Motociclistas ignoram recall; redes sociais podem ser solução

Imagine estar na rodovia e, sem aviso, sua moto desligar e ficar sem freio antes da curva... Ou, então, estar numa trilha de terra e o quadro se partir ao meio. Estas são apenas duas das possibilidades mais assustadoras de "falhas" que levaram a recalls de diversas fabricantes de motos no Brasil este ano.
Desde janeiro, mais de 20 modelos apresentaram problemas que colocam em risco a vida do proprietário (daí a necessidade do recall, segundo a lei), com cerca de 50 mil unidades afetadas. O que mais causa alarme: apenas três em cada 10 motos são reparadas, tudo por falha de comunicação.
Não importa a marca ou tipo e valor de moto: Honda, Yamaha, Harley-Davidson, BMW, Suzuki, Triumph, Kawasaki -- todos os principais fabricantes já divulgaram recall de seus modelos na temporada.
É um cardápio de defeitos aterrador: panes no sistema de freio ou de airbags, falhas de trem-de-força (lubrificação, ignição) ou fraquezas de estrutura (fixação do cavalete lateral ou rompimento do quadro. Qualquer um desses problemas é capaz de causar graves acidentes.
Seu veículo tem recall?
Para saber se o veículo necessita passar por recall basta entrar no site do Denatran (www.denatran.serpro.gov.br) e clicar em CONSULTA.
Digitando o número do chassi e realizando a pesquisa, o proprietário é informado sobre as ocorrências existentes em relação a recall.
UOL Carros também reúne as ocorrências, conforme são divulgadas por fabricantes ou pelo Procon na página especial de Recall (http://carros.uol.com.br/recall).
Ninguém sabe, ninguém viu
A obrigação do fabricante é publicar anúncios informando da convocação (chamamento ou recall, no termo em inglês popularizado) em jornais, televisão, rádio, internet ou revistas de grande circulação, como exige a lei criada há 25 anos.
O problema é que tais veículos de comunicação eram eficientes, hoje não.
Segundo José Eduardo Gonçalves, diretor executivo da Abraciclo (entidade que reúne os fabricantes do setor), a eficiência do recall entre os motociclistas é bastante baixa: "Pouco mais de 30% das motos são levadas às concessionárias para realizar o conserto necessário, porque, muitas vezes, o motociclista nem fica sabendo".
Para o executivo, seria interessante intensificar a divulgação nos meios eletrônicos: portais, blogs e redes sociais seriam as formas mais eficientes para se divulgar o recall, atualmente.
Tudo online
Enquanto as formas oficiais de divulgação de recall mostram ineficiência, as comunidades virtuais já apresentam resultados melhores.
Recentemente, a Yamaha divulgou a notícia de que mais de 40 mil unidades do modelo XTZ 150 Crosser deveriam ter o quadro substituído por risco de rompimento.
Segundo a marca, nem todos os clientes ficaram sabendo da notícia por televisão, jornal ou rádio. Um exemplo é o comerciário Heverton Muller, de Nova Santa Rita (RS), que teve conhecimento pela comunidade de usuários do modelo no Facebook.
Ainda assim, Muller ficou cheio de dúvidas -- algo comum entre muitos motociclistas: "Não sabia se pagaria alguma coisa, quando tempo demoraria o serviço ou mesmo se o documento deveria ser trocado".
Sem endereço
Um procedimento até comum realizado por algumas concessionárias é o contato com o proprietário que comprou a moto zero-quilômetro, em caso de recall. Quando a moto é revendida, porém, a concessionária perde essa capacidade, pois o endereço do novo proprietário é geralmente desconhecido.
"Uma forma de resolver esse problema seria o Denatran fazer a comunicação para o novo dono ou mesmo nos fornecer o endereço", aponta Golçalves, da Abraciclo.
O executivo afirma que a a entidade se prontificou a arcar com os custos de envio de telegrama ou e-mail, mas não obteve resposta positiva do órgão.
Último recurso... também falha
O último recurso para alertar consumidores sobre a necessidade de fazer o recall, e que está previsto em lei, seria a inclusão do chamado de revisão no documento da moto.
É o que determina a Portaria Conjunta nº 69 de 15/12/2010, da Secretaria de Direito Econômico e do Diretor do Departamento Nacional de Trânsito.
O texto da portaria diz que "o veículo que não for reparado/inspecionado em até 12 meses, após o início da campanha de recall, terá a informação lançada no campo 'observações' do próximo CRLV (Certificado de Registro e Licenciamento de Veículo) emitido pela autoridade de trânsito".
Na prática, porém, os documentos não trazem o aviso. "Em quase trinta anos vendendo e comprando carros e moto nunca vi isso", informou Humberto Cury, consultor de vendas da BG Motos, de São Paulo, quando procurado pela reportagem.
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