Topo

Proteção do motociclista vai da cabeça aos pés e quase nunca é confortável

Roupa técnica deveria ser habitual para todos os motociclistas; na foto, ombros e cervical tem proteção extra, com dispositivo inflável - Reprodução
Roupa técnica deveria ser habitual para todos os motociclistas; na foto, ombros e cervical tem proteção extra, com dispositivo inflável Imagem: Reprodução

Roberto Agresti

Colunista do UOL

18/05/2012 20h50

Fazer da perna parachoque, rolar descontroladamente por metros e mais metros no asfalto, estas são algumas das tristes realidades de quem anda de motocicleta. Seja usada como meio de transporte, trabalho ou lazer, uma moto -- qualquer que seja -- expõe muito mais seu piloto e eventual passageiro a traumas físicos do que um automóvel. Todavia, nada disso é suficiente para suplantar a mágica relação entre motociclistas e um dos mais polêmicos e fascinantes veículos inventados pelo homem. 

Por mais experiente que seja o motociclista, uma pancada nos pés e pernas, partes mais expostas, faz praticamente parte do jogo, do dia-a-dia. Às vezes, até mesmo ao estacionar ou ao passar a perna por sobre o banco para se colocar em marcha, o motociclista paga o preço da agilidade insuperável da moto ganhando hematomas cá e lá nas duras arestas do veículo. Mas são os tombos, e principalmente as colisões, que povoam nossos piores pesadelos. Para minimizar as consequências de tais acidentes, os trajes assumem o papel de elemento máximo de segurança, limitando dores e danos.

Os equipamentos de segurança de um motociclista devem ir, literalmente, dos pés à cabeça. Dos evidentes (e cada vez mais vistosos e eficazes) capacetes a luvas e botas específicas, a indústria da vestimenta para motociclistas cresceu de maneira a criar espetaculares inovações, e arriscamos dizer que, em termos técnicos, evoluiu bem mais do que a moto em si. Considere-se essa evolução não apenas em termos de design, mas também nos materiais utilizados e em aparatos que não se contentam em proteger passivamente seus usuários -- cujo exemplo maior é a jaqueta ou colete com bolsas infláveis, os populares airbags.

E motocicleta com airbag, existe? Sim, uma só: a gigantesca Honda Gold Wing GL 1800, uma "nave" de turismo de peso que beira os 400 kg e que, por conta de suas dimensões, pôde incorporar o sistema de bolsa que se infla quando sensores detectam uma colisão frontal. Eficaz do ponto de vista prático, o sistema ainda não migrou para outros modelos de moto. Parte por custo, parte por questões relacionadas a espaço, peso e à própria posição de pilotagem, que em outras motos pode ser diferente da adotada pelo piloto de uma Gold Wing. Nela, em vez de montado, ele vai sentado como numa poltrona, o que torna o airbag funcional.

  • Reprodução

    Honda Gold Wing (na foto, o modelo 2006) ainda é a única motocicleta com airbag

A dificuldade da inclusão de airbags nas motos fez nascer, há mais de uma década, as jaquetas ou coletes infláveis cujo funcionamento obedece a um princípio de acionamento mais simples do que em um automóvel: em vez de sensores que detectam desaceleração e impacto, disparando cargas de ar comprimido que inflam as bolsas, o motociclista liga sua jaqueta/colete à moto com um pequeno cabo, que cumpre o papel de gatilho do sistema.

Ocorre que nem sempre um acidente com moto tem o motociclista se separando do veículo, e assim a eficiência da jaqueta/colete com airbag se resume, principalmente, a quedas, mas nem sempre ao pior dos acidentes: a colisão.

ROUPAS TÉCNICAS
Por conta disso, projetistas voltaram à prancheta para oferecer um sistema de indumentária que efetivamente agisse num maior leque de eventos, e não apenas em situação nem tão corriqueira assim (especialmente em uso urbano), na qual motociclista e sua moto se separam. Conseguiram, claro, mas a elevada tecnologia empregada, que se valeu de muita eletrônica e sensores, transformou tais trajes em exclusividades custosas, peças raríssimas apenas ao alcance de alguns poucos afortunados (assim como a Honda Gold Wing, moto de mais de R$ 90 mil).

MOTONOTAS!

MARCELO CAETANO, diretor de uma das mais conhecidas marcas brasileiras de vestimentas técnicas para motociclistas, a Tutto Moto, revela que seu maior público está concentrado nos motociclistas donos de motos acima de 600 cc. Atuante no mercado com importador desde o início dos anos 1990, em 2005 decidiu que era hora de criar uma marca própria. Todavia, sua produção ocorre em países asiáticos, mas dentro de padrão específico para nossos consumidores, que leva em consideração o clima e biotipo do brasileiro.

SHOEI, famosa marca de capacetes japoneses e líder do mercado nacional do segmento premium, é também importada por Caetano, que não apenas viu o crescimento de nosso mercado de motos na última década como também o aumento do número de concorrentes: a crise europeia está fazendo marcas de equipamentos tradicionais olhar o Brasil com tremendo interesse. Para se expandir e alcançar um público de poder aquisitivo menor, está cogitando fabricar capacetes de custo mais acessível: "Um Shoei não sai por menos de R$ 3 mil. Quem tem uma moto pequena não pode pagar isso. O mesmo ocorre com as jaquetas com airbag integrados".

DAINESE, marca italiana que pode ser considerada pioneira em novas tecnologias para trajes de motociclistas, é uma das desenvolvedoras de sistemas com airbags em jaquetas e macacões. Tendo com rivais as também italianas Spidi e Alipnestars, deslocou parte de sua produção para a Tunísia, com o objetivo de reduzir custos.

AUDI E-BIKE WÖRTHERSEE é uma hipertecnológica bicicleta elétrica apresentada pela marca alemã em um tradicional encontro de donos de VW Golf GTI realizado na Áustria. Trata-se de um exercício técnico-estilístico de uma marca que aparentemente quer se expandir no segmento de duas rodas além do que a recente aquisição da Ducati, marca considerada "de nicho", faz supor.

Enquanto a indústria da vestimenta motociclistica não conseguir oferecer o que já desenvolveu a preços mais abordáveis, propõe vestes sem a características de segurança ativa, mas que protegem de maneira eficiente. Para o uso urbano, trajes -- jaqueta e calça -- de cordura ou couro com proteções plásticas embutidas nos antebraços, cotovelos e ombros são artigos corriqueiros, que se encontram em lojas especializadas a preços variados.

Algumas delas incorporam também proteções para a coluna vertebral em sua estrutura. No entanto, no tema dos protetores de coluna, os mais elaborados e seguros são modelos que podem ser vestidos diretamente sobre a pele ou sobre uma camiseta, e tendo sua proteção complementada pela jaqueta ou pelo "rei" das vestimentas protetivas para motociclistas: o macacão de couro.

De equipamento que no passado raramente era visto em ruas e estradas, tendo seu uso restrito à pista de competição, o macacão de couro se tornou equipamento popular no Brasil, especialmente entre os motociclistas que usam a moto para viagens rodoviárias. As características de resistência da pele animal à abrasão, o design que privilegia o posicionamento assumido pelo motociclista ao guidão e a possibilidade de incorporar proteções fixas para os membros (rígidas ou em materiais que absorvam impactos), deu a tais trajes o status de peças insuperáveis em termos de segurança.

Porém, a evolução de materiais têxteis, o surgimento de tipos de cordura mais resistentes (associados frequentemente a membranas transpirantes tipo Gore-tex) conseguiu conquistar um maior número de usuários por conta da praticidade e conforto proporcionada pelos trajes que usam estes materiais.

BOM DE USAR? NÃO
Mencionamos o conforto, e este é importante elemento que funciona como um divisor de águas dentre os motociclistas brasileiros: quanto mais barato, leve e às vezes confortável for o traje (calça, jaqueta ou parka), infelizmente menos "tecnológico" e seguro geralmente ele será.

Os que ainda não aderiram às chamadas "roupas técnicas" as recusam pelo custo,  pelo desconhecimento de sua importância ou por razões de conforto restritas às de baixa qualidade. Atualmente, o único equipamento de segurança obrigatório no Brasil é o capacete, porém uma grande parcela dos traumas físicos poderia ser evitada, ou ao menos atenuada, com o a disseminação de trajes técnicos específicos, realidade ainda distante de nossas ruas e estradas até por conta de nosso clima quente -- mas que vem evoluindo de maneira substancial.