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Por que 2CV ainda é o Citroën mais produzido no mundo 30 anos após seu fim

Colunista do UOL

29/01/2022 04h00

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(SÃO PAULO) - O Citroën 2CV é - e sempre foi - cultuado não apenas por toda uma geração de franceses que entendeu pela primeira vez o que era poder ter um meio de transporte individual, barato, versátil e confiável, mas também por colecionadores, artistas e intelectuais.

A marca mirou no consumidor que precisava do carro para viver e acabou acertando também quem não precisava, apenas o desejava. Mais do que um automóvel, o 2CV foi um modo de vida, um ícone cultural francês.

Representação máxima do que é ser um automóvel "cool", o 2CV - ou Deuche, para os íntimos - teve um início de história pragmático, pois seu conceito era simples e urgente à época.

2Cv  - Divulgação  - Divulgação
Imagem: Divulgação

Para Pierre Michelin, que substituíra André Citroën no comando da marca, o futuro modelo deveria permitir que as massas substituíssem o cavalo e a carruagem por um "guarda-chuva" sobre quatro rodas.

2CV - Divulgação  - Divulgação
Imagem: Divulgação

Rústico e barato, mas capaz de carregar quatro pessoas e 50 kg de bens agrícolas - sobretudo ovos, que não poderiam se quebrar durante o transporte - a uma velocidade de 50 km/h, inclusive sobre estradas lamacentas e não pavimentadas. Sua única missão era ser robusto, útil e acessível.

2CV  - Divulgação  - Divulgação
Imagem: Divulgação

Os primeiros protótipos criados por André Lefebvre (o gênio por trás do Traction Avant e do DS) deveriam ser revelados em outubro de 1939 - três anos depois de iniciado o projeto do TPV, ou Toute Petite Voiture.

2CV prot - Divulgação  - Divulgação
Imagem: Divulgação

Contudo, o 2CV foi atrapalhado pela eclosão da Segunda Guerra Mundial. Dos cerca de 200 já montados, quase todos foram destruídos pelos bombardeios nazistas. Apenas quatro restaram, mantidos em segredo na França ocupada pelas forças alemãs.

Com fábricas destruídas, a Citroën manteve o desenvolvimento do 2CV às escondidas. Não fosse o combate, talvez tivesse sido o carismático Citroën o modelo mais popular e famoso do mundo, não o Fusca. Enfim, sua estreia ocorreu em 7 de outubro de 1948, no Salão de Paris.

2CV  - Divulgação  - Divulgação
Imagem: Divulgação

Sucesso instantâneo, tinha fila de espera de três anos meses após a estreia. Logo depois, era preciso esperar até cinco anos para estacionar um 2CV na garagem. Criou-se então uma das primeiras situações em que o usado custava mais do que o novo, pois ninguém queria esperar. Ao longo do tempo, outros países também produziram o modelo, como Reino Unido, Uruguai, Portugal, Espanha e até o Chile.

À frente do motorista, um motor boxer refrigerado a ar de 375cm³, dois cilindros e modestos 9 cv, acoplado a um câmbio manual de quatro marchas, dava conta do recado. Nos anos 1970, o 2CV começou a sair com um bloco de 602cm³, de 33 cv.

Prático e versátil, tinha na suspensão independente nas quatros rodas de longo curso um aliado a garantir passeios suaves, enquanto a boa altura do solo não comprometia seu desempenho em terrenos irregulares.

Além do 2CV, outros modelos nasceram de sua base mecânica. Um deles foi o simpático Dyane. Quase idêntico, mas incorporava uma estética mais tradicional e um prático design de porta traseira quando comparado ao 2CV. Sua popularidade foi tal que se somaram quase 1,5 milhão de Dyanes entre 1967 e 1983.

Dyane - Divulgação  - Divulgação
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Outro destaque é o Sahara. Em vez de uma configuração tradicional envolvendo diferenciais e embreagens, a Citroën simplesmente adicionou um motor montado na traseira para impulsionar as rodas daquele eixo e criar um 2CV 4x4.

Sahara - Divulgação  - Divulgação
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Genial, tinha apenas um acelerador, uma embreagem e um câmbio para operar ambos motores. Com pouco menos de 700 exemplares construídos, é item cobiçado por colecionadores atualmente. Isso sem falar no Ami (1961-1978), no Fourgonette (1951) ou no jipinho Méhari (1968-1988).

Mehari - Divulgação  - Divulgação
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Em 27 de julho de 1990, um 2CV em dois tons de cinza, apelidado de "The Duck", saiu da linha de montagem na planta portuguesa de Magualde, encerrando a carreia do modelo 3.868.634 unidades depois. Se despediu não apenas como um veículo utilitário, mas como uma lenda.

Trinta anos após seu fim, ainda é o Citroën mais produzido no mundo.