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Copa, herói de HQ, videogame: tudo é motivo para séries especiais de carros

Leonardo Felix

Colaboração para o UOL, em São Paulo (SP)

03/02/2014 16h12Atualizada em 14/12/2015 19h19

Advantage, Effect, Freeride, Competition, Rock You, XBox One, College, Sublime, Italia, Interlagos, Blackmotion, Wolverine, Roland Garros, Seleção, Rock and Rio. Essa lista parece um amontoado de termos colhidos ao acaso, mas eles têm algo em comum: são nomes de séries especiais de carros lançadas somente nos últimos dois anos no Brasil.

Criar uma série especial -- que, como o nome já diz, é uma versão peculiar de um determinado modelo, com itens que o diferenciam das demais versões e que geralmente tem seu período de produção e/ou número de unidades limitados -- não chega a ser algo novo: nos anos 1970 e 1980 tivemos no Brasil, entre outros, Chevette Jeans, Fusca Série Prata... Recentemente, a tática tem sido cada vez mais adotada pelas montadoras.

SÉRIES ESPECIAIS ATUAIS

  • Chevrolet

    Celta Advantage: R$ 31.290
    Cobalt Advantage: R$ 42.290
    Spin Advantage: R$ 47.890
    Agile Effect: R$ 44.090
    Sonic Effect: R$ 49.390
    Tracker Freeride: R$75.190

  • Citroën

    C3 XBox One: R$ 49.990
    C4 Competition: R$ 58.760

  • Fiat

    Grazie Mille: R$ 31.200
    Uno College: R$ 33.901
    Grand Siena Sublime: R$46.360
    Punto Blackmotion: R$ 50.550
    Idea Sublime: R$ 52.150
    Linea Sublime: R$ 55.840
    Bravo Wolverine: R$ 57.640

  • Peugeot

    308 THP Roland Garros: R$ 76.690
    3008 Roland Garros: R$ 98.990
    308 CC Roland Garros: R$ 131.990

  • Volkswagen

    Gol Seleção: R$ 35.890
    Fox Seleção: R$36.890
    Voyage Seleção: R$ 37.890
    Kombi Last Edition: R$ 85.000

    A menção a grandes eventos é uma das vertentes das séries especiais -- como é o caso da Seleção, da Volkswagen, disponível para os modelos Gol, Voyage e Fox (a marca alemã é patrocinadora do escrete nacional).

    Mas há outras razões para a criação dessas versões diferenciadas. "Pode ser para avalancar as vendas de veículos que possuem altos estoques", afirma Milad Kalume Neto, gerente de desenvolvimento de negócios da Jato, consultoria para o setor automotivo. "Isso pode ser pelo ano-modelo anterior ou por aquele carro não ser bom de venda, e neste caso os novos equipamentos serviriam como um incentivo", completa.

    O Citroën C4 é um bom exemplo. Defasado em relação ao modelo europeu e ultrapassado pelo sedã C4 Lounge, o hatch foi oferecido em 2013 na série Rock You (com sistema de som exclusivo) e, agora, na Competition (com rodas especiais e detalhes estéticos esportivos).

    Especialistas apontam também para a chance de aproveitar estoques de peças já compradas, e que seriam usadas em versões destinadas à exportação. "Isso é comum quando algo importante acontece em mercados importadores, como ocorreu recentemente com a Argentina", diz  Gerardo San Román, presidente da Jato.

    Levantamento feito por UOL Carros chegou a pelo menos 22 séries especiais sendo vendidas no Brasil neste início de 2014. Vale pegar carona com heróis juvenis, como o Fiat Bravo Wolverine, e até com videogames, caso do Citroën C3 XBox One.

    PRÓS E CONTRAS
    Mas, afinal, comprar um carro de uma série especial vale a pena? Há vantagens e desvantagens em fazer esta opção.

    O cliente pode sair ganhando se o pacote de equipamentos agregado à série especial sair mais barato que se os mesmo itens fossem reunidos no mesmo modelo, mas sem a assinatura diferenciada. A série Seleção da Volks é um desses casos: lançada no início de janeiro e -- obviamente -- alusiva à Copa do Mundo no Brasil, ela oferece um Gol com motor 1.0, toca-CD com MP3, entradas SD e USB, vidros, retrovisores e trava elétricos, direção hidráulica, alarme, chave canivete, banco com ajuste de altura e computador de bordo, por R$ 35.890. Um Gol 1.0 básico, de quatro portas, já parte de R$ 32.890.

    A VISÃO DAS MONTADORAS

    • Divulgação

      No Brasil, a Fiat é uma das marcas que mais trabalha com séries especiais -- particularmente num momento de entressafra de modelos novos, como o que vive agora. A mais recente é o Idea Sublime, que deixa o monovolume mais completo e com roupagem elegante.

      "É uma boa solução para dar um refresco à linha, fazendo ressurgir o interesse pelo modelo e aumentando as vendas", explica o supervisor de comunicação Arthur Mendes.

      Segundo ele, as fabricantes realizam estudos de mercado, posicionamento do carro, da concorrência e dos consumidores antes de definir preço, estilo e alcance de uma série especial (inclusive se o número de unidades será limitado).

      Outra estratégia é lançar séries-conceito, como a Monte Bianco, apresentada no Salão do Automóvel de 2008. Elas podem jamais entrar em produção, mas servem para avaliar a aceitação do público e a viabilidade comercial.

    É preciso estar atento a alguns pontos, porém. O principal é a desvalorização, que pode ser mais acelerada que a de versões comuns.

    Um exemplo é o Stilo Schumacher, série criada pela Fiat para comemorar o heptacampeonato do piloto alemão, em 2004 (à época ele corria pela Ferrari, que pertence à montadora italiana), e que acabou estendida até 2006. Com produção sempre limitada a 500 unidades de cada cor (amarelo ou vermelho) por ano, o veículo foi sucesso de vendas e não saía de uma concessionária por menos de R$ 70.000, quase R$ 13.000 a mais que a versão 1.8 básica. Hoje, de acordo com a tabela Fipe, a diferença caiu para menos de R$ 5.000 -- ruim para quem tentar revender, atraente para quem comprar o Stilo Schumacher usado.  

    Também pode ser mais difícil repor alguma peça ou parte exclusiva de uma série especial -- já que, obviamente, ela não existe nas versões regulares do modelo.

    Para as montadoras, no entanto, os prós acabam superando os contras no saldo final. "A aceitação das séries é muito boa e o número alto de opcionais até facilita na hora da revenda", afirma Arthur Mendes, supervisor de comunicação da Fiat. "A série Blackmotion, por exemplo, foi um sucesso com Stilo, que conseguimos repetir agora com o Punto". Segundo Mendes, a expectativa era um aumento de 10% nas vendas do hatch, mas elas cresceram até 25%.

    "Vendemos um carro com desconto de 30% a 40% no pacote de opcionais, e ainda com aquele selo de exclusividade [o nome da série]. É um bom negócio para todos, e se houver planejamento é muito difícil dar errado", comenta Mendes.

    Uma série especial de muito sucesso pode até mesmo virar versão definitiva (exemplo: Ford EcoSport Freestyle). O mesmo deve acontecer com o Punto Blackmotion, diz o executivo da Fiat.

    • Murilo Góes/UOL

      Criado em alusão à Copa do Mundo do Brasil, Gol Seleção 2014 é um bom exemplo das vantagens que uma série especial pode proporcionar: cheio de itens opcionais em outras versões, modelo custa R$ 3 mil a mais que um Gol 1.0 de pintura lisa

    • Divulgação

      O Stilo Schumacher é exemplo de um dos pontos mais negativos de uma série especial: quando foi lançada, em 2004, custava quase R$ 13 mil a mais do que a versão básica; hoje, dois Stilo do mesmo ano têm diferença de menos de R$ 5 mil

    Não há uma regra a respeito de uma série especial virar mico ou ouro depois de sair de linha. UOL Carros localizou em sites de classificados a oferta de um Fusca Série Ouro, que marcou o encerramento definitivo da produção do modelo em 1996. A pedida: quase R$ 90.000 (o carro é único dono, é mantido sobre cavaletes e rodou pouco mais de 100 km).

    PARA DIZER ADEUS

    • Divulgação

      Séries especiais também servem para marcar a despedida de carros importantes. É o caso do Vectra Collection, que marcou o fim do sedã da Chevrolet em 2011. A edição contou com 2 mil unidades numeradas, vendidas a R$ 65.400.

    • Divulgação

      No fim do ano passado, a Volkswagen Kombi, veículo que estava havia mais tempo em produção no país, também recebeu homenagem com o lançamento da Last Edition. Limitada a 600 unidades, foi ampliada a 1.200 e teve preço de R$ 85.000.

    • Divulgação

      Assim como a perua da Volks, o Fiat Mille parou de ser produzido em 2013, por conta da nova legislação de segurança dos automóveis. Para aposentar o carrinho, a Fiat lançou a série Grazie Mille, por R$ 31.200 e limitada a 2 mil unidades.

    Os mesmos sites trazem ofertas do pioneiro Gol Copa, que faz referência ao torneio de 1982, na Espanha, por cerca de R$ 5.000. Além da idade, pesou no valor baixo estarem malconservadas.

    "O mais comum é que as séries especiais não tragam o status desejado e caiam no esquecimento", diz Kalume Neto, da Jato. Para ele, diferenciais apenas decorativos (como faixas na carroceria) e pacotes de equipamentos pouco variados em relação ao normal do segmento são indicadores certos de irrelevância futura.

    O engenheiro Wellington Clayton da Silva, de Santo André (SP), é dono de um Gol Copa ano 2006 (quando o torneio foi disputado na Alemanha). Ele adquiriu o carro já usado e acredita ter feito um bom negócio. "Eu compraria outro sem problemas", garante. O carro traz, entre outros itens, banco do motorista com regulagem de altura, faróis de neblina, lanterna traseira fumê e vidros escurecidos. 

    O proprietário de um Fiat Stilo Schumacher também de 2006, que pediu para não ter o nome publicado, afirma que o desejo de ter um carro com visual mais esportivo e exclusivo o levou a optar pela série especial.

    O problema é que, como o carro "chama a atenção por onde passa", cresceu o temor de ser assaltado. Por isso, seu Stilo -- que saiu de linha em 2010 -- está à venda por cerca de R$ 28 mil.

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