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Volkswagen SpaceFox é um bom carro, mas não justifica salvar as peruas

<b>Volkswagen SpaceFox Sportline custa R$ 55.390 e tem bom pacote de série</b> - Murilo Góes/UOL
<b>Volkswagen SpaceFox Sportline custa R$ 55.390 e tem bom pacote de série</b> Imagem: Murilo Góes/UOL

Claudio de Souza

Do UOL, em São Paulo (SP)

08/04/2011 18h02Atualizada em 15/08/2012 14h04

É voz corrente entre os especialistas no setor automotivo que as station wagons, ou peruas, estão com os dias contados no Brasil. A oferta de modelos com essa carroceria é pequena, e as vendas não são animadoras. Para se ter uma ideia, o Hyundai i30 CW não foi capaz de repetir o fulminante sucesso de seu irmão hatchback, emplacando apenas 930 unidades até o final de março, dez vezes menos que o dois-volumes. História parecida com a da Fielder, SW do Toyota Corolla, que saiu de linha após anos vendendo muito menos que o sedã.

A Renault Mégane Grand Tour vem melhorando seus números, mas somente porque é uma SW médio-grande vendida a preço de compacta.

A participação das stations no mercado nacional de veículos de passeio, sempre de acordo com a Fenabrave (federação dos revendedores), é de 2,69% do total de emplacamentos. Monovolumes do tipo Fiat Ideia e Chevrolet Meriva respondem por uma fatia de 5,86%, mas o fato é que essa carroceria é apenas cúmplice na derrocada das peruas. Vilões mesmo são os SUVs e crossovers, donos de 22% das vendas de veículos leves no Brasil e hoje tidos como padrão de "carro de família" por um consumidor emergente e deslumbrado pela crescente oferta de modelos.

DETALHES DE UMA PERUA QUE RESISTE

  • Murilo Góes/UOL

    A traseira da SpaceFox ficou mais harmoniosa com o abandono dos antigos padrões arredondados

  • Murilo Góes/UOL

    O painel traz a tela de informações com letras brancas, mas iluminação dos mostradores é azul

Atual líder no segmento (superou a rival Fiat Palio Weekend no primeiro trimestre do ano por menos de cem unidades emplacadas), a Volkswagen SpaceFox é uma heroína da resistência  das peruas. Herdeira da aura jovem e esportiva da Parati (que ainda é procurada em algumas praças, mas desapareceu do Sudeste), seguiu o caminho do irmão Fox e passou em 2010 por uma reestilização (a primeira desde o lançamento) que a alinhou à gama global da Volks.

A dianteira de linhas e cortes retos desenhada pelo italiano Walter de Silva pode causar estranhamento em modelos maiores ou que, antes, tinham visual agressivo ou muito marcante, como Jetta e Passat -- mas em carros pequenos e discretos o novo padrão funciona bem. Na traseira a perua ganhou lanternas retangulares, mais "secas" que as antigas (as quais tinham elementos redondos) e com luzes formando traços, também uma nova diretriz de estilo da Volks. No geral, a SpaceFox é mais bonita que a Palio Weekend, que exagera os adereços em algumas versões. Mas perde da Grand Tour.

UOL Carros avaliou uma SpaceFox Sportline, topo da gama, cujo preço sugerido é de R$ 55.930. Dotada do bem-resolvido conjunto de motor/câmbio já conhecido de modelos como Gol, Fox e Polo -- propulsor bicombustível EA111 (ou VHT) de 103/101 cavalos a 5.250 rpm (etanol/gasolina) e 15,6/15,4 kgfm de torque a 2.500 rpm e caixa de câmbio manual MQ200 de cinco velocidades --, a perua agradou bastante, e de modo geral, em seu comportamento dinâmico. O senão ficou para o elevado consumo de 6,6 km/litro de etanol, ao longo de 630 km de uso.

Mesmo puxando um peso mais elevado que o de outros modelos da Volks, o motor proporciona boas arrancadas e retomadas, particularmente para quem não hesitar em usar a terceira marcha sempre que necessário. A suspensão da SpaceFox tem um acerto discretamente firme, talvez um pouco demais para o trânsito urbano em ruas de asfalto ruim, mas na medida para permitir alguma ousadia em curvas, no que ajudam bastante os pneus de medidas 195/55 em rodas de aro 15. A turminha de surfistas já pode começar a se divertir (com moderação) nas curvas da Mogi-Bertioga.

POR DENTRO
A cabine da SpaceFox nessa versão top (que só é mais barata que a mesma configuração com o câmbio automatizado i-Motion) seguiu o caminho do Fox e melhorou em termos de refinamento, desenho e qualidade dos materiais. No entanto, o painel de instrumentos manteve a iluminação azul nos mostradores maiores, contrastando de modo estranho com o computador de bordo, que tem caracteres em branco. Nos Fox, o conjunto já é totalmente iluminado e grafado em branco desde o ano passado.

O pacote de equipamentos de série é compatível com o preço pedido, contendo itens como ar-condicionado, vidros, trava central e retrovisores elétricos, direção hidráulica, luzes de neblina, sensores de luz e de chuva, rodas de liga-leve, freios com ABS (antitravamento) e airbags frontais. O sensor traseiro de estacionamento, item interessante para uma perua, é opcional.

A posição "altinha" de dirigir, com o chamado "ponto H" (alinhamento dos quadris com a carroceria) elevado, é semelhante ao do Fox e proporciona uma experiência de quase-SUV ao motorista -- que, de resto, vai encontrar comandos bem distribuídos e de uso intuitivo. Mas...

Mas a SpaceFox faz questão de lembrar que se está guiando um carro derivado de um compacto. A depender do ajuste do seu assento, a perna direita vai encostar desconfortavelmente no console central -- se isso aconteceu com quem mede 1,71 metro, imagine com alguém de 1,80 m.

Mais grave ainda, e fonte de irritação permanente ao longo da convivência com o modelo: o porta-malas da SpaceFox (de 430 litros) tem a base muito alta, é muito estreito (a largura do carro é de 1,65 metro) e, pensando bem, muito curto (o carro mede 4,17 metros). Isso torna algo maçante a operação de carregá-lo com bagagem ou compras, e simplesmente impede o transporte de algo tão singelo (e jovem) quanto uma bicicleta de adulto, mesmo com o banco traseiro deslizado para frente e o encosto rebatido.

É verdade que coisas como pranchas de surfe podem ir no rack de teto (as barras transversais são de série nessa versão da SpaceFox), mas se uma perua padrão só consegue transportar o mesmo que cabe a bordo de um SUV e/ou crossover (bike, não; malas e compras, sim) talvez o público brasileiro tenha feito uma opção até coerente ao renegar pouco a pouco um segmento que já teve modelos tão emblemáticos no Brasil -- que tal Caravan, Belina, Elba e Quantum? --, e que hoje vive de sobras.

Salvar as baleias sempre fez sentido. Mas essas peruas que estão aí -- salvá-las para quê?