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Rali Dakar: Danilo Petrucci, ex-MotoGP, fazendo bonito

A.S.O/C. López - divulgação
Imagem: A.S.O/C. López - divulgação

Colunista do UOL

05/01/2022 10h09

Danilo Petrucci, italiano, piloto da MotoGP (dos bons, vencedor de dois Grande Prêmios), encerrou sua carreira na categoria máxima avisando querer correr no Rali Dakar. Um movimento ousado, incomum, e que atraiu curiosidade.

Dada a largada do rali, o que Petrucci mostrou ao guidão de uma KTM 450 surpreendeu a muitos. Na primeira etapa para valer conseguiu um surpreendente 13º lugar. Na segunda, vinha em 4º (!!!) quando sua moto apagou no quilômetro 100 dos 338 previstos no dia.

Naquele instante (por causa de um fusível queimado...) sua possibilidade de conquistar um resultado de relevo na estreia em ralis terminou, mas não sua corrida: a organização concedeu a Petrucci o direito de continuar na prova sem ser listado na classificação geral, chance agarrada com satisfação, que já avisou ser este o seu primeiro rali Dakar, mas não o último.

Sorte nossa! Petrucci perdeu seu emprego na MotoGP por ser grande e pesado (1,80 m e 80 kg) e principalmente velho (31 anos) para a categoria. Continuará na motovelocidade competindo na Superbike norte-americana em 2022, mas depois deste bom começo no Dakar já é tido como um verdadeiro rallyman, uma modalidade onde um físico avantajado é algo positivo, assim como a experiência que só vem com a idade.

O bom desempenho de Petrucci pode até ter surpreendido alguns, mas não quem conhece bem rotina de formação da maioria dos pilotos da motovelocidade. Praticamente todos começam a competir no motocross a partir dos 5 anos de idade, seguindo no off-road até pularem nas motos de asfalto lá pelos 14 anos de idade. No entanto, jamais abandonam o "primeiro amor", a terra.

Marc Márquez, Valentino Rossi, Joan Mir, Andrea Dovizioso e outros astros da motovelocidade tem como rotina de treinos a pratica do fora de estrada. Danilo Petrucci não fugia a esta regra, e vê-lo fazendo bonito no Rali Dakar não surpreende.

O método de aprendizado do motociclismo que começa com off-road na infância, e o mantém como treinamento ideal para o físico e reflexos, veio da América do Norte na bagagem do 1º piloto yankee a se destacar na motovelocidade internacional, o californiano Kenny Roberts, que na semana passada fez 70 anos de idade.

Campeão Mundial da 500cc - MotoGP da época - em 1978, 1979 e 1980, Roberts fez ver aos europeus que pilotar constantemente em terrenos escorregadios forma pilotos exuberantes, como ela aliás, introdutor da técnica do joelho no chão como 3º apoio e muito mais. O que Kenny Roberts fez na motovelocidade em seus anos de ouro merece outro texto, não esse de hoje, e assim, volto ao Dakar, e a Petrucci.

A boa estreia de Petrucci no Dakar faz ver que os tradicionais pilotos de rali, campeões da atualidade como Toby Price, Kevin Benavides, Ricky Brabec ou gente do passado como Stéphane Peterhansel, Marc Coma e Cyril Despres são uns bananas se comparados à turma da motovelocidade? Não, não é bem assim. Eles são especialistas do off-road, vindos de modalidades como Enduro e Motocross. Nos rali-raids como o Dakar, mesclaram a capacidade de andar rápido em terrenos ruins com outra, bem importante, a arte de navegar, de achar o caminho.

Danilo Petrucci mandou bem nos seus dias iniciais de rali, e a pane técnica foi um azar, mas ele sabe muito bem que, para ser campeão do Dakar, não basta acelerar e saber controlar a moto em terrenos difíceis, mas também é necessário aprender as minúcias da navegação, saber ler o roadbook e estar no caminho certo. E são estes fatores complicadores que rendem ralis como o Dakar tão fascinantes, e é esta a lição de casa de Danilo Petrucci nos próximos dias.