dia como se fosse um zero-quilômetro popular não é indicado. "Eles são para lazer e viagens a passeio", pondera Garbossa.

Mas há vantagens do ponto de vista financeiro. "Um importado com mais de seis ou sete anos deixa de desvalorizar tão rapidamente. Além disso, muitos desses modelos já estão perto de ficar isentos de IPVA [só cobrado de veículos com até 20 anos]", explica o consultor. 

O QUE DIZEM OS DONOS
Procurados por UOL Carros, alguns donos desses carrões usados contaram o que fazem para conservá-los. "Conheço um mecânico que só mexe com importados e consegue as peças por um bom preço", conta o corretor imobiliário Fábio Xavier, de São Paulo (SP), dono de um Audi A6 1995, comprado há quatro anos e que tem 75 mil km. "Comprei pelo custo-benefício e pela baixa quilometragem, e não me arrependo. Se você cuidar direitinho e não deixar motor ou câmbio estragarem, não vai gastar tanto assim para manter".

Audi A6 1995 exterior e motor - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Para deixar seu A6 em bom estado na hora da venda, Guilherme Schneider gastou R$ 15 mil trocando partes do motor, suspensão, câmbio, tapeçaria, ar-condicionado e pintura. Agora pede R$ 24.950
Imagem: Arquivo pessoal
Já o músico Oreste Laércio Junior, de Campinas (SP), proprietário de um Alfa Romeo 156 1999, aproveita a mecânica similar à de modelos da Fiat, grupo do qual a marca italiana faz parte, para amenizar os gastos. "Muitas peças dele são compatíveis com as de populares da Fiat vendidos aqui", disse o músico, que calcula ter gastado aproximadamente R$ 6 mil com seu 156 desde que o adquiriu, em 2009.

Às vezes, é inevitável ter de "abrir a carteira" para ajustar o importado. Foi o que fez o engenheiro Guilherme Schneider, também de São Paulo: investiu R$ 15 mil para dar vida nova a motor (trocou correia dentada, polias, correia do alternador, bomba de água, coxins, coifas e filtros de ar e óleo), suspensões, caixa de câmbio, bateria, ar-condicionado, tapeçaria e pintura (polimento e cristalização) de seu Audi A4 1998. Tudo para colocá-lo à venda por R$ 24.950.

"Com os R$ 20 mil que paguei nele, mais os gastos com manutenção, vou perder R$ 10 mil na venda. Mas não ligo. Se eu tivesse comprado um carro de luxo novo, iria pagar R$ 200 mil e perder R$ 60 mil logo de cara. Eu tenho em mãos um carro confiável e com todo o conforto, e paguei até barato por isso", argumenta o engenheiro -- que é o terceiro dono do veículo e o tem em sua garagem há dois anos.

Outro detalhe é o consumo de combustível. Automóveis desse tipo geralmente possuem motores de 2,5 litros ou maiores, quase sempre beberrões. "O meu faz uma média de 3,8 km/l na cidade e 7 km/l na estrada", relata Ricardo Cheng, vendedor de São Paulo que está encarregado de achar comprador para um Land Rover Discovery 1997, dotado de um imenso propulsor V8 3.9 a gasolina.

Em comum, todos afirmam que, se receberem os cuidados adequados, esses carrões jamais vão deixar de agradar e corresponder às expectativas de seus donos. Mas não sem um preço: se um usado de luxo pode custar o mesmo que um Palio Fire na hora da compra, mantê-lo exige um tratamento diferenciado, que um popular jamais pediria.

PS -- Os carros citados na reportagem estavam à venda quando de sua apuração, mas podem ter sido vendidos antes da publicação do texto.