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Carros de rua agora ensinam Fórmula 1 a poupar combustível

Motor com turbo, cada vez mais usado em carros de rua para dar performance gastando pouco combustível (na imagem, o THP de 1,6 litro de BMW, Mini Peugeot e Citroën), veio das pistas de corrida em 1923 - Murilo Góes/UOL
Motor com turbo, cada vez mais usado em carros de rua para dar performance gastando pouco combustível (na imagem, o THP de 1,6 litro de BMW, Mini Peugeot e Citroën), veio das pistas de corrida em 1923 Imagem: Murilo Góes/UOL

Fernando Calmon

Colunista do UOL

01/03/2013 17h08

O automobilismo de competição sempre teve papel primordial para o desenvolvimento dos carros comuns desde a primeira corrida realizada no mundo, em 1894, entre as cidades francesas de Paris e Rouen. Essa migração de tecnologia aconteceu em praticamente todos os componentes e sistemas, em maior ou menor grau, muitas vezes sofrendo adaptações por razões práticas e/ou de custos.

Os primeiros automóveis, surgidos em 1886, não passavam de carroças ou carruagens que recebiam motor e transmissão. Justamente a necessidade surgida com a competição levou ao desenvolvimento do primeiro chassi específico para automóvel. Daí em diante, a lista de pioneirismos nascidos nas pistas é muito extensa. Desde itens simples, como o primeiro espelho retrovisor (1911) até o turbocompressor nos motores (1923).

Tração nas quatro rodas, por exemplo, surgiu em 1906, e transcorreram 60 anos até o sistema migrar de utilitários pesados para automóveis comuns. Já freios a disco tiveram adoção bem mais rápida, pois surgiram em 1953 e dois anos depois estreavam nas rodas dianteiras de um automóvel topo de linha.

SAIBA MAIS

  • Murilo Góes/UOL

    Freio a disco, onipresente em carros normais atualmente, foi criado para pistas em 1953

A Fórmula 1, expressão máxima de um veículo específico para corridas, também responde por vários avanços, embora sofisticação e alto custo sempre tenham sido obstáculos para transferências. Fibra de carbono, utilizada desde 1975, é aplicada atualmente em carros mais caros, mas já em 1987 apareceu em pequenas partes mecânicas de picapes para aliviar peso.

Os motores atuais herdaram vários de seus desenvolvimentos diretamente dos autódromos. Economia de combustível é exceção, porém as coisas vêm mudando até na F-1. Termina agora em 2013 a era do foco único em potência, embora desde 2008 a categoria utilize a recuperação de energia cinética dos freios (kers, em inglês). O objetivo não foi apenas potência extra, pois o sistema permite pequena economia de gasolina.

A partir de 2014, os motores sofrerão o processo de downsizing, ou seja, diminuição de tamanho e adoção de turbocompressor, como já acontece nos propulsores de veículos comuns. O V8 de 2,4 litros, 700 cavalos a 18.000 rpm, consumo em torno de 1,6 km/l, passará a ser um V6 de 1,6 litro, limitado a 550 cv/15.000 rpm. Esse novo motor utilizará pela primeira vez injeção direta de combustível, mas com nada menos de 500 bares de pressão contra 200 bares dos automóveis de rua.

  • Divulgação

    Agora, F-1 herda busca por economia de combustível das ruas: em 2014, carros de corrida vão usar motor de 1,6 litro com eletroturbo (foto) para manter 700 cv com consumo 35% menor

Outra novidade é um motor elétrico acoplado ao turbocompressor (foto) que, além de acrescentar 150 cv, elimina qualquer atraso de resposta na aceleração (o turbo lag). No final, a potência somada se iguala aos 700 cv atuais, porém com extraordinária diminuição de consumo de 35%. Apesar de caros, acredita-se que tanto o eletroturbo como as válvulas injetoras e bombas de alta pressão (desenvolvidas pela Magneti Marelli), possam baixar de preço e migrar para os automóveis em quatro a cinco anos, de início em modelos premium.

Não para por aí. O sistema avançado de captação de dados e transmissão em tempo real dos monopostos para os boxes, substituto da radiofrequência, tem previsão de evoluir da F-1 para ruas e estradas, de modo ampliado. Ao utilizar redes Wi-Fi de grande capacidade, será possível integração entre um veículo e outro, para evitar acidentes; ou entre veículos e infraestruturas centrais, visando ao tráfego inteligente, o que inclui otimização de rotas e direção sem motorista -- algo já em experimento por fabricantes como Audi, Toyota (Lexus) e Volvo.