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A categoria MotoE, das elétricas: será este o futuro da motovelocidade?

As MotoE fabricadas pela Energica são pesadas e tem pouca autonomia - Dorna/Divulgação
As MotoE fabricadas pela Energica são pesadas e tem pouca autonomia Imagem: Dorna/Divulgação

Colunista do Uol

27/06/2022 22h30Atualizada em 27/06/2022 22h30

Em 2022 a MotoE, a categoria das motos elétricas, chegou a sua quarta temporada. Ainda está há anos-luz da popularidade da MotoGP, Moto2 e Moto3, com as quais disputa as luzes dos holofotes em alguns Grandes Prêmios do calendário do Mundial da Motovelocidade, mas de certa forma soprou para longe o ceticismo inicial, o "nariz torcido" e descrença em sua fórmula, tanto por parte do público como do ambiente das competições.

MOTOGP - Dorna/Divulgação - Dorna/Divulgação
ErIc Granado vencedor da 2ª corrida da MotoE em Assen, na Holanda
Imagem: Dorna/Divulgação

O brasileiro Eric Granado é protagonista da categoria desde sempre. É o maior vencedor - oito vezes -, e unanimemente reconhecido como o mais rápido entre todos da categoria, como mostram as estatísticas de voltas rápidas e pole-positions. Infelizmente, nas temporadas passadas, Eric não soube transformar essa supremacia em um título de campeão, coisa que persegue novamente nesta temporada ocupando a 2ª colocação na tabela. Tal posição com ainda quatro corridas por disputar permite ao piloto de São Paulo sonhar com a conquista, no que pese a não indiferente vantagem na pontuação do líder Dominique Aegerter (31,5 pontos), o adversário suíço talentoso e preciso como os relógios de sua pátria.

A descrença inicial na MotoE, mencionada linhas acima, derivava em boa parte das limitações das motos usadas na categoria, as italianas Energica Ego Corsa, que apesar da aparência alinhada às das melhores MotoGP devem em desempenho principalmente por conta do peso elevado, 260 kg, "apenas" 100 kg a mais que as máquinas da MotoGP. Também a potência das MotoE é menor, cerca de 150 cv contra os mais de 250 cv, o que mais do que explica a brutal diferença em termos de tempos de volta: 1min31s contra 1min43s na pista de Assen, no Grande Prêmio disputado domingo passado.

Todavia, o peso talvez seja um problema menor do que a autonomia reduzida das motos elétricas, cujas corridas devem durar menos de 15 minutos, enquanto as das outras categorias o espetáculo passa dos 40 minutos. Porém, esse "defeito" da autonomia reduzida foi o que exatamente trouxe um inesperado brilho para as corridas da MotoE, que forçosamente viraram um tudo-ou-nada da largada à bandeirada.

Na MotoE não tem essa de "gestão de corrida", de estratégia para atacar na hora certa, pois quem não ataca 100% do tempo não consegue resultado e isso, claro, oferece um espetáculo de competitividade extrema, que o público capaz de abstrair a falta de charme do zumbido insosso se comparado ao ronco alto da MotoGP e da evidente luta dos pilotos para fazer o monstrengo de quase 300 kg curvar, acaba gostando.

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Eric Granado lidera o pelotão na MotoE, em etapa disputada em Assen, Holanda
Imagem: Dorna/Divulgação

Eric Granado aso 25 anos já correu de tudo na vida, e explica que a tocada de uma MotoE é diferente. Para começar, não tem marchas para serem trocadas, não há controle de tração (o que demanda cuidado com o uso do acelerador por conta do torque alto, de cerca 20 kgf.m) e a ação de inserir a moto na trajetória em curva exige decisão e força física. Divertida de pilotar? Segundo Eric, sim, um desafio e tanto.

A evolução da tecnologia fará as MotoE substituírem as máquinas da MotoGP um dia? É cedo para dizer, mas tendo em vista o anúncio de que diversos fabricantes de automóveis e motos vão parar de produzir motores a combustão interna em um prazo de cerca dez anos indica que sim, a MotoE poderá vir a ser o futuro do motociclismo. Aliás, no ano que vem a categoria deixará de usar as Energica Ego Corsa e passará a usar motos que estão sendo desenvolvidas pela Ducati, notória campeã da MotoGP e marca pertencente ao Grupo Volkswagen, ao qual certamente não faltam recursos técnicos e financeiros para dar a MotoE o que ainda lhe falta: autonomia e peso menor, uma vez que o espetáculo oferecido em pista já alcançou um nível bastante razoável.