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Renault Fluence não emociona, mas tem qualidade para brigar entre sedãs médios

<b>Fluence aposenta o Mégane exibindo evoluções em relação ao sedã anterior</b> - Divulgação
<b>Fluence aposenta o Mégane exibindo evoluções em relação ao sedã anterior</b> Imagem: Divulgação

Claudio de Souza

Do UOL, em São Paulo (SP)

03/12/2010 20h43

Atualizada à 1h13 de 7/12

Um dia depois da apresentação técnica e de mercado do sedã médio Fluence, a Renault promoveu nesta sexta-feira (3) um test-drive do modelo -- de curta extensão, mas alternando trechos urbanos de trânsito intenso a outros de estrada livre; divididos em trios, os jornalistas puderam experimentar as sensações de ocupar o volante, o banco do passageiro dianteiro e o banco traseiro. Oportuno, já que se trata de um carro que pode ter uso familiar e/ou executivo.

O Fluence, como dissemos, chega ao Brasil para aposentar o Mégane e tentar desbancar o Chevrolet Vectra do terceiro lugar nas vendas de sedãs médios, e ao menos incomodar a dupla japonesa de líderes no segmento, Toyota Corolla (atual campeão) e Honda Civic (o vice).

O carro da Renault sai em vantagem contra os três quando visto por fora. Seu design é o de um produto a ser vendido em mais de 80 países: não é ousado, nem é banal. Devido ao posicionamento dos faróis (olhos), ao diamante da Renault no centro (nariz) e à diminuta grade frontal superior (boca), a dianteira ganha uma "cara" quase amistosa.

A depressão ao centro do capô, delimitada por ressaltos que acompanham a altura dos paralamas, destaca a área envidraçada. A linha de cintura ascende suavemente, desembocando numa traseira alta e volumosa, não muito curta (o Fluence não é um "sedã acupezado") e arrematada por lanternas horizontalizadas -- tendência de estilo verificada nos sedãs mais modernos.

O tempo passa, e um dia a esportividade do Civic, o bom-mocismo do Corolla e a sobriedade do Vectra só podiam mesmo cansar. Eis aí a brecha para o Fluence se impor.

INTERIOR ESPAÇOSO
Por dentro da cabine encontramos um ambiente agradável, com materiais e acabamento compatíveis com o segmento. A unidade que testamos era uma Privilège, topo da gama, dotada de revestimento de couro em tom de cinza -- bom de olhar, fácil de sujar. O painel de instrumentos é ligeiramente inclinado para trás, "fugindo" do motorista, mas isso não chega a atrapalhar sua leitura. Os comandos do bom ar-condicionado digital dual zone são de fácil manuseio, mas os do sistema de som e do navegador GPS (de série nessa versão) ficam misturados ao centro, acima da alavanca do câmbio, e nos pareceram um tanto confusos. Não conseguimos desligar o GPS sem desligar também o rádio, por exemplo.

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Traseira é suave, mas volumosa; lanternas seguem tendência atual

Alguns detalhes poderiam ter sido mais bem cuidados pela Renault -- por exemplo, o uso de plásticos com pintura imitando metal em certas peças. Como a maçaneta das portas dianteiras é mesmo de metal cromado, o contraste fica constrangedor de tão evidente. Mas o cuidado na montagem das partes da cabine é notável, sem rebarbas ou frestas, e o conjunto acaba agradando.

Um ponto alto do Fluence é o espaço interno. O passageiro dianteiro tem ampla área livre para as pernas, garantida pela concavidade do painel frontal; os dois passageiros traseiros (três é demais, lembre-se) também podem se acomodar com muito conforto. São as vantagens do entre-eixos generoso, de 2,7 metros, e do teto arqueado.

O motorista do sedã da Renault certamente vai achar uma boa posição de dirigir. O assento tem regulagem de altura feita manualmente, assim como os ajustes da coluna de direção. O volante tem boa empunhadura, com revestimento em couro -- mas deveria incorporar alguns comandos do rádio e do computador de bordo, os quais ficam numa alavanca específica e na do comando dos limpadores, respectivamente (ambas à direita).

IMPRESSÕES AO DIRIGIR
O Fluence é uma evolução do Mégane, e isso fica patente desde a hora de ligar o motor. O antigo sedã já oferecia chave-cartão, mas ela precisava ser enfiada num nicho no painel para que a ignição, acionada por botão, funcionasse. O novo sedã tem chave-cartão presencial: basta chegar perto do carro para que as portas se destravem, e basta sentar-se ao volante e pressionar "Start" para que o bloco bicombustível de 2 litros, 16 válvulas e 146 cavalos de potência (com etanol), herdado do Nissan Sentra, entre em funcionamento.

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Ar dual zone é eficiente, mas comandos de rádio e GPS (abaixo) se misturam

Outra evolução está na transmissão. O Mégane automático oferecia quatro velocidades, com trocas sequenciais. O Fluence automático possui o câmbio CVT (continuamente variável, ou seja, de "marchas infinitas") XTronic, também desenvolvido pela Nissan. Ao contrário de outras opções CVT, essa transmissão permite que o motorista intervenha por meio de trocas sequenciais de até seis velocidades, feitas manualmente na alavanca (não há aletas atrás do volante nem como opcional).

Com o Fluence em movimento, a primeira boa impressão é causada pela direção de assistência elétrica: levíssima com o carro parado e em baixa velocidade, adequadamente firme na rodagem mais rápida.

A segunda boa impressão, no entanto, teve de esperar um pouco. Cruzou o caminho dela o funcionamento algo indeciso do câmbio CVT, que algumas (poucas) vezes permitiu que o motor chegasse a quase 6.000 giros, por volta de 90 km/h, e nesses 6.000 giros permanecesse por longos segundos, "gritando" de modo irritante e pouco eficiente -- até o motorista perder a paciência e ascender a marcha manualmente. Passados esses momentos, o Fluence voltava a entregar um ambiente de relativa calma aos ocupantes -- e é esta a segunda boa impressão. O isolamento acústico é competente, e a suspensão acertada para o conforto filtra eventuais sacolejos, que não chegam à cabine.

Quanto à performance, o sedã médio chegou com naturalidade a velocidades de cruzeiro interessantes (perto de 120 km/h na estrada), e mostrou-se suficientemente esperto nas retomadas -- embora seja recomendável reduzir as marchas manualmente em ultrapassagens arrojadas.

O trajeto escolhido pela Renault praticamente não tinha curvas, e por isso ficamos devendo uma apreciação sobre a estabilidade do Fluence. E como sofremos com uma parte dos 242 km de lentidão no trânsito de São Paulo, registrados por uma emissora de rádio especializada no início da tarde de sexta, a marcação do consumo ficou prejudicada. De qualquer modo, nosso primeiro contato com o Fluence deixou claro que o modelo tem méritos para despachar o Vectra para fora do pódio dos sedãs médios. E Corolla e Civic não podem dormir no ponto também.