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Quem é Exu, a entidade que abre os caminhos da Grande Rio no Carnaval 2022?

Ensaio da Grande Rio 2022, com as cores vermelho e preto, representando Exu - Divulgação/ Eduardo Hollanda
Ensaio da Grande Rio 2022, com as cores vermelho e preto, representando Exu Imagem: Divulgação/ Eduardo Hollanda

Do UOL, em São Paulo

23/04/2022 04h00

Exu é uma das entidades mais louvadas das religiões de matriz africana. Tanto para a Umbanda, quanto para o Candomblé, Exu é quem faz a comunicação entre os humanos e os orixás. Entre os fiéis, é Exu quem é chamado para abrir os caminhos, superar dificuldades e chegar aos objetivos. No entanto, por ser representado com roupas pretas e usar um tridente, aqueles que não conhecem confundem sua imagem por algo ruim, que se assemelha à maldade.

Para explicar que Exu é algo positivo, a Grande Rio, escola que se apresenta hoje na Sapucaí, incorporou em seu enredo de 2022 o propósito de desmistificar a figura, que para algumas religiões é uma entidade espiritual e para outras, uma imagem divina.

Assim, os carnavalescos Leonardo Bora e Gabriel Haddad criaram o enredo "Fala, Majeté! As sete chaves de Exu" e focaram em mostrar que, mesmo com tantos mistérios e diferentes interpretações, a verdade sobre Exu é que ele também é uma coisa boa e está presente na vida de todos.

A inspiração, segundo contou Gabriel Haddad a Splash, veio "da vida e de outros carnavais".

A Grande Rio quer desmistificar a imagem de Exu no Carnaval 2022 - Eduardo Hollanda - Eduardo Hollanda
A Grande Rio quer desmistificar a imagem de Exu no Carnaval 2022
Imagem: Eduardo Hollanda

Da Vida

"Exu faz parte do meu dia a dia", conta Haddad. "Ele fez parte da minha infância, já que meu avô tinha um terreiro de Umbanda na casa dele e eu sempre frequentava as giras como participante."

Ao estar presente nos cultos à entidade, o carnavalesco lembra ter presenciado manifestações e incorporações de diversos Exus. "Isso fez parte do meu desenvolvimento pessoal."

De Outros Carnavais

Aqueles que acompanham a Grande Rio na Sapucaí sabem que a presença de Exu na escola de samba não é exatamente novidade. "Ele já esteve em 2018, onde a comissão de frente tinha a capa e a coroa de Exu. Depois, no enredo de 2019, o último elemento que apareceu no desfile foi um dançarino com uma roupa de Exu. Já em 2020, ele apareceu em diversos pontos, em mais quantidade em questões visuais."

Haddad acredita que, assim como na vida daqueles que o cultuam, Exu abriu o seu próprio caminho dentro da Grande Rio. "Ele foi conquistando isso, até que em 2022, tem um enredo totalmente dedicado a ele."

Gabriel Haddad e Leonardo Bora, carnavalescos da Grande Rio - Eduardo Hollanda - Eduardo Hollanda
Gabriel Haddad e Leonardo Bora, carnavalescos da Grande Rio
Imagem: Eduardo Hollanda

Consciência

Além da importância pessoal e para a Grande Rio, Gabriel Haddad conta que a escolha pelo mensageiro como enredo parte também de uma "importância cultural".

Há ataques contra Exu, que sofre até hoje por ser ligado a questões que não são relevantes à cultura afro-brasileira, como a questão da maldade, do diabo e do pecado.
Gabriel Haddad

Ou seja, a ideia de que ele seria o diabo (uma entidade do mal) não faz nem mesmo sentido ao falar sobre as religiões afro-brasileiras, pois elas não contam com uma figura como esta em suas crenças.

A intenção da escola de samba carioca é justamente criar consciência sobre a bondade e poder da entidade, além de lutar contra o preconceito que religiões de matriz africana sofrem no Brasil. "Nosso enredo busca quebrar esses estereótipos negativos que são ligados à figura e ao poder de Exu."

Decisão

Em 2020, a Grande Rio foi a vice-campeã do Grupo Especial do Rio de Janeiro, ficando atrás apenas da Unidos da Viradouro. Aquela foi a quarta vez que a escola ficou em segundo lugar em 15 anos.

Para comemorar o título de vice, a equipe da Grande Rio sentou em uma encruzilhada, local conhecido por ser um ponto de força de Exu. Assim, os primeiros pensamentos sobre a entidade ser homenageada começaram a surgir e, depois de umas discussões, foi decidido que o desfile da Sapucaí seria em homenagem a ele.

Majeté

Estamira Gomes de Sousa, a ex-funcionária de um lixão que teve a vida retratada no documentário "Estamira" (2004), servirá de fio condutor para a narrativa do enredo da Grande Rio. Haddad explica que é por meio dela que acontece a "comunicação" com Exu. A mulher morreu em 2011, de infecção generalizada, e lidou com distúrbios mentais durante a vida.

"Em uma cena do documentário, ela aparece pegando um telefone no lixão e diz: 'Alô, Exu! Fala Majeté!'. A partir daí veio a conexão de Estamira com Exu", explica.

"Não é uma palavra que tenha sentido único, ela tem diversas possibilidades, assim como a energia e figura de exu, que abre diversas possibilidades para a gente. A gente utilizou no título do enredo 'Majeté', porque é algo que pede para falar, e Exu é esse falatório, esse pronunciamento, esse movimento. Então é uma forma de dizer: 'Fala, Grande Rio!"

Rainha de Bateria

Paolla Oliveira é a Rainha da Bateria da Grande Rio - Divulgação - Divulgação
Paolla Oliveira é a Rainha da Bateria da Grande Rio
Imagem: Divulgação

Essa energia religiosa da Grande Rio em 2022 também é sentida pela Rainha da Bateria, Paolla Oliveira. Em entrevista a Splash, ela contou que terá certos cuidados no dia do desfile. "Peço permissão e bênção para entrar com energia e peito aberto. Antes de tudo, permissão para que seja um Carnaval de muita alegria para quem estiver ali. A Sapucaí é um lugar de muita energia, tanto para quem desfila, quanto para quem assiste. É difícil a gente não pedir para que esse dia seja especial, que saia como se planejou, que não chova. Entro com pé direito."

Com tanto amor e devoção a Exu, a Grande Rio conta com a força da entidade para abrir os caminhos e se tornar a grande Campeão de 2022. Laroyê!

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