Topo

Carros de luxo ganham espaço, e marcas prometem 2010 cheio de novidades

CLAUDIO DE SOUZA<br>Editor de UOL Carros

27/12/2009 09h24

No ano da agudização da crise financeira mundial, e de sua posterior e custosa superação -- pelo menos aparente --, houve um segmento do mercado de automóveis do Brasil que não sofreu sequer um arranhão. Pelo contrário: vive um momento de expansão e prevê que 2010 será melhor ainda. São os carros de luxo, representados no país primordialmente pela trinca de marcas "premium" alemãs formada por Audi, BMW e Mercedes-Benz (em ordem alfabética).

Todos os carros dessas três fabricantes chegam ao Brasil importados de países sem acordo tarifário favorável, o que vale dizer que pagam imposto de 35%. A exceção de origem é o cupê CLC, que a Mercedes faz em Juiz de Fora (MG) -- mas mesmo esse carro, como todos os outros oferecidos pelas alemãs, tem seu preço em reais expresso em seis dígitos (no caso, R$ 131 mil). Há apenas três modelos mais baratos, mas que ainda assim custam mais de R$ 90 mil: Mercedes Classe B, BMW 118 e Audi A3 (com motor 1.6).

  • Divulgação

    Mercedes Classe E: sedã ícone da marca alemã, que custa cerca de R$ 285 mil, chegou ao Brasil poucos meses depois de seu lançamento mundial, realizado no Salão de Detroit (EUA)

Vale notar que outras marcas de alta qualidade também surfam no bom momento da economia brasileira: a sueca Volvo, por exemplo, este ano bateu seu recorde de vendas no país (2.034 carros até o final de novembro). Além disso, aumentou, e muito, o burburinho causado por importadores que colocam em suas vitrines bólidos com preços que frequentemente ultrapassam o milhão de reais. É verdade que esses não são exatamente carros de luxo, e sim de performance, ostentando distintivos de marcas como Porsche, Ferrari, Lamborghini e Maserati, além de extravagâncias como Lotus, Spyker e Pagani. Mas, como no Brasil parece haver um consenso de que luxo é dinheiro e dinheiro é luxo, o sucesso de tais modelos é outro sinal do vigor do segmento de alta renda por aqui.

NÚMEROS MÁGICOS
Alguns números servem para ilustrar o crescimento local dos produtos automotivos premium e de luxo, especialmente na comparação com o mercado em geral. Um bom ponto de partida é 2007, que cravou o atual recorde anual na venda de veículos por aqui -- mais de 4,25 milhões de unidades emplacadas, segundo a Fenabrave, que reúne as concessionárias de todo o país.

FINANCIAMENTOS CRESCEM

Quem não tem dinheiro para comprar um carro de luxo à vista e se sente mal ao saber que as vendas do segmento só aumentam, pode relaxar um pouco: mesmo os ricos financiam seus carros zero quilômetro.
O Banco Mercedes-Benz, por exemplo, acaba de anunciar que, entre janeiro e novembro, concedeu financiamentos no valor de R$ 2,7 bilhões a clientes brasileiros da montadora.
Segundo nota da instituição, foram financiados 15.350 veículos Mercedes zero quilômetro neste período de 2009, contra 11.351 em 2008 -- um acréscimo de 35%. A participação do banco nas vendas da fábrica atingiu a marca de 30,4%, ante 20,8% no mesmo período de 2008.
Segundo a assessoria da instituição, cerca de 10% de todos os financiamentos são para veículos leves -- carros de passeio, como os sedãs Classe C, E e S, e utilitários como os Classe ML e o GLK. Ou seja, por volta de 1.500 compradores de um carro Mercedes este ano o fizeram em parcelas. Pouco mais de 16% do total. Não é muito, mas é um consolo para quem (ainda) só pode sonhar...

Naqueles 12 meses, a Audi vendeu magras 370 unidades do A4; a Mercedes emplacou 972 unidades do Classe C; e a BMW conseguiu vender 1.100 unidades do Série 3. Os três modelos são os menores sedãs de cada marca, de porte equivalente aos campeões de vendas Honda Civic e Toyota Corolla.

Dois anos depois, 2009 ainda nem terminou (os números vão até o final de novembro) e o desempenho desses três carros nas lojas já fala por si. O A4 foi para a garagem de 630 novos donos (um crescimento de 70%); o Classe C vendeu 1.588 unidades (mais 63,3%); e o Série 3 emplacou 1.916 carros (mais 74,2%). Não custa lembrar que, em relação a 2007, a Fenabrave projeta para os 12 meses de 2009 um aumento bem menor, de cerca de 10%, nas vendas totais de veículos.

Falando em termos mais gerais, a Mercedes-Benz anunciou que, entre janeiro e novembro, emplacou 47% mais carros do que no mesmo período de 2008. Já a Audi projeta um crescimento de até 48% no ano cheio, e a BMW anunciou alta de 76% em suas vendas locais até novembro -- mês em que, isoladamente, a marca bávara cresceu inacreditáveis 318%. Segundo a Fenabrave, citando dados do Renavam, até o final de novembro a Mercedes havia emplacado 8.950 carros, a BMW, 4.594, e a Audi, 1.798.

NOVIDADES NÃO FALTAM
Não são apenas as vendas em ascensão que mostram o vigor do mercado premium no Brasil. Um outro indicativo disso é a rapidez com que os novos modelos desembarcam por aqui, às vezes poucos meses depois de apresentados no exterior. O novo Mercedes Classe E, por exemplo, teve lançamento mundial no Salão de Detroit, em janeiro último, e chegou às ruas brasileiras em junho. O fato de as marcas de luxo trabalharem com importação facilita essa atualização do portfólio -- mas é evidente que, se não houvesse demanda, não haveria tanta agilidade.

Também é significativa a quantidade de lançamentos. Dezembro geralmente é um mês fraco nesse quesito, mas a Audi, que somente este ano trouxe ao Brasil os novos modelos de A3, A4, A5 e A6, além do inédito crossover Q5, reservou esse mês para a apresentação dos esportivos S3 e TTS. Aliás, de tão entusiasmada com a onda do luxo no Brasil, a marca dos quatro aros chegou a mostrar à imprensa um carro que só virá ao Brasil em 2010: o nervosíssimo RS6. A importação será a conta-gotas, para vender dez unidades do sedã e dez da station wagon ao longo de todo o ano. A R$ 500 mil cada carro (no mínimo), são R$ 10 milhões brutos na conta da Audi.

Já a Mercedes promete nada menos do que dez lançamentos apenas no primeiro semestre de 2010, entre carros próprios, da AMG (preparadora oficial) e da smart. Para Dimitris Psillakis, diretor de vendas e pós-venda para o Brasil, "a Mercedes estava certa quando manteve o plano de lançamentos em 2009, mesmo com a chegada da crise no início do ano".

E agora que essa crise parece ter ficado para trás, nada mais natural que pisar fundo no acelerador. Sorte de quem gosta de carros e tem (muito) dinheiro para gastar...