Dormir na fila, virar, unir toda família: ambulantes de bloco têm um sonho
Trabalhar como ambulante no Carnaval de São Paulo foi a saída que a família da estudante de direito Giovanna Grilo, 23, encontrou para realizar o sonho dela: se formar.
"Sou bolsista no Mackenzie e a formatura de lá é muito cara, eu não consigo pagar. E eu me formo no meio do ano que vem", afirmou ao UOL. Desde o ano passado, ela, a irmã e os pais vão para o Parque do Ibirapuera fazer uma renda extra pré, durante e pós-Carnaval.
Sem valor específico. Segundo Giovanna, eles não trabalham com uma meta exata a ser atingida porque ainda não tem o valor da festa. Além disso, parte do dinheiro é para realizar outro sonho da família: reformar a casa.
Minha mãe sempre sonhou que eu fizesse direito, e virou meu sonho também. Hoje eu amo, gosto muito do que eu faço. Agora é conseguir me formar.
Giovanna Grilo
Família dorme na fila. Para conseguir um bom ponto de venda, bem na reta principal em que passam os blocos, próximo da Alesp, a família toda se desdobra. "A gente chegou 23h e dormimos na fila", afirmou ela. A mãe dela, Sandra, dirige até caminhão durante o feriado.
Aqui estamos em quatro, mas temos bastidores. A família toda ajuda, os tios e tias. Todo mundo faz gelo e a gente busca de madrugada para não gastar aqui, pegamos caminhão emprestado. É um trabalho em equipe.
Sandra Grilo
Casamento
Sonho de casar. Muitos casais aproveitam o feriado trabalhando como ambulantes para juntar dinheiro para o casamento. Entre eles, está a auxiliar de consultório dentário Roberta Alves, 36, e o motorista Alexandre Silva, 42.
Juntos há 17 anos. Apesar de morarem na mesma casa e já estarem juntos há quase duas décadas, eles têm o sonho do casamento. "Estamos na luta, mesmo sem data. Mas esperamos que seja no ano que vem", disse ele.
Ibirapuera é o melhor ponto. No pré-Carnaval, o casal montou o carrinho para os blocos da Henrique Schaumann, em Pinheiros. "Lá não foi bom. Aqui no Ibirapuera, as expectativas são as melhores possíveis", completou Roberta.
Madrugando na fila. Assim como a família de Giovanna, eles chegaram na fila às 23 horas de sexta-feira para conseguir um bom lugar para estacionar o carrinho e guarda-sol. Roberta e Alexandre também vão trabalhar nos outros dias do feriado e no pós-Carnaval.
Trabalho em família
Tempo de fazer um extra. A costureira Rai Fabrício, 61, trabalha como ambulante apenas no Carnaval. No domingo, ela estava estacionada bem próxima ao caminhão do Bloco da Pabllo junto do enteado. "Trabalhamos sempre em família", disse ela entre as vendas.
Objetivo é pagar dívidas. Para a costureira, trabalhar os oito dias de Carnaval - pré, durante e pós - é a chance de fazer um dinheiro extra para ajudar em casa e a pagar dívidas. "Mas é perrengue demais: para entrar, comprar bebida, ficar nesse calor."
Preparada para qualquer imprevisto. De longe, o ponto de venda dela parecia o mais equipado das redondezas: eram três guarda-sóis, dois carrinhos, um espaço de sombra, algumas almofadas e sacolas com água e suco - trazidos de casa, segundo ela.
Chegamos 1h da manhã para ficar na fila, mas não tem como dormir. Já estamos virados há dois dias.
Rai Fabrício
Xupou, xapou
Bianca Robles vende geladinho ao melhor estilo "xupou, xapou" desde 2018. A analista de marketing, de 27 anos, prepara os saquinhos com suco e vodca.
Dá para tirar R$ 3.000 em duas semanas
Uma unidade é R$ 6, duas é R$ 10. Os sabores? Uva, morango, limão, maracujá e abacaxi, com ou sem leite condensado. "São os sabores mais coringas, que todo mundo gosta. E, como são cinco opções, não tem como não ser bom."
Meta é comprar uma casa. Bianca guarda parte da renda que faz no Carnaval para comprar uma casa, mas também aproveita para curtir o bloco. "Bebendo um pouquinho aqui, vendendo ali", completou. Ela pretende trabalhar os quatro dias do Carnaval, além do pré e pós.
Ajuda da namorada. Neste ano, a jovem conta com apoio da namorada Gabriella Ribeiro. Cada uma levava 40 unidades do doce em uma térmica. "E tem mais 80 no carro", afirmou Bianca.
Canudinho de piroc*
Acessório diferenciado. A gerente de balada Roberta Machado, 40, resolveu fazer um dinheiro extra sendo ousada: saiu de Barueri (SP) para vender canudinhos com enfeites de pênis de plástico.
A ideia é ganhar uma rendinha a mais, para gastar no Carnaval mesmo.
Roberta Machado, gerente de balada
Ela sempre curte o Carnaval, e neste ano estava acompanhada do marido e da filha nos blocos do parque Ibirapuera.
No final de semana passado fiz em torno de R$ 300, vendi cada canudo a R$ 10. Vou fazer os quatro dias agora e o pós também.
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