Ford lança caminhão Cargo com toques de carro de passeio

A Ford colocará nas lojas no final de abril a linha renovada do caminhão médio Cargo, com peso bruto total de 13 a 31 toneladas. Trata-se da maior renovação da gama de utilitários pesados da marca, numa operação que pode ser traduzida como uma aposta de R$ 670 milhões (valor dos investimentos no projeto desde 2007) no crescimento sustentado do Brasil -- o mercado de caminhões é diretamente afetado pela saúde de setores-chave da economia, como a construção civil.
Entre outros eventos que servem de lastro à jogada da Ford, estão a Copa do Mundo de 2014, sediada no Brasil, e as Olimpíadas de 2016, no Rio de Janeiro, ambos incentivadores de um sem-número de obras (públicas ou privadas) ao redor do país. A toada desenvolvimentista do segundo governo de Luiz Inácio Lula da Silva (2006-2010), cuja manutenção é dada como certa por Dilma Rousseff (basta citar o PAC, Programa de Aceleração do Crescimento), é outro fator a criar um clima de otimismo na área dos veículos pesados e de serviços.
A gama Ford Cargo, de acordo com informações da própria montadora, atende a usos que vão de mudanças, transporte de cargas leves (como bebidas) e transporte rodoviário de curta distância (no caso do modelo Cargo 1317, de 13 toneladas), a outros bem mais exigentes, como transporte de cana-de-açúcar, madeira e minérios (Cargo 3132, de 31 toneladas).
Concorrente direto do modelo Constellation da Volkswagen/MAN, o Cargo teve sua aparência remodelada segundo os ditames do Kinetic Design, escola de estilo da Ford que antes era aplicada somente a carros de passeio. A premissa é dar às carrocerias a impressão de movimento e fluidez mesmo quando estão paradas.
Nos Cargo apresentados nesta terça-feira (22) à imprensa especializada, numa praia em Caucaia (CE), o principal elemento estético é o conjunto formado pela grade frontal e os dois defletores de ar colocados acima dos faróis. São peças com desenhos arrojados e que lembram as equivalentes de automóveis e utilitários/comerciais leves mais modernos. O resultado ficou muito bom -- levando em conta que não dá para fazer milagre de aparência em caminhões de dianteira reta (com motor sob cabine escamoteável), devido à escassez de volumes e ao posicionamento baixo do conjunto óptico.
Os caminhões Cargo importaram dos carros outros vícios e virtudes. A Ford preocupou-se em oferecer uma gama de cores interessante, com seis opções: dois tons de vermelho, branco, cinza escuro, prata e até azul. É o mesmo número de cores do Fiesta Rocam e do Ka.
Houve uma clara preocupação com o acabamento da cabine, que usa materiais de bom gosto e agradáveis ao olhar e ao tato, e com o conforto acústico geral, tarefa duríssima devido à ampla área de impacto com o vento formada pela frente reta. No fundo, é mais um exemplo da tendência de dar a todo e qualquer veículo um feeling de sedã -- algo já corriqueiro nas picapes médias, e que a própria Ford tratou de ressaltar quando lançou o modelo novo da van Transit.
Entre os pecadilhos mais óbvios, pode-se apontar a ausência de ar-condicionado de série nos caminhões a serem vendidos no Brasil -- as unidades exportadas para a Argentina terão o equipamento. Como a área envidraçada da cabine dos Cargo é enorme, viajar sob um sol africano como o enfrentado nesta terça no litoral cearense é (literalmente) um inferno. A explicação para a falta do item é simples: grandes frotistas podem não se preocupar suficientemente com o conforto de seus motoristas a ponto de gastar um pouco mais e lhes oferecer climatização a bordo. Um raciocínio análogo ao que transforma o ar-condicionado em artigo vendido à parte nos carros compactos e de entrada.
A linha Cargo 2012 é a primeira da Ford a contar, em cinco de suas configurações, com a opção cabine-leito, que dispõe de uma cama de 1,90 metro por 60 centímetros situada atrás dos assentos de motorista e passageiro. Para transformar o habitáculo num quarto com alguma privacidade, duas cortinas correm ao longo de todas as janelas.
GASES E NÚMEROS
Movidos a diesel e com tanques de 275 litros, os caminhões Cargo são descritos pela Ford como os mais eficientes e econômicos do mercado, mas dados objetivos -- quantos quilômetros eles rodam com cada litro do combustível -- foram resguardados pela empresa. Os motores da gama atendem a normas de emissões poluentes equivalentes às da Euro 3, vigentes no Brasil, mas não às da Euro 5, cujo correspondente nacional é o Conama 6, o qual entra em vigor em janeiro do ano que vem.
Os futuros caminhões Cargo poderão "vestir" as adaptações tecnológicas necessárias ao Conama 6, segundo executivos da Ford -- mas certamente com um acréscimo no preço. Por isso, é de se esperar a formação de grandes estoques de caminhões (não só da Ford, diga-se) adequados ao Euro 3. É a mesma atitude que levará as montadoras a fabricar carros sem airbag e ABS até o último minuto antes de esses itens virarem obrigatórios, em 1º de janeiro de 2014.
Os caminhões Cargo são montados em São Bernardo do Campo (SP). O motor é fornecido pela Cummins (as cilindradas vão de 3.9 a 8.3) e as embreagens, que podem trabalhar com câmbios de até 13 velocidades nos modelos mais pesados, são da Eaton.
A participação total da Ford no mercado nacional de caminhões, segundo dados da Fenabrave (federação dos distribuidores de veículos) relativos à primeira quinzena de março, é de 17,53%, no terceiro lugar geral. Perde da Volks/MAN (29,75%) e da Mercedes-Benz (22,73%); ganha de Volvo, Scania, Iveco e outras menores. Nos carros e utilitários leves, a Ford fica em quarto lugar, perto dos 9%. Na média mensal deste ano, o caminhão Constellation 13180, que é concorrente direto do Cargo 1317, emplacou quase o dobro de unidades: 184 contra 94, de acordo com a Fenabrave.
Em março, segundo projeção da Fenabrave, devem ser emplacados no Brasil um total de 15.410 caminhões, de portes e capacidades diversas. Na primeira quinzena, o crescimento em relação a um ano atrás foi de 26%.
A Ford não divulgou os preços da gama Cargo para o Brasil, limitando-se a observar que eles espelharão os do Constellation. Estes partem de R$ 140 mil e chegam a R$ 293 mil, de acordo com a Tabela Fipe. Hoje, o Cargo 1317 modelo 2011 (ou seja, velho) custa R$ 125.600. No entanto, os preços da nova gama na Argentina estavam disponíveis para a imprensa daquele país, que também participa do lançamento no Ceará. Na tabela dos hermanos, o Cargo 2012 parte de 281.700 pesos na versão 1317. São R$ 116 mil.
Viagem a convite da Ford do Brasil.
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