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Chevrolet Agile agrada de dentro para fora

Claudio de Souza

Do UOL, em São Paulo (SP)

18/11/2009 10h00

Na primeira das várias eleições anuais do "carro do ano", a da revista "Auto Esporte", o Chevrolet Agile foi o grande vencedor. UOL Carros não tem direito a voto nesse pleito, mas provavelmente também escolheria o novo compacto da marca da General Motors como o destaque de 2009. Não necessariamente por suas qualidades como produto, e sim pela importância estratégica que ele tem para ajudar na recuperação dessa montadora que, um dia, dominou o mundo.

A GM do Brasil é tida como relativamente "descolada" da matriz dos Estados Unidos, e por isso o investimento de US$ 2,5 bilhões iniciado em 2007, o qual incluía a criação de uma nova família de carros compactos -- o projeto Viva, de onde nasceu o Agile -- não chegou a ser ameaçado pela crise que levou a GM dos EUA a pedir concordata e se desfazer de marcas como Saturn, Pontiac, Hummer e Saab. Mas a participação da Chevrolet no mercado verde-amarelo é cambaleante (hoje é a terceira colocada, com 20,3%), enquanto as concorrentes Fiat e Volkswagen se esmeram em apresentar novidades (qualquer coisa vale, até pacote de equipamentos) em ritmo acelerado. Isso num cenário em que aumenta a cada dia a importância de ganhar espaço em mercados emergentes e ainda distantes do esgotamento -- como o próprio Brasil e a América Latina, a Rússia e, principalmente, a China.

  • Murilo Góes/UOL

    Mesmo com suspensão e carroceria elevadas, Agile apresentou boa estabilidade e conforto

Dessa forma, a aposta da GM local tinha de ser alta. Se depois do Agile na carroceria hatch devem vir ao menos uma picape pequena e um SUV urbano (este provavelmente mais próximo do VW CrossFox do que do Ford EcoSport, e cuja atual inexistência é um verdadeiro rombo no catálogo da Chevrolet), o primeiro membro da família chega para brigar com os "compactos com algo mais" -- carros como o Renault Sandero, que oferece design e espaço; Fiat Punto, "europeu" e bonito; e Volkswagen Fox, "altinho" e prático.
 

Mesmo os chamados compactos premium, como Citroën C3 e VW Polo, estariam na alça de mira do Agile. Alinhavando todos esses modelos está o preço: com motorização acima de 1.0 litro e equipamentos desejáveis (ar-condicionado, trio elétrico), eles não custam menos de R$ 35 mil; dependendo do que o consumidor acrescentar à configuração, podem facilmente atingir os R$ 50 mil.

O Agile tem duas versões, a LT e a LTZ, denominações que seguem os novos padrões globais da Chevrolet. A primeira (a partir de R$ 38.107) conta com rodas aro 15 (de aço), ar-condicionado com display digital, direção hidráulica, ajuste de altura para bancos, computador de bordo com controlador de velocidade (piloto automático) e acendimento automático de faróis. A partir de R$ 40.020, também no "monte seu carro" do site da GM, a segunda oferece rodas de alumínio aro 15, retrovisores elétricos, faróis de neblina e rádio com CD, MP3/WMA, entradas auxiliar e USB, Bluetooth -- além de trio elétrico, ajuste de altura para volante e bancos rebatíveis. Para variar, airbags e os sistemas ABS (antitravamento) e EBD (distribuição de força) nos freios são opcionais. É um conteúdo que, no papel, causa boa impressão.
 

  • Veja a lista de equipamentos das duas versões do Chevrolet Agile

    Recebemos para teste uma unidade LTZ pintada no polêmico verde-alface metálico (descrito pela GM como "amarelo carman") que você vê nas fotos que acompanham esta reportagem. É a mesma cor dos carros das fotos de divulgação e do lançamento em Mendoza, na Argentina. A ideia certamente é chamar atenção nas ruas por onde nós e demais jornalistas automotivos guiamos o Agile.

    Tudo bem, mas é uma cor horrível. Preferiríamos o tom de cinza mais escuro que vimos num exemplar exposto numa concessionária de São Paulo (afinal, vendedor é que sabe o que espanta e o que atrai os seus clientes). Enfim: confessamos que foi difícil superar uma inicial má vontade com o "nosso" Agile. Não gostamos de aparecer.

    Se a cor de lançamento fosse a única polêmica cercando o carro já estaria de bom tamanho. Há outra: seu nome -- que quebra a tradição da marca de usar palavras inventadas e terminadas em "A" (existe até um Opel Agila) -- deve ser pronunciado como "Ágile", mas a grafia não traz o acento, e quase todos os não-iniciados que ouvimos optaram por falar "Agíle".

    E, claro, a principal polêmica: as linhas externas.
    • Murilo Góes/UOL

      Desarmonia entre frente e traseira e linha lateral 'emprestada' de sedãs causam estranhamento

    BOI NA BRASA (DOS LEITORES)
    Mais de 800 internautas opinaram sobre o Agile num grupo de discussão de UOL Carros assim que o modelo foi lançado. A maioria detestou a aparência. Houve quem o comparasse à aberração-mór do design automotivo moderno, o Pontiac Aztek; outro disse que a frente "parece a cara de um boi". Exageros à parte, não é difícil concordar com a afirmação de que o Agile é, no mínimo, esquisito.

    A FAVOR

    O carro apresenta um visual ainda estranho para nós, mas tendência em vários modelos de diversas categorias: frente grande e visual indefinido entre hatch, jeep, suv...é só ver alguns lancamentos de Frankfurt para comprovar que os carros com 'carona' estão em alta

    Tiago CM, de São Paulo (SP)
    A grade dianteira em forma de escudo, seccionada por uma barra horizontal na cor da carroceria (no nosso caso, cor de alface), segue o novo padrão global da Chevrolet, mas seria suficiente para uns dois carros. Já os faróis, de formato irregular e avançados sobre a lateral, dariam para quatro (ou então para um caminhão pequeno). É flagrante a desarmonia do conjunto óptico dianteiro com as lanternas traseiras, que são bem menores (e dão para um carro só). Elas lembram um pouco as mesmas peças do atual Suzuki Swift, enquanto os megafaróis parecem extraídos de compactos reais (o já citado Agila) ou imaginários (o conceito Chevrolet Beat) da gama da GM, tendo sido depois hipertrofiados e lapidados.

    Some-se a isso o envidraçamento lateral em forma de arco (como o de um sedã), o qual diverge do formato do teto (no padrão "normal" dos hatches) e que proporciona espaço para o bizarro acabamento em preto na coluna C; e as caixas de roda enormes, que deixam um notável vão entre suas bordas e os pneus -- parece até que a carroceria foi levantada no borracheiro.

    Com esses excessos na forma, fica parecendo que o Agile é um crossover compacto aprisionado num hatch familiar. Não à toa, executivos da GM do Brasil já descreveram o carro como um "mini-Captiva", e a mídia automotiva aposta numa versão "off-road light" do Agile para breve.

    CONTRA

    Como potencial comprador desse tipo de veículo, torço para que o Agile não dê certo. Não somente por causa da plataforma defasada, e da qualidade duvidosa, mas principalmente pra GM perceber que já é hora de nos fornecer veículos mais bonitos, baratos e confiáveis

    João V. Santos e Silva, de São Paulo (SP)
    Por dentro, no que toca os olhos, a estratégia do Agile é agradar com uma conjugação de modernidade, conforto e alguma sofisticação. Nisso o carro é mais bem-sucedido que em seu exterior. O painel com iluminação azul (igual à de modelos da Ford) privilegia o mostrador digital e afasta velocímetro e conta-giros, estes com ponteiros, para as laterais; os comandos do painel central e os que ficam à esquerda do motorista são bonitos e parecem saídos de um carro bem mais caro; o display do ar-condicionado é digital e tem estilo para encher de orgulho os consumidores preocupados com aparências; já a alavanca do câmbio, cujo sistema é manual (uma versão com a automatização Easytronic é aguardada para breve), apresenta um desenho mais encontrável em carros automáticos.

    IMPRESSÕES AO DIRIGIR
    Antes de girar a chave, o motorista do Agile senta-se diante do volante e logo acha uma boa (e elevada) posição para guiar. Também poderá apreciar a agradável padronagem dos bancos (aveludados) e a sensação geral de espaço. Dá até para relevar o excesso de plásticos (a bandeja do porta-luvas é inacreditável). Esses elementos qualitativos são fundamentais para encarar rivais como Fox, Punto e Sandero, entre outros. Há uma ressalva principal a fazer: os pedais são desalinhados, com o acelerador lá no fundo" do assoalho, o que pede tempo e jeito para se acostumar.

    Quanto aos comandos, dois comentários necessários, que ilustram como a vontade de ser premium pode gerar resultados ambivalentes. O Agile que experimentamos oferece acendimento automático dos faróis, um interessante "plus" para o segmento -- e que, justamente por incomum, até nos assustava a cada vez que entrava em ação (na garagem do prédio, por exemplo). Ponto positivo.

    Já o alerta de portas abertas funciona com uma luz de advertência cujo ícone fixo é um carrinho com a porta do motorista aberta. Na única vez que ela acendeu, tivemos de testar as quatro portas do Agile para saber qual estava aberta. E a resposta foi: nenhuma. Era o porta-malas. Que, aliás, uma vez travado, só abre com a chave... Ponto negativo.
    • Murilo Góes/UOL

      Com alguma inovação e modernidade, interior do Agile é mais bem-sucedido que seu exterior

    Com o motor Econo.flex 1.4 em funcionamento e um itinerário 100% urbano, rapidamente percebemos que o Agile é um carro bom de dirigir. O ponto alto é a conversa harmoniosa entre o câmbio de cinco marchas e o propulsor. Os engates são fáceis e precisos, e o escalonamento aproveita bem o torque algo limitado (falaremos dele adiante), garantindo agilidade (sem trocadilho) na cidade, especialmente nas saídas e nas manobras mais bruscas.
     
  • Veja a ficha técnica do Chevrolet Agile

    Oferecendo 102/97 cavalos de potência e torque de 13,5/13,2 kgfm (álcool/gasolina), o motor do Agile só fica devendo, mas não muito, quando tem de encarar aclives acentuados -- algo esperado devido à capacidade de 1,4 litro e à força abaixo da linha dos 15 kgfm num carro que pesa pouco mais de uma tonelada. Como comparação, o Fox com motor 1.6 entrega 15,6/15,4 kgfm consideravelmente antes que o Agile (2.500 rpm, contra 3.200 rpm do Chevrolet) e pesa praticamente o mesmo.

    Embora o computador de bordo tenha exibido pico de 8,5 km/l, o consumo ao final do nosso teste -- com pouco mais de 275 quilômetros rodados -- foi apenas razoável, com média de 7,7 km/l, sempre utilizando etanol como combustível.

    Por outro lado, apesar de o Agile ter suspensão e carroceria elevadas, comportou-se bem em termos de estabilidade e ofereceu conforto para os ocupantes -- a não ser em algumas pistas muito ruins. Como essas tendem a exigir mais do curso dos amortecedores, o Agile balança bastante. Em compensação, a abordagem a valetas e demais obstáculos tipicamente urbanos pode ser feita com certo destemor.

    Em suma: aprovamos a dirigibilidade do Agile. De dentro para fora ele é um "belo" carro, cumpridor de seu papel de compacto urbano/altinho/quase-premium. Resta saber o que o "de fora para dentro" pesará em sua performance no mercado. Em tempo: a GM havia programado emplacar modestas 3.500 unidades por mês -- em outubro, o Fox vendeu 8.844 unidades, o Sandero chegou a 5.283, e até o Citroën C3 vendeu mais do que isso, com 3.757 emplacamentos. O Agile, em sua entrada no mercado, atingiu 1.880 unidades, mas já levou o presidente da montadora, Jaime Ardilla, a anunciar a extensão da produção na fábrica de Rosário, na Argentina, para 6.000 unidades mensais até o início do próximo ano.