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"Eletrodoméstico" sobre rodas, scooter merece mais respeito

Cícero Lima

Colaboração para o UOL

19/04/2013 14h24

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    Honda PCX 150: opção de scooter pequeno que também serve para viagens mais longas

Quem olha a tabela de preços de motos terá pela frente 235 opções entre modelos e versões, oferecidas por 14 fabricantes ou importadores. Números que demonstram a estupenda evolução do setor em relação à década de 1970, quando importações de veículos foram proibidas no Brasil. Se você queria uma moto, tinha de escolher entre meia-dúzia de modelos.

Entre eles, um merece destaque: a Vespa. Um (e não "uma") scooter com vaga cativa no coração dos saudosistas. Seu carisma surgiu graças ao papel importante na reconstrução de uma Itália destroçada após a Segunda Guerra. Sua missão era transportar pessoas nas vielas apertadas de Roma, Milão e outras cidades e vilas italianas. Cheia de carisma, a Vespa caiu no gosto de todos e até hoje possui uma legião de fãs -- mas não dá para ser feliz com aquelas rodinhas de 10 polegadas. De tão pequenas, lembram as utilizadas em carrinhos de pedreiro.

Em mais de quatro décadas, nosso mercado mudou, e desembarcaram aqui scooters que podem ser chamados de evoluções da Vespa. Eles ainda são pouco conhecidos do grande público, e talvez por isso seus usuários tenham de conviver com o preconceito, manifestado quando o motociclista para ao lado de um scooter e lança aquele olhar que mistura curiosidade e desprezo, como o da turma de veteranos da faculdade aos tímidos calouros.

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    Exemplo de maxi-scooter: Yamaha X-Max 400

Uma das definições mais discriminatórias (porém divertida) sobre o scooter é que ele nada mais é que "um eletrodoméstico com motor e duas rodas". Um amigo caprichou: "Parece uma máquina de costura, não empolga". As revistas especializadas alimentaram essa fama. Em seu lançamento, o Suzuki Burgman 400 recebeu diversas vezes o título de "sofá sobre rodas" em função do enorme banco.

O que mais incomoda é a quantidade de gente que critica, mas não conhece o produto e mal sabe o que fala. Fiz uma viagem de São Paulo a Búzios, no Rio de Janeiro, com um maxi-scooter de 400 cc. A missão era acompanhar um grupo de proprietários de Harley-Davidson. Chegando lá, muita gente veio perguntar o que era "aquilo", e os deixei experimentar o modelo. Mesmo nas ruas esburacadas da cidade fluminense, muitos curtiram o scooter. "Se pudesse, voltaria a São Paulo na garupa", disse uma moça que chegara de Harley.

Herdeiro da Vespa, que surgiu para locomoção barata na Itália do pós-guerra, scooter moderno é visto como moto para amadores

Quem olha o line-up das marcas verá que boa parte delas já investe nesse segmento. Da Honda à Kasinski, têm um scooter para oferecer ao seu cliente -- dos elétricos, mais indicados para áreas fechadas, até os maxi-scooter de 650 cc, ideais para viagens longas. Isso mostra que passou o tempo em que o scooter era apenas um brinquedo para andar no condomínio ou deixar na casa de praia.

Usei um maxi-scooter (como são chamados os modelos de 400 cc ou mais) para ir e voltar do trabalho, numa jornada de 150 km, por vários meses. Para quem tem necessidade de locomoção em estradas, a Dafra oferece o Citycom 300 para concorrer com o Suzuki Burgman 400 e o 650.

No início de maio, as concessionárias Honda oferecerão o PCX 150, que também é capaz de enfrentar viagens. Na Europa, a Yamaha lançou o scooter X-Max 400. O fabricante garante que é o mais compacto em sua categoria. Notícias dos bastidores revelam que a marca investirá nesse segmento também no Brasil.

NÃO SE EMPOLGUE
De funcionamento simples (basta ligar e acelerar: não há pedal para trocar as marchas nem manete de embreagem), o scooter também já derrubou muita gente. Apesar de prático, exige cuidado na pilotagem. Suas reações são mais rápidas em relação às motos por causa das rodas de dimensões reduzidas (geralmente de 12 polegadas) e ângulo de suspensões menores, uma combinação perigosa em nossas ruas esburacadas.

Mas isso não parece ser suficiente para segurar esses veículos que, a cada ano, ganham mais adeptos. Quem roda de scooter em grandes centros urbanos percebe até que os motoristas nutrem uma certa admiração por eles. Agora, só falta os próprios motociclistas deixarem o preconceito de lado.

Cícero Lima foi diretor de redação da revista Duas Rodas