Análise: chegada do up! faz de Fiat vs. Volks um dos confrontos do ano
Estamos em ano de Copa do Mundo e eleições, mas as grandes disputas de 2014 no Brasil não se darão apenas nos gramados e nas urnas. Ruas, avenidas e estradas do país também viverão confrontos decisivos.
Por enquanto, o "craque do ano" é o novo carro da Volkswagen, o up!, lançado oficialmente na semana passada. Primeiro modelo nacional 100% inédito da Volks desde o Fox (2003), o up! é a grande aposta da marca alemã para retomar a liderança de vendas no país, perdida em 2001 para a Fiat e jamais recuperada.
No primeiro mês cheio de 2014, a Fiat deteve 21,03% das vendas de automóveis e utilitários leves no país. A Volks ficou com o segundo lugar, com 18,42%, acossada pela General Motors e seus 17,98%. A diferença entre líder e vice foi de 2,6 ponto percentual, 0,1 ponto menor que o ano cheio de 2013.
(Ser líder não significa ser melhor ou ter maior lucro, mas quem anunciou que quer "dominar o mundo" em 2018 foi a própria Volks -- e para isso é preciso "dominar" também o Brasil.)
VOLKSWAGEN NO ATAQUE
Com projeto moderno, design cativante e proposta "fun", o up! tem como ferida aberta sua tabela de preços: é verdade que começa em "baratos" R$ 26.900, mas praticamente nu e com apenas duas portas. Até mesmo uma versão intermediária como a move up! precisa de vários opcionais para ficar adequada ao dia-a-dia urbano brasileiro -- e aí o cheque passa de R$ 36 mil.
UP! QUER SER DIFERENTE
Só que preço alto não é exclusividade do up! em nosso mercado, e a Volks não esconde sua meta ambiciosa: emplacar cerca de 10 mil unidades dele por mês, e sem que o Gol perca a liderança nas vendas (com ele há 27 anos). Em tese, o Fox poderia ser entregue à fogueira, perdendo parte dos compradores -- mas há quem aposte que o hatch "altinho" receberá um banho de loja e ficará definitivamente acima do Gol na gama da marca alemã. O Polo sairia de linha. Tudo isso em 2014.
FIAT CONTUNDIDA
O momento é propício para a Volks, mas a Fiat não pretende entregar o osso sem dar ao menos uns latidos. Sem produtos novos para lançar este ano (tudo depende da fábrica de Goiana, PE, prevista para 2015), a marca italiana deve dar um tapa no visual -- e talvez na parte mecânica -- do Uno, seu carro mais próximo do up! quanto a público-alvo. Além do facelift, não seria surpresa se as versões com motor 1.4 ganhassem câmbio automatizado (o up! estreou sem essa opção).
Simpático, alegre, moderninho, mas já com quatro anos de vida, Fiat Uno pode receber alterações visuais ainda este ano e opção de câmbio automatizado para o motor 1.4
Em tese, o Palio -- um ano mais novo que o Uno -- ainda não precisaria de uma "sacudida", mas suas vendas vêm decepcionando: em janeiro passado ele foi apenas o quarto mais emplacado, perdendo do Ford New Fiesta. A ver.
FORD NA SÉRIE A
UOL Carros já vira o up! numa prévia para sites automotivos e tinha passagem marcada para Gramado (RS), onde aconteceu o lançamento nacional do carrinho, quando chegou convite para a apresentação estática do Ka três-volumes, um dia antes da viagem à serra gaúcha. Não foi por acaso: as fabricantes agendam seus eventos numa espécie de acordo de cavalheiros mediado pela Anfavea, evitando coincidência de datas. A Ford sabia que em 4 e 5 de fevereiro a Volks mostraria seu carro mais importante; e então marcou sua première para o dia 3...
KA SEDAN É MOSTRADO AINDA COMO CONCEITO
O inédito Ka sedã não vai bater de frente com o up!, mas será linha auxiliar do hatch. Este terá como trunfo sua semelhança com o New Fiesta, um degrau acima na gama da Ford (mas o tamanho de ambos é semelhante). Dotado de motor 1.0 de três cilindros (o Sigma 1.5 será priorizado no sedã) e sem opção do câmbio automatizado Powershift, pode oferecer preços mais interessantes que os do rival da Volks. O que se espera é uma versão básica começando pouco abaixo dos R$ 30 mil, e uma top perto dos R$ 37 mil (todas de quatro portas).
A Ford está muito atrás de Fiat, VW e General Motors no share de vendas no Brasil, mas o novo Ka certamente vai acirrar a briga pelo comprador de compactos -- e isso, além de ajudar a própria Ford, atrapalharia tanto Volks (no caminho para o topo) quanto Fiat (na briga para ficar por lá).
CHEVROLET DE ESCANTEIO
Ao menos neste ano, a marca da GM parece conformada em assistir ao jogo da arquibancada. Seu modelo compacto de entrada, o Celta, hoje totalmente ultrapassado, escorrega nas vendas; o Agile melhorou, mas continua um carro quase sem qualidades; e o Onix é caro e já tem Gol, Palio e Renault Sandero para encarar (lembrando que, no Brasil, o que importa -- cada vez mais -- é a segmentação por preço, não por tamanho). O resultado disso é mais espaço na arena para a luta entre Volks e Fiat.
Praticamente o mesmo carro há 13 anos, o Chevrolet Celta vê suas vendas caírem, o que aumenta o trabalho do Onix (já cheio de rivais); o Agile, reestilizado, não ajuda muito
RENAULT E NISSAN, RESERVAS DE LUXO
A parte francesa da aliança Renault-Nissan lança este ano a segunda geração do Sandero, em linha com o carro europeu da Dacia (Romênia). É esse hatch, e não o Clio, que conta para a análise do mercado. Trata-se do único carro do top 10 que não é feito pelas chamadas "quatro grandes", e a reformulação deve bombar seus emplacamentos (quanto mais cedo no ano, mais influenciará a briga pelo topo). Pode contar a seu favor um reajuste apenas suave nos preços da gama.
O caso da fabricante japonesa é peculiar. A Nissan quer, em 2015, deter 5% de share no mercado automotivo brasileiro (hoje, são 2,1%). Como traz muito carro do México, andou patinando nas vendas -- mas a nova fábrica em Resende (RJ), prevista para entrar em operação ainda este ano e com alta capacidade de produção, deve mudar esse cenário. Para se ter uma ideia, o March (lançado em 2011) chegou a passar dos 4.000 emplacamentos mensais. Depois do estabelecimento de cotas de importação, o número desabou.
Fábrica da Nissan no RJ inicia produção este ano e é promessa de alto volume (ao menos na oferta) para o March nacional, que deve ter a mesma cara do europeu (foto) e mexicano
Mas certamente vai se reerguer quando nacionalizado (durante alguns meses de 2014, será o único modelo Nissan feito em Resende). Não só pela desvinculação da cota de importados: o March nacional virá diferente, mais completo e alinhado visualmente com o do México e da Europa -- e ainda contará com o reforço de uma versão "tipo Gol G4/Palio Fire". Ela será igualzinha ao March atual e ainda fabricada em terras mexicanas, para o mercado do Brasil e alguns outros países (e será muito mais barata que o novo).
Como quem não quer "nada" (quer "só" 5% das vendas e deixar Toyota e Honda para trás), a Nissan e seu novo March podem ser players decisivos numa eventual (e provável) reviravolta no mercado automotivo. Basta ele atrair mais compradores de Uno/Palio que de up!/Gol/Fox.
Conclusão: Quem acha que as emoções de 2014 resumem-se a duelos manjados, como Brasil x Argentina (na Copa do Mundo) e PT x PSDB (nas urnas), que fique de olho nos relatórios de Fenabrave/Renavam.
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