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"Bons carros nascem de dentro para fora", diz criador de EcoSport e Mustang

Eugênio Augusto Brito

Do UOL, em Detroit (EUA)

17/01/2014 17h28

  • Eugênio Augusto Brito/UOL

    Kaoud foi chefe da equipe que criou o interior do novo Mustang: "o carro é sua casa".

Um dos maiores sucessos da Ford no Brasil, o EcoSport criou todo um segmento, modificou o comportamento do comprador e, em sua segunda geração, ganhou importância global: criado no Brasil, será vendido não apenas aos emergentes, mas também em pontos cruciais da Europa. A Ford até especula sua entrada no mercado americano -- o suvinho surgiu no telão durante a apresentação da marca na abertura do Salão de Detroit à imprensa.

Outro modelo brasileiro citado, ainda que indiretamente (e por conta do seu inédito motor de três cilindros), foi a nova geração do compacto Ka, que também será global. Por fim, fala-se muito da nova geração do Mustang, seja pelo visual controverso (lindo para alguns, herético para outros), seja pela tecnologia embarcada. O que os três modelos citados têm em comum, além de compartilharem, neste momento, o design Kinetic 2.0? O criador.

Egípcio, 20 anos de Ford, Ehab Kaoud liderou a equipe que criou, no Brasil e a partir da base do Fiesta Rocam, a primeira geração do EcoSport. Agora, mais de dez anos depois e já instalado na matriz da Ford, em Dearborn (nos arredores de Detroit), assumiu a responsabilidade por outro modelo com passaporte brasileiro, o novo Ka. Paralelamente, cuidou do interior da nova geração do Mustang, unindo traços históricos às novas tecnologias.

Como explicar trabalhos tão diferentes? Existe alguma ligação entre eles? "O fato da Ford trabalhar sempre com uma linha de identidade, e uma boa linha, diga-se, facilita a criação", afirma Kaoud. "Observe o Fusion, o EcoSport, o Ka e até mesmo o Mustang agora: cada um tem seu estilo, cada um tem público, porte e uso diferentes, mas a base para todos é a mesma e a Ford conseguiu fazer esta fórmula funcionar".

Ainda que sirva como guia, a chamada identidade visual não é unanimidade e divide não apenas projetistas, mas também o público. Carros com estilo pasteurizado tendem a confundir o comprador e se perdem nos estacionamentos de shopping center e na história. Mas um carro funcional e divertido para o condutor vai agradar e ser bem-sucedido. Como achar o equilíbrio entre as duas fórmulas?

Para Kaoud, não existe uma linha de trabalho ideal e que tudo varia conforme o tempo. Segundo ele, antigamente era normal desenvolver um carro a partir dos esboços Agora, porém, não há mais espaço para isso: "Só aviões são feitos de fora para dentro agora, pois se você não levar a aerodinâmica em consideração eles não saem do chão", brinca. "Um bom carro, porém, é construído de dentro para fora levando todas as necessidades dos ocupantes em consideração".

"Nas grandes cidades como São Paulo e Los Angeles, é normal que você passe muito tempo preso dentro do carro em congestionamentos, então é preciso que sua vida dentro do automóvel seja agradável", aponta o projetista. "Você tem de estar confortável, tem de acessar todas as funções com facilidade, o carro tem de ser ergonômico e intuitivo a ponto de ser uma extensão do seu corpo", concluiu Kaoud.