Alguns motociclistas agem mal, e todos levam a fama
No último dia 28 de outubro, o voo JJ 3345 da TAM decolou de Belo Horizonte (MG) com destino a São Paulo (SP) e foi obrigado a retornar ao aeroporto mineiro por conta do "comportamento inadequado" de um grupo de passageiros. Segundo a imprensa, em versão não confirmada pela companhia aérea, o funkeiro MC Lon e sua equipe estavam envolvidos.
VEJA A AGRESSÃO EM NY
Para o bem e para o mal, as pessoas sentem-se fortalecidas quando estão em grupo. Segundo o psicólogo francês Gustave Le Bon, "os instintos são aflorados, às vezes de forma irresponsável; há o fenômeno do contágio, que influencia o individuo a tomar atitudes que não tomaria se estivesse sozinho”.
Talvez Le Bon possa explicar outro incidente, ocorrido nos arredores de Nova York (EUA). Uma mãe, com o filho de dois anos no colo, viu seu marido ser arrancado do carro e brutalmente espancado por um grupo de motociclistas. Dá para imaginar o trauma a que esta criança foi submetida, e quais serão as consequências.
Para azar dos motociclistas do mundo todo, a cena em NY, registrada em vídeo, foi amplamente divulgada nas redes sociais, e com grande repercussão. Um canal de televisão do Brasil fez até uma enquete para saber a opinião dos telespectadores: quem estava com a razão?
Isso porque o incidente começou após uma colisão entre o Land Rover, que levava a família, e uma das motos. Acuado pelo grupo de motociclistas, o motorista Alex Lien acelerou seu carro para escapar da fúria do grupo. Na fuga, passou por cima de diversas motos e atropelou um dos motociclistas, que ficou ferido.
Durante passeio rodoviário, motos devem manter intervalo para facilitar ultrapassagens
Independentemente de qualquer coisa, o problema foi causado pelo posicionamento dos motociclistas na estrada. Os pilotos tomavam todas as faixas e atrapalhavam os demais usuários da rodovia. Segundo o jornal The New York Times, a polícia havia recebido 200 ligações denunciando tal postura e diversas infrações de trânsito, como cruzar farol vermelho, subir na calçada e fechar cruzamentos. Um comportamento típico de uma matilha, em que o indivíduo (como disse o psicólogo francês) sente-se fortalecido pelo grupo.
É um fenômeno também comum entre as torcidas organizadas do futebol. A sensação de poder transforma-se, na maioria das vezes, em brigas, confusões, vandalismo -- ou, como aconteceu nos EUA, num grave acidente.
CADA UM NA SUA
Quem costuma fazer viagens rodoviárias já deve ter cruzado com algum grupo de motociclistas. Eu mesmo já constatei como um grande número de motos na estrada torna a convivência entre os veículos bastante difícil e perigosa.
Mas tudo pode ser resolvido apenas com o bom senso. "Não é porque você está se divertindo que as outras pessoas devem ficar a sua mercê", diz o motociclista Edgard Cotait, fundador da Comunidade VMAS (sigla para Viagens de Moto pela América do Sul), que conta com mais de 1.400 integrantes. Recentemente, cerca de 300 membros da comunidade reuniram-se na cidade litorânea de Cananeia (SP). Imagine toda essa gente de moto nas ruas estreitas da cidade; apesar disso, não houve atropelos.
E nem mesmo o grande número de motos na estrada causou problemas, segundo Cotait. Alguns cuidados básicos facilitam a vida dos pilotos e dos demais usuários das vias. "Durante a viagem tomávamos cuidado para facilitar a ultrapassagem na rodovia", orienta.
O ideal é deixar um intervalo de "pelo menos três segundos" entre as motos, permitindo ultrapassagens. Nas alças de acesso é preciso cuidado redobrado, pois os carros e caminhões precisam entrar e sair da rodovia.
Esse tipo de postura durante o deslocamento do grupo, além de facilitar a vida dos outros usuários da estrada, previne acidentes entre os próprios pilotos. Basta uma visita a canais de vídeo para ver como esse tipo de colisão é comum. Quando não há distância segura, não há tempo para reação.
Olha quanta moto e quanto motociclista -- e está todo mundo em paz em Cananeia (SP)
PARADA EDUCADA
Assim como um pequeno grupo atrapalhou a vida de todos os passageiros do voo da TAM, muitos motociclistas atrapalham a vida dos motoristas até quando estão fora das rodovias. Nos postos de gasolina, por exemplo, os pilotos deixam suas motos junto às bombas e vão tomar lanche, usar o banheiro, fumar, bater papo etc. Enquanto isso, as moto impedem que outros veículos abasteçam... A situação pode ficar ainda mais desagradável quando motociclistas entram no restaurante aos berros, como se tivessem alugado o espaço, e espalham seus pertences, como capacetes e jaquetas, nas mesas e cadeiras do lugar.
É assim que, talvez sem perceberem, esses pilotos prestam um mau serviço ao motociclismo, pois a imagem que fica para a sociedade é a de que todo usuário de moto não tem educação -- assim como os passageiros TAM devem estar pensando que todo funkeiro é baderneiro. É desse jeito que, graças aos erros de uma minoria, nasce o preconceito.
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