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Chevrolet Cobalt é feito para ser escolha 'de valor' da classe C

Eugênio Augusto Brito

Do UOL, em Indaiatuba (SP)

05/11/2011 18h57

UOL Carros participou de um test drive bastante curto realizado na pista de Cruz Alta, propriedade da GM em Indaiatuba (SP), onde pôde observar e dirigir por alguns minutos o Cobalt LTZ, configuração mais completa da atual linha do sedã apresentado na última sexta-feira (reveja detalhes e preços aqui).
 
A primeira coisa a passar pela cabeça nesse contato inicial com o sedã, foi a frase proferida por um dos executivos da marca durante a apresentação do modelo, momentos antes: "o Cobalt tem um desenho mais conservador, porque foi o que o público pediu durante nossas clínicas". Clínica é o nome do processo pelo qual a fábrica seleciona algumas pessoas -- podem ser consumidores fieis da marca, compradores em potencial, membros da rede de distribuição, jornalistas -- para opinarem sobre diferentes características que podem ser levadas em consideração no projeto final de um novo carro. As pessoas ouvidas não vão definir com será o formato do farol ou da grade do carro, por exemplo, mas podem indicar à marca qual proposta pode vender mais. E, geralmente, o perfil tradicional vence quando se trata de um produto destinada à massa de consumo brasileira.
 
A frente do Cobalt brasileiro, lançado agora no final de 2011, entrega: ela serviria muito bem como atualização do Cobalt americano, criado em 2004 e aposentado no último ano para dar lugar ao Cruze. Tira suas conclusões observando as imagens ao lado.


VELHO COBALT, NOVO COBALT

  • Divulgação
  • Murilo Góes/UOL

    Compare o primeiro Cobalt, criado em 2004 e vendido no mercado americano até a chegada do Cruze, e o Cobalt nacional, que herdou seu nome

Além disso, por ser muito ampla (embora tenha proporções mais acertadas que o Agile) acaba não conversando com a traseira, como apontou o colega de redação Rodrigo Lara.

Perfil e traseira, por sua vez, além de conversarem melhor entre si se mostram mais acertados, embora ainda sejam regidos pelo signo do tradicionalismo em termos de design automotivo. É curioso notar, no entanto, como as portas que parecem pesadas e rígidas são leves demais, a ponto de você precisar dosar a força que seu cérebro acha necessário aplicar para abri-las. O mesmo vale para a tampa do porta-malas.
 
A soma de tudo isso resulta num carro que aparenta ser mais robusto e classudo do que realmente é. E isso é um dos fatores "de ouro" para produtos de baixo custo. Falando em custo, a GM afirma que não tem aqui um produto campeão da exaustivamente utilizada relação custo/benefício -- para ela, o Cobalt é "um carro para os 100 milhões de habitantes dessa nova classe C da economia nacional, que buscam produtos de valor", nas palavras do diretor de marketing Gustavo Colossi.
 
A GM tem o Cobalt em alta conta, tanto que confiou ao modelo uma missão bastante árdua: ser líder de vendas.  A meta planejada pelos executivos para o sedã é alcançar as 3.500 unidades mensais, patamar atual dos pequenos Prisma e Logan. No nicho superior, o de sedãs pequenos segundo a Fenabrave, este total de entregas permitiria ao Cobalt liderar e com larga vantagem, visto que o Honda City é o principal nome do momento, com 1.500 unidades mensais.
 
EMERGENTE
Feito justamente para habitar o espectro entre Classic, Prisma -- que deve(m) estar(em) próximo(s) de se despedir(em) -- e Cruze dentro da linha da Chevrolet, o Cobalt pode ser classificado, numa abordagem livre, como um "sedã médio emergente", feito na medida para a nova classe C, consumista e com planos de ambiciosos de ascensão social. Ela quer algo além de Siena, Voyage e Logan, por exemplo, mas não tem grana para levar Linea, Jetta, Fluence para casa. Este tipo de comprador não quer mais saber de modelos antiquados, seu ego movido a notícias fresquinhas da internet recebidas num smartphone coreano não suportaria isso. Mas ele sabe (embora não admita a ninguém) que ainda não tem condições para colocar o mais recente dos três-volumes médios na garagem e vai ter de se contentar com algo que lembra a propaganda do Denorex, um antigo xampú que se valia do slogan "parece, mas não é".
 
Isso tudo fica bem claro dentro da cabine do Cobalt: há uma sensação de que o espaço é quase infinito, de que tudo vai caber lá. De novo segundo a GM, são 18 porta-objetos sendo que alguns deles comportam garrafas pet de 1,5 litro -- até porque a classe C não se contenta com latinhas, nem com garrafas d'água de 310 ml -- e espaço total superior ao do Vectra, carro notório para este tipo de assunto na Chevrolet. Mas aí você percebe que não conseguirá acomodar quatro pessoas decentemente, até porque o terceiro ocupante do banco traseiro não terá encosto de cabeça, nem cinto de três pontos. O porta-malas também é imenso, com volume de 563 litros, mas suas alças não são pantográficas, infelizmente e vão estragar alguns dos inúmeros pacotes de compras que serão colocados por lá.
 
Os mimos para motoristas e ocupantes incluem um bom sistema de regulagem do banco, aplique de tecido felpudo nas portas (ok, o couro seria bem vindo, mas e o custo?), e até alavancas e comandos importados do Cruze. O sistema de som também tem uma apresentação interessante, com um belo e completo aparelho, que inclui entradas Line-in, USB e conexão Bluetooth para celular, além de muitas opções de configuração e memórias para CDs e rádios. Em 2012, quando o Cobalt com motor 1.8 Econoflex estiver nas lojas, o dono de um poderá olhar para a alavanca de câmbio e se imaginar dentro de um Captiva, veja só.
 
  • Murilo Góes/UOL

    O motor você conhece, é o 1.4 da Chevrolet. Mas agora ele não invade mais a cabine com seu ruído e trepidação, tornando a viagem a bordo do Cobalt mais tranquila e confortável

Aparência conta muito para quem é da classe C e sonha, mais do que tudo, em ser logo da B. Mas, que terror, se este dono for uma mulher não terá como retocar a maquiagem decentemente, já que o Cobalt não tem espelhinho na contra-face do parassol do motorista (o do carona tem, mas sem qualquer cobertura ou iluminação); essa hipotética compradora também não poderá deixar o volante mais pertinho de si, já que a regulagem da coluna de direção permite apenas o ajuste vertical. Há ainda o problema de posicionamento dos comandos de vidros, que poderiam estar numa posição menos recuada -- no lugar onde estão, irritam o motorista, que terá de se mexer e tirar os olhos da pista para acioná-los.  São diferenças pequenas, mas marcantes entre quem é emergente e quem pode mais realmente -- ou entre um sedã compacto e um três-volumes médio de verdade.
 
Em movimento, o Cobalt surpreendeu em alguns pontos sensíveis. A mudança na câmara de ressonância do motor 1.4 cumpre sua função e não deixa passar excesso de ruído, nem trepidações para dentro do habitáculo, permitindo que todos os ocupantes mantenha a conversa em dia enquanto viajam, ou ouçam seu som preferido sem serem incomodados, algo impensável na maior parte dos modelos compactos.
 
O novo acerto da suspensão, que mantém o sistema independente na dianteira e semi-independentes atrás (eixo de torção com barra estabilizadora), está classudo e doma grande parte das irregularidades do asfalto nacional, garantindo conforto. A consideração final vem da caixa de câmbio, manual de cinco marchas, que também foi retrabalhada e ficou, finalmente, preciso.
 
Infelizmente, as curvas planejadas, as poucas ladeiras do campo de testes e o curto tempo disponível tornaram impossível a tarefa de avaliar se o motor 1.4 tem fôlego, força e consumo suficientemente adequados para executar a tarefa de empurrar o Cobalt nas diferentes situações do cotidiano urbano da nova classe média -- mercado e salão de beleza semanais, escola diária das crianças, visita mensal aos avós na praia ou na montanha. Essa conclusão, fundamental para as aspirações de muitas famílias, fica prometida para breve.