Petróleo não vai faltar, diz Exxon, mas gastar menos custa caro, dizem revendas
No Brasil ninguém deu bola, e devido à autoria comprometida é necessário manter o senso crítico bem aguçado -- mas a Exxon Mobil, gigante do ramo do petróleo, lançou no final do ano passado um estudo sobre com será o uso global de energia em 2040 que merece ser analisado. Uma das conclusões é a de que 90% dos transportes naquele ano ainda usarão algum tipo de combustível baseado no petróleo.
Há razões para isso que vão da química ao dinheiro: a gasolina fornece muito mais energia do que a eletricidade (o que garante maior autonomia aos carros), e pode ser transportada e armazenada (leia-se, comercializada) com relativa praticidade.
Os resultados do estudo, intitulado "2012 The Outlook for Energy: A View to 2040" e apresentado por um executivo da petroleira no congresso da National Automobile Dealers Association (Nada, a associação das revendas de veículos novos) nesta segunda-feira (6), em Las Vegas (EUA), apontam para um futuro 28 anos à frente no qual cerca de 55% das reservas de petróleo mundiais ainda não terão sido extraídas e utilizadas pelo homem.
É SOLUÇÃO?
Nissan Leaf: custa caro e não vai longe, mas hoje é um dos raros carros que antecipam meta de consumo de 2025 nos EUA
No mesmo ano, e este é o dado que justifica a apresentação do estudo à Nada e seus parceiros internacionais (entre eles, a brasileira Fenabrave), cerca de 50% dos veículos automotores serão híbridos ou similares. Ou seja, usarão alguma combinação de motor a combustão e motor a eletricidade, independentemente de serem plug-in (recarregáveis na tomada, como o Nissan Leaf) ou com gerador interno (como o Toyota Prius). Hoje, os híbridos são 1% em todo o mundo.
Nesse ponto entra o Cafe, sigla para Corporate Average Fuel Economy, legislação reguladora iniciada em 1975 (dois anos depois da crise do petróleo) e constantemente revisada, que determina a média de consumo de combustível de automoveis e utilitários leves (picapes e SUVs) a ser atingida pelo conjunto da indústria automotiva. Sob a administração de Barack Obama, com a concordância de 13 fabricantes e o apoio do mega-sindicato UAW, o valor-meta para 2025 foi estabelecido em 54,5 milhas por galão de gasolina.
Traduzindo para o "português", o consumo médio, dentro de 13 anos, terá de ser 22,96 km/litro.
MENOS É MAIS... CARO
A Dealers Association, por meio de seu vice-presidente Bill Underriner, expressou algumas dúvidas quanto à factibilidade dessa nova fase do Cafe. "Atualmente, apenas 2% dos carros que rodam pelos EUA entregam esse consumo de combustível", disse ele a jornalistas brasileiros aqui em Las Vegas. "Para ajudar a compor essa média [de 22,96 km/l], eles teriam de ser 20%".
A resposta era óbvia, mas UOL Carros perguntou a Underriner quais são os modelos que formam esse 2%: os já citados Leaf e Prius, além do Chevrolet Volt.
O incômodo da Nada tem uma razão clara: esses carros são mais caros que os convencionais. No caso do Volt, por exemplo, muito mais caros -- e em termos absolutos. No caso do Prius, modelo há anos consolidado no mercado dos EUA, a desvantagem no preço é relativa: ele é mais caro que hatches de mesmo porte e performance mais interessante. E a previsão é que, para atingir a média do Cafe, o preço médio dos carros subirá US$ 3.000.
De resto, segundo a Exxon-Mobil, a média global de consumo de combustível por automóvel em 2040 será de 38 mpg, ou 16,2 km/l. É inevitável que os carros convencionais fiquem mais leves e, boa parte deles, menores -- algo que os americanos ainda não aceitam bem.
A pergunta de Underriner é: "São estes os carros que nós queremos comprar?"
Em outras palavras: os americanos estão dispostos a pagar mais caro por um carro "apenas" para contribuir com uma meta de consumo ainda distante? Ou será que vão preferir comprar carros convencionais menores, mais baratos e com margem de lucro menor? E como isso afetará os negócios das concessionárias?
Para atingir a meta de consumo, o preço médio do carro nos EUA poderá subir no mínimo US$ 3.000, excluindo cerca de 7,5 milhões de americanos do mercado, segundo estimativas. Enfim, restam 13 anos para obter todas as respostas.
Viagem a convite da Fenabrave
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