Nissan New March 1.6 SL contrasta bom pacote com vícios do velho March
O Nissan New March amadureceu, mas não revolucionou. Esta foi a constatação de UOL Carros após testar por 370 quilômetros a nova versão de topo do compacto, a 1.6 SL, que recebeu um facelift da marca japonesa no final de maio. Nesse sentido, aliás, o uso do termo "New" (novo, em inglês) no nome do carro pode ser interpretado como um exagero marqueteiro (não exclusivo da Nissan, diga-se): não houve troca de geração e, justamente por isso, muita coisa continua exatamente como antes.
Vendida pelo preço sugerido de R$ 42.990, a versão SL é o que o New March nacional tem a oferecer de melhor em desempenho e conforto, mas também mantém alguns velhos vícios do March mexicano -- que continuará a ser vendido no Brasil, apenas com motorização 1.0, para fisgar frotistas e ajudar a Nissan a cumprir a meta de emplacar 5 mil unidades do carrinho por ano até 2016.
Um de seus maiores trunfos é ser talvez o compacto mais completo do país -- é o único a ter rodas com aro de 16 polegadas e câmera de ré --, cobrando para isso um preço bastante competitivo em relação a rivais diretos como Chevrolet Onix 1.4 LTZ (R$ 48.296), Fiat Palio Essence 1.6 (R$ 41.170), Hyundai HB20 1.6 Premium M/T (R$ 49.025), Toyota Etios XLS 1.5 (R$ 45.090) e Volkswagen Gol Highline 1.6 (R$ 47.460).
O motor bicombustível de 1,6 litro, que manteve o mesmo projeto do antecessor, porém recalibrado e agora montado junto com o carrinho na fábrica de Resende (RJ), constitui outro ponto forte, pois oferece fôlego de sobra para a proposta do modelo, com 111 cavalos de potência (a 5.600 rpm) e 15,1 kgfm (aos 4.000 giros), seja com etanol ou gasolina.
Entretanto, o pacote deixa transparecer algumas limitações em detalhes como a falta de vidros elétricos com acionamento só por um toque, de um volante com ajuste de profundidade (só dá para regular a altura) e de um sensor de estacionamento (que formaria ótima dupla com a câmera de ré, mas só existe como opcional; sem ele, a câmera acaba sendo menos útil do que parece, até porque as barras gráficas de distância são fixas, o que não ajuda tanto na hora de manobrar).
Mas não deixa de ser um carro bem recheado: além dos itens já citados, ele vem com direção elétrica progressiva, acelerador eletrônico, ar-condicionado digital automático, vidros e travas elétricas (com acionamento remoto pela chave canivete, inclusive do porta-malas, que tem iluminação própria), alarme perimétrico, bloqueio de ignição, retrovisores externos com regulagem elétrica, limpador e desembaçador do vidro traseiro, sistema de áudio com quatro alto-falantes, entrada auxiliar para MP3/iPod e USB, CD Player, conexão Bluetooth para celular com sincronização de agenda, comandos de voz e streaming para arquivos de música e sistema multimídia com tela de 5,8 polegadas, com navegador GPS. Airbag frontal duplo e freios com sistema antitravamento (ABS) e assistência de frenagem (BAS), itens obrigatórios de segurança, completam o pacote.
PINTA DE MALVADO
Está claro que a mudança no visual do New March é uma reestilização no sentido mais puro da palavra, uma tentativa de tirar do compacto aquele jeito de "bichinho fofo de mangá" e dar a ele uma cara mais malvada, que imponha respeito em meio ao trânsito. Os faróis dianteiros espichados e com formas que lembram as de um bumerangue e a grade ampliada com detalhes cromados ajudam o carro a ganhar corpo, ainda que virtualmente -- nas medidas reais, ele só aumentou 4,7 centímetros no comprimento e 1 cm na largura.
A saliência lateral na altura da cintura e a nova composição da traseira -- parachoque mais bojudo, lanternas saltadas e linhas menos arredondadas -- também colaboram para a sensação de um modelo robusto e agressivo. Por dentro, o acabamento em plástico (algumas partes simulando alumínio) e cromado é harmonioso e sóbrio, sem excessos nos tons de prata.
E convenhamos: nos últimos tempos, quase todo mundo quer parecer maior do que realmente é em meio ao tráfego. Basta olhar para Kia Picanto, Chevrolet Onix, Hyundai HB20, Renault Clio, Volkswagen Gol e até para o futuro Ford Ka: todos passaram a fazer cara de mau. Do lado "bonzinho" sobraram apenas o novato Volkswagen up!, o Fiat Palio, o agora veterano Fiat Uno (que também está perto de passar por facelift) e o chinês Chery QQ. É necessário perguntar qual grupo impõe mais respeito?
Por não se tratar de uma troca de geração, até que os avanços do New March brasileiro são significativos. UOL Carros rodou com a versão SL por 270 quilômetros na estrada e mais 100 quilômetros na cidade e aprovou seu comportamento, acabamento e até conforto interno, porém com algumas ressalvas.
No uso urbano, as suspensões parecem ter sido melhoradas, deixando o compacto menos solto em curvas fechadas e mais amigável em mudanças de direção. Em rodovias, o conjunto faz boa companhia com as rodas de 16 polegadas, transferindo sensação de segurança e estabilidade ao motorista, mesmo acima dos 100 km/h.
O motor 1.6 continua a mover o carrinho com facilidade em qualquer situação, mesmo em se tratando da versão mais pesada (982 quilos, o que proporciona uma relação peso/potência de 8,8 kg/cv). Por não fazer esforço, contribui para um consumo que não chega a ser espetacular, mas é bom: no teste de UOL Carros e sempre com uso de etanol, ficou acima dos 7 km/l em uso urbano -- encarando o trânsito pesado de São Paulo -- e na média de 9,7 km/l na estrada -- com ar-condicionado sempre ligado e um bom volume de bagagem no porta-malas.
O mesmo pode ser dito sobre o câmbio, que segue impreciso nas marchas mais baixas e também na ré (tentar engatá-la de primeira é exercício só para os bons). Nesse prisma, uma atualização da caixa ou mesmo a opção de uma versão automatizada/automática são fundamentais para que o carrinho se fundamente como uma das forças do segmento.
Passar quatro horas seguidas dirigindo o New March na estrada não foi nenhum sacrifício para o corpo: os assentos em tecido são confortáveis e relativamente ergonômicos, embora deixem parte das coxas "sobrando" -- tática cada vez mais usada pelas montadoras para aumentar a sensação de espaço para pernas e pés.
A posição do volante multifuncional (exclusivo para o mercado brasileiro e que acerta em oferecer só as funções realmente necessárias, como mexer no volume do som, mudar e selecionar itens da tela central e fazer ligações usando a conexão Bluetooth com o celular) em relação aos braços é levemente torta, mas não chega a comprometer, e a direção elétrica progressiva se mostrou eficiente, pois corta aquela sensação de carro leve demais em velocidades mais altas.
Ponto positivo também para o ar-condicionado digital automático, que mantém a temperatura escolhida pelo condutor e é muito bem-vindo para quem se vê trancado por horas a fio no trânsito, sujeito a variações climáticas. Não há nada com a mesma qualidade na concorrência.
Já o novo sistema multimídia tem prós e contras: permite integrar celular, sistema de som e navegador em uma tela central de fácil uso (por meio de tela de toque ou botão de rolagem circular), tudo para impedir, em teoria, que o condutor tire os olhos do trânsito e as mãos da direção. Ao mesmo tempo, não deixa que se faça uma chamada utilizando o viva-voz de forma simples (pelo menos não de um aparelho com Sistema Operacional Android).
Também prevê uma função chamada NissanConnect -- usada pela primeira vez no Brasil --, com acesso a serviços de pesquisa do Google e Facebook. Será que isso é realmente interessante ou uma forma desnecessária de distração?
No cômputo geral, dá para dizer que o New March 1.6 SL é um bom carro, mas a Nissan precisa seguir trabalhando nesses nós górdios se quiser oferecer um produto que seja não "uma", mas sim "a" referência em seu segmento. Preço e estilo para isso ele já tem.
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