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Comprar moto esportiva usada é algo tão sério quanto casar

Ter um esportiva usada é fácil. Arcar com a manutenção é a parte complicada - Divulgação
Ter um esportiva usada é fácil. Arcar com a manutenção é a parte complicada Imagem: Divulgação

Cícero Lima

Colaboração para o UOL

17/05/2013 20h52

No mercado automotivo, modelos esportivos quase sempre geram carisma e desejo. Os amantes de motos e de velocidade veneram as superesportivas. Modelos como a Yamaha YZF R1, com seu motor de 1.000 cc, são capazes de encostar nos 300 km/h. Com o mesmo poderio, temos outras japonesas como a Honda CBR 1000 RR, Suzuki GSX-R 1000 e Kawasaki ZX-10.

São modelos que chegaram ao Brasil há mais de uma década e, desde então, alimentam paixões e sonhos de motociclistas com ou sem condições de ter uma "mil" na garagem. Para o segundo grupo -- de quem nunca teve condições de comprar (e manter) uma superesportiva --, se a paixão persistiu guardada em um cantinho do coração pode agora, anos depois, ser realizada na forma de um modelo usado.

A PAIXÃO
Com a decisão de finalmente ter a primeira 1.000 cc, começa a peregrinação por sites especializados e lojas de usados. Motos polidas disfarçam os efeitos do tempo e de quilômetros rodados. Longa lista de vantagens e qualidades fazem delas a visão de um oásis no deserto.

Ao vivo nas lojas, ou pela tela do computador, estão motociclistas em busca de adrenalina, que só pode ser obtida sobre uma esportiva, acelerando de 0 a 100 km/h em 3 segundos.

O NAMORO
O preço relativamente baixo -- uma R1 ano 2001 começa em R$ 23 mil, contra R$ 59 mil da R1 zero-quilômetro -- e a facilidade de pagamento tornam-se isca eficiente. Tem início a fase de namoro: o candidato a dono começa a ler tudo sobre a moto em sites mais técnicos e reportagens de revistas de época, conversa com antigos proprietários e até com membros de clubes virtuais -- os fóruns.

Nestes fóruns, todos são apaixonados por algum modelo. Os integrantes trocam experiências empolgantes, falam sobre manutenção, postam fotos de viagens com a moto e incentivam qualquer um a comprar esta ou aquela esportiva. O que pouca gente nota é que nestes mesmos fóruns as páginas de problemas mecânicos têm número ainda maior de posts e buscas.

Ao fim desta fase, para quem chegar, praticamente não há mais escapatória: de um lado, teremos um vendedor pronto a fechar negócio, enquanto do outro haverá um piloto apaixonado, que há anos persegue um sonho. Agora, é resolver a questão burocrática e os acertos financeiros da forma mais racional possível. São necessários cuidados especiais com a documentação ou possíveis problemas mecânicos. Ao avaliar a moto antes da compra, é importante estar acompanhado de um mecânico ou um motociclista experiente para não levar gato por lebre.

O CASAMENTO
De posse da moto -- e do possível carnê -- acaba o namoro e começa a convivência. Assim como no casamento, cada um mostrará suas qualidades e também as falhas. Na maioria dos casos, o piloto de superesportiva de primeira viagem não tem tanto conhecimento mecânico quanto imaginava, assim como a moto não estava tão boa quanto dizia o anúncio.

Para quem não está acostumado a motos de alta performance, o primeiro susto ocorre no posto de gasolina. As esportivas têm consumo elevado, na casa dos 12 km/litro. Mas esse é apenas um dos detalhes para quem conviverá com uma moto com mais de 1.000 cc e potência próxima aos 200 cavalos.

A lista de custos é vasta e ninguém escapa dela. É necessário levar em conta a despesa com equipamento de segurança, que pode superar R$ 6.000. É preciso investir em macacão, botas, luvas, protetor de coluna e capacete para desfrutar de uma superesportiva. Os cursos de pilotagem esportiva também são indicados para aprender a tirar o melhor de uma máquina de 1.000 cc.

Há também a manutenção: troca de pneus, conjunto de relação -- sistema responsável pela transmissão da rotação do câmbio para a roda --, lubrificantes e filtros já são o bastante para zerar a conta bancária de quem não está preparado. Comprar um par de pneus e o conjunto de relação traseira, por exemplo, fica em torno de R$ 3.000 no caso da Yamaha R1. Ou seja: mais de 10% do valor pago pela moto usada.

E não dá para economizar: esses componentes são vitais para a segurança do piloto e o perfeito funcionamento da moto. Nada é mais perigoso que uma superesportiva com pneu careca, disco de freio empenado ou pastilhas gastas além do limite -- tudo isso pode causar acidentes.

Em caso de queda ou problema mecânico, nova conta salgada. E a tentação pode vir dos sites de compras, onde são anunciados componentes usados por preços bem abaixo dos praticados nas concessionárias. O risco está no desconhecimento de procedência e condições dos componentes e de não se saber se a moto terá dirigibilidade e performance comprometidas. Novamente, além do dinheiro perdido, há o risco à vida.

Apesar de tudo, há o lado bom, a sensação de prazer ao se pilotar uma moto dessas. Nada apaga o sorriso no rosto do piloto que observa sua nova companheira na garagem. Ligar o motor, esperar a motocicleta aquecer, vestir o equipamento de segurança antes de partir para a primeira viagem com os amigos... são todos momentos mágicos que garantem a sensação de ter realizado o sonho. 

Cícero Lima foi diretor de redação da revista Duas Rodas