Honda CR-V com câmbio manual acrescenta prazer a receita consagrada
![Honda CR-V LX: nada pode ser mais agradável do que trocar marchas num carro bom - Murilo Góes/UOL](https://conteudo.imguol.com.br/2012/05/10/honda-cr-v-lx-2012-manual-1336690084622_615x300.jpg)
Você mora num condomínio de alto padrão em bairro dito nobre de cidade brasileira média ou grande, cheio de famílias de três, quatro ou cinco pessoas? Se sim, confesse: já enjoou descer à garagem do seu prédio e, todo santo dia, encontrar dúzias e dúzias de CR-Vs.
Isso, claro, se você mesmo não tem um...
O crossover (carro que mistura duas ou mais propostas, como SUV e minivan) da Honda é hoje o paradigma de objeto automotivo do desejo -- não para os emergentes, sim para uma certa classe média alta roots, que busca qualidade sem tanta ostentação.
Para acompanhar o gosto dessa fatia do mercado, o modelo evoluiu de um quase-jipinho de linhas retas até a atual geração, lançada este ano e plena das formas delgadas que os crossovers usam para embaralhar as tendências.
Quando surgiram as primeiras imagens do novo CR-V, antes do Salão de Los Angeles de 2011, o estreitamento da área envidraçada em direção ao porta-malas sugeriu a existência de uma fileira suplementar de assentos, aumentando a capacidade nominal do modelo para sete pessoas -- algo comum nos Estados Unidos, mercado importante para o crossover, e que aos poucos vai "pegando" no Brasil também.
Mas não: a mudança foi apenas no estilo -- e, diga-se, atingiu o objetivo de tornar o CR-V "maior", ao menos na percepção. O crossover parece gigantesco, mas na verdade mede 4,53 metros (tamanho de sedã médio) e é baixinho, com 1,65 metro de altura, algo fundamental para que mulheres (em geral, adoradoras de CR-Vs) embarquem confortavelmente. Mas, devido a outro acerto dos designers da Honda -- o desenho de grade e conjunto óptico dianteiros, que lembra um par de asas abertas --, o crossover dá a sensação de ser muito mais alto do que é.
A nova traseira encerrou aquela sensação de estar olhando para um sino, com a borda inferior muito mais larga que o teto. O CR-V agora é arredondado e suave. As lanternas continuam verticais e emoldurando a porta traseira, mas seu desenho ficou perigosamente parecido com o de peças da Volvo, notadamente do XC60.
UOL Carros conviveu ao longo de uma semana com um exemplar da versão LX do CR-V, dotado de câmbio manual de seis marchas. É a configuração básica do modelo, tabelada em R$ 89.700 (na estreia, em 2008, custava R$ 94.500). O carro testado mal desembarcara no Brasil: tinha menos de 200 km rodados.
BURACOS
Primeiro, as esperáveis mancadas de uma versão de entrada: não há farol de neblina, sensor de chuva e tweeters/subwoofers -- mas tais lacunas são secundárias se comparadas às deixadas por itens de segurança só disponíveis no CR-V ELX, que custa R$ 109.200. Entre eles, controle de tração, de estabilidade e de saída em aclives, e repartição eletrônica da frenagem; além de dois pares extras de airbags (a LX tem apenas os frontais). A diferença de R$ 19.500 inclui também a tração integral e o teto solar. Segundo a Honda, nada do que vem a mais na ELX pode ser agregado à LX, exceto a transmissão automática (com ela, o carro vai a R$ 92.900).
No entanto, a experiência de dirigir um CR-V manual revelou-se muito prazerosa. A começar do próprio câmbio e seu posicionamento: a alavanca é elevada, bem próxima da mão direita do motorista, e tem curso enxuto conjugado a um pedal de embreagem suave. As seis marchas sobram, literalmente: a tendência é que apenas motoristas experientes lembrem-se de engatar a sexta em situações de velocidade constante, nas quais o overdrive pode melhorar o consumo.
No geral, é harmonioso o casamento do câmbio com o motor de 2 litros, movido a gasolina, com razoável potência de 155 cavalos (era de 150 cv), mas cujo torque de 19,4 kgfm (inalterado) ficaria melhor num hatchback médio (o CR-V pesa 1.503 kg). Por isso, pode decepcionar em algumas arrancadas e retomadas, mas a suavidade do trem de força e a fácil operação do câmbio compensam esses eventuais "brancos" ao colaborar com uma condução tranquila na cidade e na estrada. Trata-se de um carro para a família, certo?
As suspensões independentes nas quatro rodas ajudam a garantir uma estabilidade incomum nesse segmento -- mas que não chega a surpreender quem reparou nas medidas citadas acima. O centro de gravidade do CR-V não é especialmente alto.
Tá bom, tá bom, a gente admite: a câmera de ré do CR-V, igual à do Civic, é bastante funcional
SÓBRIO E ELEGANTE
A receita para tratar bem os ocupantes é seguida também na cabine do CR-V, que é generosa com quatro ocupantes e entrega acabamento cuidadoso, com materiais agradáveis e de bom gosto, sempre em tons sóbrios. Destaque para o painel de instrumentos, de boa leitura e com iluminação agradável (num tom de branco meio azulado), analógico e muito mais elegante que o "dois-andares" do Civic.
Do sedã, o CR-V recebeu o sistema de câmera de ré, cuja imagem é exibida na mesma tela que mostra as informações do computador de bordo. No crossover, o dispositivo fica centralizado no painel frontal. UOL Carros o utilizou com mais calma e mais frequência nesta convivência com o CR-V, e reconhece que as críticas ao sistema, feitas após recente teste do Civic, foram injustas. Ao se acostumar com a imagem e suas marcações, a ausência de som deixa de ser um problema, e a câmera de ré passa a ser utilíssima.
Também como no sedã, o CR-V tem a função ECON, que modifica alguns parâmetros do carro em busca de maior eficiência energética. Num carro automático, por exemplo, as trocas de marchas seriam otimizadas, e isso seria claramente percebido pelo motorista. No manual, o que mais se nota é a diminuição da potência do ar-condicionado.
Rodamos com o CR-V principalmente em ambiente urbano; por via das dúvidas, quase o tempo todo com a função ECON. Após 422 km, o consumo médio de gasolina registrado no computador de bordo foi de 8,2 km/litro. Marca interessante, sem dúvida; mas vale observar a performance mercadológica do modelo da Honda ante rivais que já ganharam motor bicombustível.
Neste ano, nas vendas acumuladas até o final de abril, foram 5.905 emplacamentos; no difuso segmento dos SUVs delimitado pela Fenabrave (associação dos revendedores), o carro da Honda só fica atrás de Ford EcoSport, Renault Duster e Hyundai Tucson.
Não admira: o CR-V é o melhor carro da Honda no Brasil. Que o diga a classe média alta roots...
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