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Bravo T-Jet acelera bem e bebe pouco; maior rival é o 'irmão' Punto

<b>Fiat Bravo T-Jet: bonito e quase sempre bom de guiar, mas preço não ajuda</b> - Thatiane Faria/UOL
<b>Fiat Bravo T-Jet: bonito e quase sempre bom de guiar, mas preço não ajuda</b> Imagem: Thatiane Faria/UOL

Rodrigo Lara

Do UOL, em São Paulo (SP)

11/10/2011 08h29

Carros esportivos costumam ultrapassar a barreira da razão. Temas como preço, consumo e espaço interno são colocados em segundo plano, ofuscados por aceleração, estabilidade e, principalmente, prazer ao dirigir. Enquadrando o Fiat Bravo T-Jet na categoria dos esportivos, cabe destinar ao carro um olhar às suas vocações, relativizando os pontos mais mundanos.

Lançada no Brasil em junho deste ano, a versão apimentada do Bravo é o carro mais forte da gama média da Fiat à venda no país, substituindo a versão esportiva do Fiat Stilo, a Abarth 2.4, que saiu de cena em 2009. Se não é tão potente quanto o seu predecessor (o Stilo tinha um motor 2.4 aspirado capaz de render 167 cavalos), o Bravo não fica muito atrás quando o assunto é o desempenho declarado pela fabricante. De acordo com a Fiat, o T-Jet vai de 0 a 100 km/h em 8,7 segundos e tem máxima de 206 km/h. O Stilo Abarth cumpria a mesma aceleração em 8,4 segundos e alcançava os 212 km/h.

Esportivos não foram feitos para vender muito. A máxima é reforçada quando se fala de um carro derivado de um modelo que patina no mercado. O Bravo não vende bem desde o seu lançamento, e do mesmo mal sofre o T-Jet. E nem dá para colocar a culpa no preço: R$ 68.950 é o valor sugerido para o esportivo, pouco mais de R$ 2 mil acima da versão Absolute do hatch médio.

Configurado como a unidade avaliada por UOL Carros, entretanto, o hatch turbinado bate em absurdos R$ 87.659. O "nosso" Bravo tinha todos os opcionais disponíveis, como teto solar elétrico Skydome, faróis de xenônio, bancos revestidos em couro com costura vermelha, sistema de chuva, luminosidade e de monitoramento da pressão dos pneus, sensores de estacionamento dianteiros, sistema de som de alta fidelidade e rádio com navegador e tela de cinco polegadas.

Mesmo desconsiderando os opcionais, o Bravo T-Jet vem bem equipado. Airbag duplo, freios a disco nas quatro rodas com ABS (antitravamento), controle de estabilidade e de tração, sistema Hill Holder (auxílio de partida em ladeiras), rodas de 17 polegadas, ar-condicionado bizona e trio elétrico são itens de série. Mais detalhes do carro podem ser vistos nas fotos abaixo, clicadas por Thatiane Faria:

ESPORTIVO, MAS DISCRETO
A despeito da marcante cor vermelho modena do Bravo T-Jet avaliado, não dá pra dizer que o hatch é um carro que desperta suspiros ou atrai a atenção por onde passa. À exceção dos emblemas alusivos à versão esportiva, o item visual mais chamativo são as rodas de 17 polegadas. A discrição se mantém se compararmos o Bravo T-Jet ao irmão menor Punto T-Jet -- que possui apliques que o deixam mais vistoso.

O visual contido se repete no interior do Bravo. As únicas referências à esportividade são os emblemas "T-Jet" na soleira das portas, as costuras vermelhas no volante, o acabamento do painel que imita fibra de carbono, a pedaleira esportiva e a manopla do câmbio manual indicando as seis marchas da transmissão.

Volante e bancos são ajustáveis em altura e profundidade, o que ajuda a escolher uma boa posição de dirigir. O espaço é bom na frente, porém para os ocupantes do banco traseiro ele é reduzido para as pernas, como já ocorre com o Bravo normal. De forma geral, o acabamento do carro é cuidadoso, e passa um certo ar de Alfa Romeo ao dispor os elementos do centro do painel voltados ao motorista.

A suspensão ganhou ajuste mais firme, um auxílio na hora de contornar curvas, mas castigo para as costas dos ocupantes. Fora isso, a grande diferença mecânica do Bravo T-Jet em relação às demais versões do modelo é justamente o motor que nomeia o carro. O propulsor 1.4 T-Jet é sobrealimentado por turbo e só bebe gasolina. Rende 152 cavalos de potência a 5.500 rpm e tem torque de 21,1 kgfm entre 2.250 e 4.500 rpm. Ao final de 650 km de teste, apresentou o bom consumo misto de 8,9 km/l.

OVERBOOSTER
No centro do painel, à esquerda da tela do sistema multimídia, há uma tecla com a sigla "OVB". Ela altera a pressão do turbo, elevando-a a 1 bar. Com isso, o torque sobe para 23 kgfm, mudança percebida pelo condutor.

Sem o Overbooster ativado, o Bravo T-Jet não exige grande esforço por parte do motorista. Há, contudo, um certo "lag" em decorrência do turbo. Em acelerações mais fortes, o carro arranca de maneira mais lenta até o conta-giros chegar à faixa de torque máximo, quando então o veículo salta com mais decisão, chegando a destracionar as rodas dianteiras mesmo com o controle de tração e estabilidade ligado.

Em linha reta, o Bravo T-Jet vai bem e não demonstra perda de fôlego nas acelerações e retomadas. Em quinta ou sexta marcha, basta acelerar para o carro ganhar velocidade com desenvoltura. O câmbio tem engates justos e o ruído no interior é bastante abafado, contribuindo para o conforto a bordo.

A curva de torque pouco linear, somada à dianteira solta do hatch, penaliza a dirigibilidade ao sair de curvas mais lentas. Para evitar esse tipo de comportamento, o motorista deve abrir mão de acelerações mais determinadas no meio das curvas, sob o risco de ver o carro sair de frente de maneira exagerada. A suspensão impede outras reações mais ariscas do carro, mas devido ao seu tamanho e o seu peso de 1.370 kg, o Bravo T-Jet não passa tanta confiança para uma tocada mais agressiva.

APERTOU, FICOU CHATO
Com o Overbooster ativado, o Bravo perde a docilidade e, considerando o uso urbano, se torna um carro "chato" de guiar. É difícil dosar o pé direito para acelerações mais lineares, e o resultado é um andar soluçante, com o carro pedindo ao motorista para ir mais rápido. A tendência subesterçante fica mais pronunciada e o hatch demanda atenção do motorista para seguir no rumo e não invadir a faixa ao lado em saídas de curva.

Não há concorrentes diretos para o Bravo T-Jet em sua faixa de preço. Acima dele, há o Honda Civic Si, que o excede tanto em potência (192 cavalos) quanto em preço: R$ 103.650. E abaixo há, talvez, a maior razão para não se comprar um Bravo T-Jet. O irmão menor Punto T-Jet é equipado com o mesmo motor, também tem a suspensão com ajuste esportivo e visual diferenciado. Como bônus, quem optar pelo hatch menor leva pra casa um carro com um comportamento dinâmico melhor por R$ 63.630,00, cerca de R$ 5 mil a menos.

Por mais que ele seja gostoso de dirigir e ofereça bom desempenho, fica difícil argumentar em favor do Bravo T-Jet nessas condições.