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Salão de Motos da China destaca estilo europeu e modelos grandes

Arthur Caldeira

Da Infomoto, em Chongqing (China)

22/10/2013 20h52

Enquanto as vendas de motos na China apresentaram queda no último ano, a capacidade cúbica dos novos modelos tem aumentado. É o que comprovam os lançamentos apresentados na 12ª edição da Chinese International Motorcycle Trade Exhibition (CIMAMotor, que chamaremos aqui de Salão de Motos da China 2013), evento realizado em Chongqing, sudoeste do país, de 17 a 20 de outubro.

Na única feira exclusiva para motos no país, as principais novidades não eram as motonetas ou motos de 125 cc, mais comuns na China. Neste ano, as estrelas eram motos de 250 e 300 cc. A feira até ganhou manchetes da imprensa especializada global por ter sido palco para a apresentação da nova Honda CBR 300R, uma evolução do modelo de 250 cc. "Cada vez mais tem aumentado o número de consumidores chineses que procuram uma moto para lazer", justificou o diretor de operações da Honda na China, Sheiji Kuraishi.

A Kawasaki também aproveitou a feira para lançar modelos nesse segmento. Com a dupla Ninja 250 (o mesmo modelo vendido no Brasil, mas com motor de 250 cc) e Z250, sua versão naked, a Kawasaki quer atrair o motociclista que não quer apenas um meio de transporte.

Outro exemplo de lançamento para o "novo" motociclista chinês veio da japonesa Suzuki. A Inazuma 250, lançada no Salão Duas Rodas de São Paulo e na China chamada de GW 250, já ganhou uma versão semicarenada para o mercado asiático, além de uma linha de acessórios.

URBANIZAÇÃO
Essa mudança é em parte fruto da urbanização da China. "Antes, as motos eram projetadas e vendidas como veículos utilitários. Como muitas pessoas saíram do campo e vieram para as cidades, as motos também mudaram", afirma Wang Wei, diretor do salão chinês.

Wei justifica a queda de 12,7% nas vendas internas -- passando de 26.927.663 em 2011 para 23.650.688 no ano passado -- ao novo perfil do consumidor chinês. "Muitas lojas de motocicletas nas pequenas vilas rurais faliram. As pessoas vieram para a cidade e compram carros ou usam o transporte público e deixaram de comprar motos. Há ainda as bicicletas e os scooters elétricos, que são incentivados em muitas cidades como Pequim".

A J. Juan, fabricante espanhola de sistemas de freios, tem uma unidade de 25 mil m² em Zhejiang e já direciona 40% das suas vendas para modelos de 200 e 250 cc. "O consumidor chinês já tem casa e carro. Agora quer uma moto para se divertir", revela o espanhol Oliver Saura, diretor geral da J. Juan na China, creditando ao desenvolvimento econômico o surgimento de motores maiores nas motos chinesas.

MUITOS (E MESMOS) ESTILOS
A tendência fez com que os principais fabricantes chineses apostassem na nova fatia do mercado. A Jialing, um dos maiores grupos da China e dona da marca Traxx, que atua no Brasil, mostrou um novo modelo de 223 cc. A Loncin mostrou uma nova moto de 200 cc. A Lifan já conta com três motos de 250 cc em seu portfólio."Essa é definitivamente uma tendência. Os jovens bem sucedidos querem uma moto maior", diz o designer da Lifan, Jason Wang.

Juntamente com as motos de 250 cc, estão surgindo novos estilos no gigantesco mercado de motos da China, o maior do mundo. Além das street de 250cc, muitas montadoras apostam agora em motos de uso misto com desenho aventureiro e mais tecnologia, como injeção eletrônica, freios a disco e acessórios originais de fábrica. É o caso da Zongshen (RX3) e da Lifan: "Nossos engenheiros estão aprendendo com os europeus", revela Wang.

Em alguns casos, como acontece com outros produtos na China, o aprendizado vai além da inspiração e o produto final parece uma cópia. A Honda CBR 250R, que já mudou para 300 cc, servia de inspiração para modelos da Yingang e da Jiajue. Já a família Monster e as esportivas da Ducati eram claramente reproduzidas pelos modelos Space Ranger de 300cc da Wonjan.

CONTRADIÇÃO
Pode parecer contraditório, mas a China, o maior mercado de motos do planeta, ainda mantém as proibições quanto ao uso de motocicletas nas grandes rodovias. E somente algumas cidades, como Chongqing, permitem o uso de motocicletas.

Apesar disso, os chineses querem andar de moto e a prova disso é o sucesso das marcas mundiais de motocicletas premium, como Victory, Harley-Davidson, Kawasaki e a própria Honda. Assim como faz no Brasil, a japonesa revelou planos de ter lojas exclusivas de seus modelos maiores. Na linha das concessionárias premium da Honda na China, está a nova CBR 500R, que acabou de ser lançada no Brasil.

Recentemente, a Harley-Davidson inaugurou mais uma loja conceito em Chongqing. E os lançamentos da marca americana em solo chinês não ficaram devendo em nada às novidades para o mercado brasileiro: nesta edição do salão chegaram por aqui a CVO Breakout e a nova Fat Bob, modelos que estrearam na última edição do Salão Duas Rodas.

"Tentamos estimular a cultura da motocicleta na China. Demos um prêmio a alguns motociclistas chineses que, mesmo com essa proibição de rodar em estradas, vêm por vias secundárias e rodam até oito dias para chegarem ao CIMAMotor", afirma Wang Wei, que também é motociclista e possui uma Harley-Davidson.

Infomoto viajou a convite da UNIDO-SPX Cq (United Nations Industry Developmente Organization) e da cidade de Chongqing