Mille Economy abdica de luxo para ser o nacional mais barato do mercado
A idade já pesa para o Fiat Uno. Quando foi lançado, em 1984, o compacto da marca italiana chamava a atenção pelo espaço interno otimizado, pelo acabamento honesto, pela boa interatividade e até pelo design. Ao longo desses 25 anos, o veterano modelo foi se simplificando. Perdeu algumas das virtudes, em busca de minorar o custo para sustentar o título de modelo nacional mais barato. Tanto economizou que agora faz jus ao sobrenome Economy, que ganhou no ano passado.
Ao longo de seus 25 anos, compacto da Fiat fez uso do pragmatismo para se popularizar
E mesmo com preços iniciais baixos em relação aos outros carros zero quilômetro comercializados no Brasil - R$ 22.180 na versão duas portas e R$ 23.830 na quatro portas -, o despojamento do modelo faz com que o custo/benefício não seja dos mais favoráveis. Ainda assim, vende. E muito. A média mensal tem se mantido superior a 14 mil unidades, o que faz o Uno Mille o terceiro carro mais vendido do país.
ÁLBUM DE FOTOS |
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A lógica para brigar no segmento de entrada do mercado é cruel e promoveu no hatch da Fiat um profundo enxugamento de equipamentos de série. Há tão pouco a se descrever que a montadora recorre ao expediente de destacar a existência de itens encarados como corriqueiros em qualquer carro normal.
ACELERADAS
- O Uno foi lançado internacionalmente em janeiro de 1983, no Cabo Canaveral, Flórida, base da lançamento da NASA, e começou a ser comercializado no Brasil em 1984. |
- O design original do Uno é de Giorgetto Giugiaro, renomado designer italiano. |
- O compacto passou por mudanças estéticas discretas em 1991, quando recebeu faróis afilados. Em 2005 ganhou nova grade e em 2009, quando recebeu o econômetro, ganhou mais uma vez novo conjunto ótico e grade. |
- No Brasil, o modelo também é vendido na versão Way, que conta com apliques de plástico no arco dos pára-lamas, pára-choques e frisos da grade em cinza, suspensão elevada em 4,4 cm e pneus 175/70 R13. Os preços são de R$ 22.660 e R$ 24.320, para duas e quatro portas. |
- No ano passado, os componentes do motor do Uno passaram por mudanças. As bielas se tornaram 30% mais leves e o mecanismo do comando de válvulas perdeu 27% de massa. |
- Para aproveitar os impostos mais cordiais para motores "mil", o Uno foi o primeiro nacional a adotar motor 1.0, em 1991. O propulsor gerava 48 cv e rendeu ao Uno o sobrenome Mille. |
São "requintes básicos" como alça de segurança para o carona, apoios de cabeça dianteiros com ajuste de altura, banco traseiro rebatível, brake-light, cobertura do porta-malas, espelho no para-sol do passageiro, tomada 12 V e vidros verdes. Uma novidade, implementada no ano passado, é o econômetro, um medidor no quadro de instrumentos que indica se o modo de dirigir está sendo econômico ou esbanjador.
Nada que fique muito aquém do que os rivais do nicho oferecem. O Volkswagen Gol G4 - geração antiga -, por exemplo, tem preços entre R$ 24.630 e R$ 26.220 - duas e quatro portas - e oferece a mais apenas regulagem de altura do banco do motorista e espelho no para-sol do condutor. O Chevrolet Celta Life começa em R$ 24.963 e R$ 26.447 e acrescenta apenas aviso de faróis acesos, conta-giros e controle manual interno dos retrovisores externos. No preço, até o sedã Classic pode brigar com o Uno, partindo dos R$ 25.379 e com um bom porta-malas de 390 litros, 100 a mais que o compacto da Fiat.
O rival mais equipado acaba por ser o Ford Ka, que custa R$ 24.510, oferece trava elétrica, abertura e travamento das portas na chave e abertura interna da tampa do porta-malas, mas só tem duas portas.
O Uno Mille, porém, tem o motor menos potente frente aos concorrentes. O propulsor 1.0 desenvolve 65 cv com gasolina e 66 cv com álcool a 6 mil rpm e torque máximo de 9,1 kgfm a 9,2 kgfm aos 2.500 giros - os demais têm potências entre 68 cv e 78 cv. Além disso, o hatch da Fiat foi simplificado ao extremo. Ao longo dos anos, perdeu, por exemplo, os comandos que se projetavam do painel e que forneciam uma boa ergonomia - as luzes são acionadas na mesma haste das setas.
Desapareceu também o simpático cinzeiro corrediço, que funcionava como um prático porta-objetos. O modelo adotou um carpete grosseiro, de qualidade duvidosa, no revestimento do assoalho e do console central. O acabamento exibe falhas que não ocorriam no Uno da década de 80. Além disso, itens como apoios de cabeça traseiros e comando interno manual dos espelhos externos, só como opcionais.
FICHA TÉCNICA
Fiat Mille Economy 1.0 8V Flex |
Motor: A gasolina e álcool, dianteiro, transversal, 999 cm³, com quatro cilindros em linha, duas válvulas por cilindro e comando simples no cabeçote. Acelerador eletrônico e injeção eletrônica multiponto seqüencial. |
Transmissão: Câmbio manual de cinco marchas à frente e uma marcha a ré. Tração dianteira. Não oferece controle de tração. |
Potência: 65 cv a com gasolina e 66 cv com álcool a 6 mil rpm. |
Torque: 9,1 kgfm com gasolina e 9,2 kgfm com álcool a 2.500 rpm. |
Diâmetro e curso: 70,0 mm X 64,9 mm. Taxa de compressão: 11,7:1. |
Suspensão: Dianteira independente do tipo McPherson, com molas helicoidais, amortecedores hidráulicos e barra estabilizadora. Traseira com rodas independentes, braços inferiores oscilantes, feixe de molas transversal e amortecedores hidráulicos. Não oferece controle eletrônico de estabilidade. |
Freios: Discos sólidos na dianteira e traseiros a tambor. Não oferece ABS. |
Carroceria: Hatch em monobloco com quatro portas e cinco lugares. Com 3,69 metros de comprimento, 1,55 m de largura, 1,49 m de altura e 2,36 m de distância entre-eixos. Não oferece airbags. |
Porta-malas: 290 litros. |
Peso: 830 kg. |
Tanque: 50 litros. |
Pelo menos há como deixar o Uno mais equipado. Por R$ 5.331, o modelo recebe o chamado kit Celebration, que inclui ar-condicionado, direção hidráulica, vidros dianteiros e travas elétricos, preparação para som com quatro alto-falantes e antena, lavador, desembaçador e limpador do vidro traseiro, além dos comandos dos espelhos manuais e dos apoios de cabeça atrás. Adicionados ainda o rádio/CD/MP3 e as rodas de liga leve aro 13, como na versão avaliada, o Uno chega a R$ 30.120.
De qualquer maneira, ainda é competitivo frente aos rivais com os mesmos itens. E ser o mais barato em um nicho em que o preço pesa tanto é uma boa tática para deixar a idade em segundo plano.
IMPRESSÕES AO DIRIGIR
Ao entrar em um Uno Mille, logo se tem noção de que, no segmento de compactos de entrada, a realidade é diferente. Quadro de instrumentos sem conta-giros, revestimentos um tanto toscos e acabamento com falhas aparentes deixam claro que trata-se de um veículo do chamado mercado de modelos populares, onde o que importa é o custo/benefício e pagar o menos possível para se ter um carro zero. Como forma de consolo, os concorrentes do modelo da Fiat não ficam muito atrás - ou melhor, à frente - quando o assunto é qualquer aspiração de requinte ou equipamentos.
Na resignação do mercado, porém, o Uno se destaca em alguns quesitos. O desempenho é quase típico de um motor 1.0, mas oferece pelo menos arrancadas competentes e um zero a 100 km/h em razoáveis 14,8 segundos. Muito graças ao baixo peso do modelo, 830 kg. Nas retomadas o compacto da Fiat também se sai bem. O 60 km/h a 100 km/h em quarta, por exemplo, foi obtido em 10,3 segundos. Além do peso, aí contribui o torque de 9,2 kgfm já disponível nos 2.500 giros. Ou seja, enfrentar serras e fazer ultrapassagens não é tão sofrível como na maioria dos carros "mil".
Se no desempenho o Uno disfarça, na estabilidade revela sua idade. O comportamento dinâmico do carro deixa a desejar em várias situações. Nas curvas, mesmo em velocidades normais, não transmite grande segurança. A carroceria tem baixa rigidez torcional e o carro ameaça sair de frente. A situação é agravada pelos pneus estreitos e com pouca resistência à rolagem. Na retas, é até possível colocar o ponteiro do velocímetro nos 150 km/h, mas o carro trepida bastante. E antes disso, a partir dos 110 km/h, a comunicação entre rodas e volante já começa a dar sinais de imprecisão. Nas frenagens bruscas, o comportamento do Uno não é diferente. A frente mergulha bastante e o modelo novamente trepida demais.
Por dentro, porém, o Uno ainda mantém algumas poucas virtudes. A ergonomia permanece inteligente, com vários comandos ao alcance das mãos do motorista. A posição elevada de dirigir e a ótima visibilidade também contribuem para a vida do condutor. O espaço para pernas e cabeças continua até bom para um compacto. Mas faltam porta-objetos no interior do modelo. Já o consumo se mostrou regular, com a média de 8,1 km/l com álcool e uso 2/3 na cidade e 1/3 na estrada. Em um mercado de modelos flex quase sempre "beberrões", até que o veterano compacto da Fiat justifica um pouco, também aí, o sobrenome Economy. (por Fernando Miragaya)
DE ZERO A 100 PONTOS, O FIAT UNO MILLE ECONOMY
Desempenho - O baixo peso do modelo - 830 kg - facilita a vida do motor de 66 cv - com álcool - do Uno Mille Economy. Para um propulsor mil cilindradas, as arrancadas até que são honestas, mas estão longe de oferecer qualquer vigor. O câmbio trabalha bem com a unidade de força e as respostas ao pedal do acelerador não chegam a ser morosas. Sair da inércia e alcançar os 100 km/h consumiram 14,8 segundos, por exemplo. Já as retomadas ainda têm um outro bom aliado: o torque, que apesar de não ser grandes coisas, já está disponível aos 2.500 giros. Ou seja, o Uno encara ultrapassagens e trechos de subida com relativa vontade, mas não a ponto de ficar à vontade em trechos rodoviários. Nota 7 |
Estabilidade - É o quesito onde a idade do Uno pesa mais. Nas retas, acima dos 110 km/h, a frente já dá sinais de flutuação. Nas curvas em velocidades, nem muito elevadas, a carroceria torce bastante e o modelo faz menção de que vai desgarrar. Nessa situação, os finos pneus 165/70 prejudicam ainda mais o comportamento dinâmico do modelo. Nas freadas bruscas, o modelo trepida bastante e a traseira levanta além do recomendável. Nota 5 |
Interatividade - Apesar de ter perdido soluções práticas ao longo dos anos, o Uno continua a ser um modelo ergonomicamente bem concebido. Mesmo sem ajuste de altura do banco e do volante, a posição de dirigir é encontrada facilmente. Além disso, com exceção do rádio, a maioria dos equipamentos e botões é bem posicionada e intuitiva, sem obrigar desvios de atenção por parte do motorista. A dirigibilidade ainda é facilitada pela ótima visibilidade, pela eficiente visualização do quadro de instrumentos e pela direção leve. Já o câmbio até tem engates macios, mas é um tanto esponjoso e barulhento - além da ré exigir um certo esforço do condutor. Nota 7 |
Consumo - Para um modelo que ostenta em seu nome o termo Economy, o Uno Mille merecia ter uma média melhor que 8,1 km/l com álcool e uso 2/3 na cidade. Mas na comparação com outros modelos flex, mesmo com motor 1.0, o consumo é bem decente. Nota 7 |
Conforto - Para um compacto, o Uno até que oferece bom espaço para pernas, tanto atrás quanto na frente. A boa altura do hatch ainda propicia um bom vão para as cabeças, mas atrás é recomendável apenas para dois adultos. O modelo é leve, o que prejudica ainda mais a absorção dos buracos na pista e os quiques dentro do habitáculo são inevitáveis nessa situação. O isolamento acústico do motor, por sua vez, é quase inexistente. Nota 6 |
Tecnologia - A plataforma do Uno nasceu de uma reengenharia da base usada no velho 147 e mesmo esta adaptação já passou dos 25 anos. Neste quarto de século, o modelo não evoluiu nada. O motor 1.0 também não remete à modernidade e o hatch não oferece nenhum item de segurança além dos obrigatórios, sequer como opcional. O único destaque no conjunto mecânico é a suspensão traseira independente - herança direta do 147. Nota 5 |
Habitabilidade - Os porta-objetos sumiram do Uno Mille. Um pouco prático buraco à frente do câmbio não consegue acomodar nem mesmo uma carteira. Os porta-trecos nas portas são rasos e estreitos. O jeito é apelar para a ampla bandeja na parte superior do painel, mas nas curvas os objetos tendem a escorregar de um lado para o outro. As portas retangulares e a boa altura do modelo facilitam o acesso e a saída dos passageiros. Já o porta-malas recebe 290 litros e está adequado ao segmento de hatchs compactos. Nota 6 |
Acabamento - O Uno também perdeu muito nesse aspecto. Os plásticos usados no revestimento do painel aparentam baixa qualidade. Não agradam aos olhos nem ao toque. Assim como o rústico carpete acinzentado que forra todo o assoalho e o que seria o console central do compacto. Os tecidos são grosseiros, sintéticos e escuros demais. Os encaixes de peças e painéis não chegam nem perto de serem precisos. Além disso, algumas rebarbas estão aparentes nas emendas do teto e das portas. Nota 5 |
Design - Na época do seu lançamento no Brasil, o Uno recebeu o apelido de "botinha ortopédica", numa referência ao seu perfil estilo caixotinho, com corte seco na traseira e capô envolvente. Visto de lado, o modelo manteve o estilo, que não deixa de ser simpático e quase "retrô". Mas as soluções adotadas pela Fiat para reestilizar o compacto não foram felizes. O conjunto ótico afilado e a grade pronunciada deixaram a frente do modelo com desenho controverso. Nota 5 |
Custo/benefício - A proposta do Uno é ser barato. E só. Por isso, poupa qualquer borrachinha para se manter como o modelo nacional de menor preço do mercado. E por R$ 23.830 na configuração quatro portas, oferece quase a mesma coisa que seus principais rivais - Gol G4, Ka, Celta e Classic - por, às vezes, centenas de reais a menos. Só que é o projeto mais antigo entre todos do segmento. Para o mercado brasileiro, é efetivamente barato. Mas também não dá motivos para cobrar mais. Nota 7 |
Total - O Fiat Uno Mille Economy somou 60 pontos em 100 possíveis. NOTA FINAL: 6,0 |
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