China? EUA? Que nada: Índia é a nova potência mundial das motos

País se tornou pela primeira vez o líder em vendas do setor
Com a impressionante marca de 17,7 milhões de veículos vendidos no ano fiscal 2016-2017, terminado em março passado, a Índia se transformou no líder mundial dos chamados PTW (sigla do inglês “Powered Two Wheels”, usada para identificar todo e qualquer veículo de duas rodas dotado de motor a combustão).
Trata-se da primeira vez que a China -- onde no mesmo período foram vendidas 16,8 milhões de unidades -- é derrubada do posto de nº 1 do mundo.
As razões para o fim do reinado chinês nas duas rodas motorizadas são múltiplas: o país “chegou lá” há mais tempo em termos de infraestrutura se comparado à Índia. Há alguns anos os chineses contam com uma eficiente rede de transporte público e em suas metrópoles há inclusive restrições ao uso de veículos de duas rodas com motor à combustão por conta da poluição, e consequente incentivo o uso de bicicletas e scooters elétricos.
A melhora no poder aquisitivo da população chinesa também está incluída na queda das vendas de motociclos e repete por lá um fenômeno já visto na Europa do final dos anos 1950, quando duas rodas motorizadas -- valiosas armas de mobilidade no período posterior a Segunda Grande Guerra -- foram perdendo espaço para automóveis pequenos e baratos, mais confortáveis e com maior status.
Índia no comando
País de população pouco menor que a da China (1,3 bilhão de habitantes), a Índia está começando agora colher resultados de um longo ciclo virtuoso de sua economia. Grandes investimentos na modernização da malha viária de cidades e vilarejos, assim como a construção de estradas em zonas rurais, vêm facilitando enormemente a mobilidade de sua gigantesca população, extremamente carente de transporte barato.
A China, que foi capaz de alcançar a impressionante marca de 25 milhões de motocicletas vendidas há alguns anos, tem assim em sua vizinha Índia a herdeira natural, mas com uma característica particular: enquanto na China a produção esteve e está totalmente dedicada às utilitárias de pequena cilindrada, na Índia o mercado promete outro perfil de consumidor, mais atento à sedução de modelos de maior capacidade.
Exemplo disso é a Royal Enfield, marca originária da Inglaterra que há anos está nas mãos dos indianos da Eicher Motors. Fabricando modelos com visual retrô, a Royal Enfield é a líder mundial de motocicletas “grandes”, acima de 350cc, graças ao enorme mercado interno. A Royal Enfield cresceu nada menos do que 30% no último ano, alcançando a impressionante cifra de 700 mil motos vendidas no mercado interno.
De olho neste fervilhante mercado não estão apenas os fabricantes tradicionais como a local Hero, líder do mercado com cerca de 10 milhões de unidades produzidas no último ano, ou a Honda (6 milhões de unidades/ano), empresa que se dissociou ruidosamente da citada Hero depois de anos de parceria terminada com incompreensões sobre transferência de tecnologias.
A BMW estabeleceu joint-ventures para produção local da G 310 R com parceiros indianos, no caso a TVS Motorcycle Company, enquanto a também indiana Bajaj tem forte participação acionária na austríaca KTM, que produz as Duke 390 e 200 por lá.
Outras empresas de prestígio como a Triumph e a as lendárias Harley-Davidson e MV Agusta estão de olho no gigantesco mercado de motos premium indiano.
Estimativas dão como certo um crescimento de 9 a 11% da produção indiana para o ano fiscal 2017-18, o que consolidaria sua liderança e a deixaria ainda mais distante de China, Indonésia (cerca de 6 milhões de unidades/ano), Vietnã e Tailândia, respectivamente os países que ocupam do segundo ao quinto lugar no ranking global de vendas.
E o Brasil, cadê?
O Brasil ocupa a oitava posição mundial: do recorde de mais de 2,1 milhões de motocicletas produzidas em 2012, que nos deu o sexto lugar, a cifra no ano passado caiu a menos de 900 mil unidades, marca que deve ser mantida em 2017.
Longe, muito longe, da virtuosa realidade atual da Índia, mas com uma semelhança particular: tanto aqui como na Índia, mas diferentemente dos outros mercados -- China, Indonésia e Vietnã -- o potencial para motocicletas além das pequenas utilitárias é consistente.
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