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Ford troca de presidente, e 'desnacionalização' avança no comando das montadoras

Marcos de Oliveira, agora ex-presidente da Ford, durante pré-lançamento do novo EcoSport - Marcelo Camargo/Folhapress
Marcos de Oliveira, agora ex-presidente da Ford, durante pré-lançamento do novo EcoSport Imagem: Marcelo Camargo/Folhapress

Claudio Luis de Souza

Do UOL, em São Paulo (SP)

02/05/2012 14h39

De maneira surpreendente, a Ford Motor Company anunciou nesta quarta-feira (2) que o presidente da divisão brasileira, Marcos de Oliveira, vai se aposentar. O substituto dele é Steven Armstrong, que já comandou a Volvo e hoje está na Getrag Ford Transmissions, na Alemanha.

A saída de Oliveira se dá em plena efervescência da transição de uma Ford pré-crise para uma Ford "global", simbolizada por produtos de padrão internacional como o New Fiesta, o Focus III e, especialmente para o Brasil, o novo EcoSport. Até mesmo esse carro, que foi apresentado pelo executivo nas duas vezes em que foi mostrado à mídia este ano, deve ser lançado sob a direção de Armstrong -- ele assume o cargo em junho.

Com a aposentadoria de Marcos de Oliveira, amplia-se a "desnacionalização" na liderança das fabricantes de veículos instaladas no país: das chamadas "quatro grandes", apenas a Fiat mantém um brasileiro em seu cargo maior: Cledorvino Belini, também presidente da Anfavea. Grace Lieblein, à frente da General Motors, é americana, e Thomas Schmall, líder da Volkswagen, é alemão.

Renault, Peugeot e Citroën também têm chefes estrangeiros: francês, outro francês e um italiano, respectivamente. E os líderes de Peugeot e Citroën respondem ao presidente da PSA da América Latina -- um português. Já Toyota e Honda têm suas operações no Brasil reportando a presidentes regionais para o Mercosul; em ambas, são japoneses.

Aqui, vale a pena citar dois exemplos recentes de brasileiros que foram "líderes carismáticos" em montadoras: Pinheiro Neto, na GM até o final de 2010, e Sérgio Habib, que introduziu a Citroën no país e hoje preside a chinesa JAC.

A Ford brasileira não divulgou os motivos para a aposentadoria de Oliveira, que tem apenas 52 anos de idade e trabalha na empresa há 28 anos (na presidência desde o começo de 2007). Oliveira teve ampla experiência internacional na companhia, tendo trabalhado em países como Espanha, Estados Unidos, África do Sul e México.

De acordo com a Ford, sob o comando do executivo a divisão brasileira emendou 33 trimestres consecutivos de lucros. No entanto, a montadora estacionou num arriscado quarto lugar em participação no mercado, com fatia oscilando logo abaixo dos dois dígitos, e sob ataque de rivais como a Renault e as fabricantes sul-coreanas.

Nos contatos que UOL Carros teve com Oliveira desde meados de 2007, o executivo sempre se mostrou afável e atencioso. Em mais de um evento de lançamento de modelos da Ford ele se misturou aos participantes, sem preocupação com segurança pessoal e o incômodo de abordagens. E Oliveira já foi visto voando na classe econômica. São comportamentos atípicos quando se trata de presidentes de montadoras no Brasil.