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Câmbio automatizado vira diferencial no mercado de compactos

Auto Press

13/12/2009 09h00

Em um ambiente superpovoado, é preciso ter diferenciais para se destacar na multidão. No caso dos segmento de compactos do mercado brasileiro, divisão que responde por mais de 70% das vendas de veículos no Brasil, cada modelo busca um jeito de se diferenciar. A novidade entre os compactos são os câmbios automatizados. Começou com o Easytronic, da General Motors, no monovolume Chevrolet Meriva em 2007. Recentemente, Volkswagen Polo, Gol e Voyage ganharam suas versões com a transmissão I-Motion, lançada este ano. E a líder Fiat também aplicou seu sistema Dualogic, antes só disponível no hatch Stilo e no sedã Linea, no Idea, Siena, Palio Weekend e no popular Palio. Na verdade, os câmbios automatizados apelam para o conforto e aparecem como proposta mais barata que os câmbios automáticos convencionais, já oferecidos em modelos como Peugeot 207, Citroën C3, Honda Fit e City e no Kia Picanto.

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    Descanse o pé esquerdo: Proposta de automatizados é aumentar conforto no trânsito moroso

Os especialistas garantem que a principal razão para a popularização dos câmbios automatizados reside nas grandes cidades. O trânsito cada vez mais estagnado seduz os consumidores das metrópoles a valorizarem o simples conforto de não ter de trocar marchas e utilizar a embreagem o tempo todo no anda-e-para dos engarrafamentos. Para se ter uma ideia, a versão I-Motion do Polo já tem quase 30% de participação nas vendas totais do compacto -- em São Paulo, ultrapassa os 35%. "Hoje, no Brasil, temos 80 cidades com problemas graves de trânsito. Com isso, é natural as pessoas buscarem mais conforto para este cotidiano", associa Fabrício Biondo, gerente de marketing da Volkswagen.

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    Chevrolet Meriva oferece automatizado desde 2007

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    Fiat Palio faz parte da ampliada família Dualogic

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    VW Polo recebeu o I-Motion antes de Gol e Voyage

SIMPLIFICAÇÃO
Para oferecer conforto em um segmento hipersensível a variações de preço, o jeito foi usar um sistema mais simples. Em vez de conversor de torque e sistemas planetários, como em uma transmissão automática tradicional, o câmbio automatizado nada mais é que uma caixa de velocidades comum com embreagem tradicional, mas de acionamento autônomo -- um software, fornecido pela Magneti Marelli para Fiat e Volkswagen, e pela Luk para Chevrolet, coordena a ação -- e um braço robotizado que faz as trocas de marcha.

Mais simples, o equipamento acaba por ter um custo até 60% menor que o de uma caixa automática padrão. No mercado atual, o preço de um câmbio automatizado varia entre R$ 2 mil e R$ 2.500. "Este sistema foi pensado para unir o conforto da função automática sem roubar potência do motor ou aumentar o consumo do carro. E por não roubar potência do motor, pode ser aplicado em motores menores", defende o engenheiro Carlos Henrique Ferreira, assessor técnico da Fiat. De qualquer forma, todos os modelos que usam o sistema têm mais de 100 cv.

Além de aumentar o custo dos modelos, as marcas também tiveram de enfrentar barreiras culturais. Nos anos 90, câmbios automáticos geralmente se concentravam em modelos de luxo e as pesquisas das próprias montadoras detectavam que o brasileiro tinha preconceito contra este tipo de transmissão -- achavam que o câmbio fazia os carros beberem muito e ficar com a manutenção muito cara. No fim da década, essa resistência começou a diminuir e alguns fabricantes até se arriscaram com embreagens automáticas, semelhantes às usadas nos automatizados, mas que ainda exigiam a intervenção do motorista na troca de marcha -- casos do Mercedes Classe A e versões da família Palio. "Na época, não tinha muito valor agregado. Atualmente virou alternativa ao câmbio automático com a vantagem de ter custo inferior", explica Paulo Roberto Garbossa, consultor da ADK Automotive.

Quem voltou à carga foi a Honda, em 2003, ao lançar o Fit com uma caixa do tipo CVT -- sigla para transmissão continuamente variável, acionada por um jogo de polias. Na nova geração, em 2008, o câmbio deu lugar a uma transmissão automática tradicional, de cinco velocidades. Em 2007, Peugeot e Citroën disponibilizaram versões automáticas para 206 e C3. Na época, pesquisas de mercado sinalizavam um desejo do cliente pelo equipamento. "Teve tanta aceitação no hatch e na SW do 206 que replicamos o câmbio em toda a linha 207, inclusive no sedã Passion", enaltece Juliano Rossi Machado, gerente de produto da Peugeot.

Ao mesmo tempo, o item surgia também para requintar a imagem das marcas, com a associação do fabricante a uma percepção de tecnologia. "Clínicas mostram que os consumidores enxergam o equipamento como uma transmissão inteligente", valoriza Biondo, da Volks. "As borboletas atrás do volante em certos modelos dão imagem de tecnologia de ponta, já que é um tipo de acionamento que foi muito difundido pela Fórmula 1", faz coro Garbossa.

NO PONTO DE VENDA
Apesar da "democratização", o brasileiro ainda é pouco familiarizado com câmbios automáticos e automatizados. Por esta razão, a maioria das marcas desenvolveu um treinamento específico na rede para explicar como funcionam esses tipos de transmissão. Pelo programa das montadoras, os vendedores devem explicar detalhadamente o funcionamento do equipamento para que o cliente entenda e saiba como usar melhor -- principalmente no caso dos câmbios automatizados, com seus indefectíveis trancos. "Não é um automático, tem o tempo certo de trocas das marchas. Por isso, só entregamos carros para revendedores que passaram no treinamento", garante Biondo, da Volkswagen.

No ponto de venda, porém, o cliente que quer o carro automático ou automatizado geralmente já chega com o modelo certo na cabeça, segundo levantamento das próprias montadoras. "O cliente geralmente já vai com essa noção. Havia preconceito e poucas pessoas sabiam mexer no câmbio. Hoje ficou mais conhecido. E, de qualquer forma, o vendedor é treinado para explicar como funciona", assegura Juliano Rossi Machado, gerente de Produto da Peugeot. (por Fernando Miragaya)