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"Meu nome é Enea!" Um inesperado líder da MotoGP 2022

Enea Bastianini, líder da classificação na MotoGP após vencer o GP das Américas - Dorna/divulgação
Enea Bastianini, líder da classificação na MotoGP após vencer o GP das Américas Imagem: Dorna/divulgação

Colunista do Uol

12/04/2022 10h30Atualizada em 12/04/2022 10h30

Enea Bastianini começou a segunda temporada de sua carreira na MotoGP vencendo a etapa de abertura, no Qatar. Foi a primeira vitória do jovem italiano de 24 anos na categoria máxima, emotivamente comemorada por ser ele piloto de uma equipe satélite (não oficial de fábrica) cujo fundador, Fausto Gresini, morreu de Covid-19 no ano passado, equipe esta hoje tocada pela viúva Nadia Padovani e seus filhos, Lorenzo e Luca.

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Enea Bastianini com Nadia Padovani e seu parceiro de Equipe Fabio Digiannantonio
Imagem: Dorna/divulgação

Agora, na quarta etapa da temporada disputada nos EUA, mais precisamente em Austin, Texas, Enea teve a ousadia de vencer de novo, e assumiu a liderança do Mundial da MotoGP. Mostrou com isso que a vitória no Qatar não foi um mero acaso e que, sim, a temporada deste ano está mesmo destinada a surpreender.

Nenhum dos vencedores de 2022 na MotoGP - Bastianini, o português Miguel Oliveira, e o catalão Aleix Espargarò -, fazia parte da lista de favoritos à véspera desta temporada. Enea pilota uma Ducati GP21, modelo do ano passado, o que faria supor uma desvantagem técnica face à outras Ducati presentes no grid. Quanto aos outros vencedores, Oliveira levou sua KTM à vitória sob a chuva, o que sempre equaliza motos e destaca pilotos que, como ele, sabem "nadar". Com relação a Aleix Espargarò, a escalada da Aprilia em competitividade já era nítida desde 2020, portanto "surpresa" é um termo que não se aplica à conquista: uma vitória da Aprilia já estava no ar.

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Enea Bastianini, vitorioso no Grande Prêmio das Américas
Imagem: Dorna/divulgação

Inesperado dominador deste início de temporada, o que mais impressiona em Enea Bastianini é o modo como ele alcança suas vitórias. Tanto no Qatar como nos EUA "Bestia" deixou seus adversários, bem mais experientes do que ele, consumirem energia e pneus nas posições de ponta enquanto observava à distância. Faltando poucas voltas para o final, um bote certeiro, ultrapassagem sem revide e a fuga até a bandeira quadriculada. A capacidade de reação de seus adversários foi nenhuma.

Pilotar uma Ducati do ano passado é algo que, segundo muitos, dá vantagem a Bastianini. Com esta GP21 a equipe oficial da Ducati, composta por Francesco Bagnaia e Jack Miller, venceu seis vezes em 2021, sendo a moto reconhecida como a melhor da temporada. O "casamento" de Enea com sua montaria teoricamente defasada é excepcional, e é bem possível que ele esteja se revelando ao mundo como um tipo de piloto bem raro, o que é capaz de extrair o máximo de qualquer moto em quaisquer condições. Exemplo recente na história da MotoGP é o do australiano Casey Stoner, rápido sempre, mesmo se a moto não estivesse perfeitamente afinada.

É cedo para determinar que o jovem Bastianini será capaz de prosseguir neste impressionante ritmo, e continuar batendo pilotos que, em tese, estão em equipes com mais recursos, as ditas equipes oficiais, ou são medalhões titulados, com Marc Márquez, os já citados Miller e Bagnaia, a dupla da Suzuki Rins e Mir ou ele, o campeão de 2021, Fabio Quartararo, que este ano parece estar um degrau abaixo da concorrência.

Seja como for, é sempre bonito assistir a decolagem de um novo foguete como Enea Bastianini e, como martelado em colunas anteriores, constatar que a marca registrada desta temporada na MotoGP é o tremendo equilíbrio entre motos de marcas diferentes, e a possibilidade de vermos - como estamos vendo - caras novas pisando no pódio.