Guru diz para elas não pagarem conta do date: 'Amor não é filme da Disney'

"Coisas que eu faço em date sem nenhum pingo de vergonha", começa Ana Luíza d'Utra Vaz, 29, enquanto termina de se maquiar. "Quando marcamos o date, eu já falo que vou avisá-lo quando deve mandar o Uber me buscar. (...) Eu paro na frente da porta (do carro, do restaurante) e fico paradinha, até ele abrir. (...) Chega a conta, eu não toco na minha bolsa. Se eu mexo, é para passar o meu gloss", complementa a maquiadora, podcaster e influenciadora.

No Tik Tok, Ana Luíza é mais conhecida como Supervulgar, codinome que adotou quando começou a fazer conteúdo sobre maquiagem. Desde 2020, em plena pandemia, ela estava entediada e decidiu postar vídeos sobre relacionamentos.

"Falando sobre o tipo de coisa que eu conversava com as minhas amigas", comenta em entrevista ao UOL. Hoje em dia, a criadora é seguida por mais de 3 milhões de pessoas na plataforma de vídeo, enquanto, em seu podcast exclusivo do Spotify, reúne mais de 320 mil ouvintes.

Porém, o sucesso não é unânime, já que suas reflexões, dadas em um "tom abrasivo", como ela mesma define, dividem opiniões: há quem concorde e diga que os vídeos da criadora de conteúdo mudaram suas vidas, enquanto outras pessoas criticam Ana Luíza por sua abordagem mais "cética" sobre o amor.

As pessoas não estão preparadas para ouvir o que tenho a dizer. Elas ficam bravas porque desmancho a visão do amor de filme da Disney. Desculpa, mas é a verdade. A minha vida mudou porque eu tomei a decisão de não aceitar menos do que eu merecia. Tem quem consiga na sorte? Tem. Mas a maior parte das vezes é por determinação. A realidade é dura, diz a criadora de conteúdo.

Ana Luíza d'Utra Vaz
Ana Luíza d'Utra Vaz Imagem: Arquivo pessoal

"Entendo as pessoas não gostarem da forma que eu falo, mas se os sinais são tão claros que te cegam, não há santo e nem Deus que vai te salvar se não você mesma. Esse é o grande babado."

Conselheira desde criança

Nem sempre Ana Luíza foi super popular. Na realidade, ela sofreu bullying pesado nos anos de escola e enfrentou o transtorno alimentar. Porém, mesmo nesse turbilhão de emoções, a influenciadora encontrava um espaço para dar conselhos amorosos para as amigas.

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"Lembro de, aos 10 ou 11 anos, ouvir uma colega de classe falar, no recreio, que ela tinha medo de ficar sozinha. Eu fiquei pensando: 'como assim uma pessoa tem esse receio aos 10 anos de idade?'". É que, para a Supervulgar, ter um relacionamento saudável sempre foi algo muito natural, já que ela tinha como referência os próprios pais, um exemplo muito positivo de como deve ser uma relação.

Minha mãe me ensinou muita coisa conversando, ela dizia que os meninos com quem eu saía tinha que estar em casa me buscando, não eu indo atrás dele. Eu brigava, não concordava com ela.

As coisas mudaram quando um cara com quem ela saía e que estava bastante envolvida tentou tirar uma foto de Ana Luíza nua sem seu consentimento.

"Todos os alarmes soaram na minha mente, mas eu o perdoei mesmo sem ele ter me pedido perdão. Depois, ele veio me encontrar com uma marca de chupão no pescoço. Não foi o meu maior trauma, mas foi o que virou a minha chave", diz a criadora. É que ela estava engajada, demonstrava bastante interesse e dividia os custos de todos os encontros. "Depois disso, eu decidi que nunca mais ia mexer um dedo."

Para a Ana Luíza, esperar que o pretendente goste mais dela do que ela dele e corra "atrás" dela é uma maneira também de se colocar em primeiro lugar. "É sobre você saber o seu valor. Exigir o que merece dos companheiros, toda mulher consegue isso. Os bons relacionamentos não vêm por sorte, mas pela determinação e disciplina emocional", afirma. Estas são as palavrinhas mágicas dos conselhos de Supervulgar no Tik Tok.

Podemos concordar que o mínimo que uma mulher deve procurar em uma relação amorosa é respeito, consideração, reciprocidade, cuidado e carinho. Porém, de acordo com a criadora de conteúdo, muitas mulheres acabam se contentando com relacionamentos pouco satisfatórios por "um instinto natural" para procriar.

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"Buscamos validação no outro, porque não está no nosso DNA procurar amor próprio. Então, em vez de julgar uma mulher que está em um relacionamento tóxico, a gente tem que entender que, para quebrar esse padrão, temos que tirar o amor do campo de idealização. Se o cara me manda mensagem, é normal eu ficar entusiasmada, mas não achar que ele está apaixonado por mim. Esse pensamento vem dessa ordem biológica", fala Ana Luíza.

Assim, a determinação e a disciplina emocional são cruciais para que as pessoas quebrem o padrão de aceitar apenas algumas "migalhas" de atenção.

"Temos que atualizar o software"

Ana Luíza d'Utra Vaz
Ana Luíza d'Utra Vaz Imagem: Arquivo pessoal

Mas, calma, a criadora diz que não acha que todos os caras são "boy lixo". "Eu só sei, por experiência, que se eu for atrás, se eu dar todo o carinho, eu sei que isso não vai ser apreciado a princípio. Aprendi que isso tem que ser dosado, a partir do que o cara faz por você e do interesse dele", comenta.

Uma das principais críticas que a Supervulgar recebe é a de que ela trata os relacionamentos amorosos como "trocas econômicas". "Mas as relações são transacionais. Eu conheço um cara e vejo o tipo de atenção que a pessoa me dá. É focada no meu corpo, puramente sexual? Ou ele também quer me conhecer? Isso tudo determina o carinho que vou ter por ele".

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A influenciadora acredita que não existe neutralidade nos relacionamentos. "Ou a pessoa agrega ou ela te suga. Nesses dois cenários, há o casal onde os dois prosperam e o casal onde um está surfando na onda do outro", reflete Ana Luíza. O ideal é que as mulheres busquem por um companheiro ou companheira que desperte o melhor de cada um.

Eu me incluo nisso. Procuro uma pessoa que saiba me acolher, que tenha interesse e se encaixa na minha vida, que me empurra a fazer uma melhora e acredite em mim quando nem eu acredito, fala.

Mas, segundo Supervulgar, não é exatamente assim que a banda toca. "Olha como as coisas são: você tem uma amiga de 20 anos, mas ela dá um vacilo e você consegue cortá-la de sua vida muito facilmente. Por que não consegue fazer o mesmo com um cara que conhece há um mês? Temos que atualizar o software, não somos mais primatas caçando frutinhas, temos boletos a pagar."

Sozinha ou acompanhada, mas inteira

Quem vê os vídeos de Ana Luíza pode até achar que ela é bastante pragmática e está longe de gostar de romance. "Mas eu sou muito romântica. Eu sei que acham que sou muito ácido, mas eu sou muito romântica", brinca.

Em seu conteúdo, a influenciadora espera abrir os olhos das seguidoras para que elas encontrem a paixão e a motivação principalmente nelas mesmo. "É muito mais importante do que um homem. É completamente desnecessário uma mulher se prejudicar pelo medo de ficar sozinha. Eu quero que elas entendam que não só conseguem encontrar o amor da vida delas, como elas também merecem viver os próprios sonhos."

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E por mais que seus conselhos possam ser bastante duros para corações mais moles, Supervulgar diz que há sim uma luz no fim do túnel. "Tem que pensar assim: se tem eu, tem que nem eu também. Se eu sou amorosa, não preciso ficar com uma pessoa lixo. Vou encontrar uma pessoa que vai me tratar com reciprocidade. São 8 bilhões de pessoas no mundo, você vai encontrar alguém. Principalmente se já tem um filtro, porque você fecha a porta para um lixo, mas abre para pessoas muito queridas."

Tem quem fale que sou amargurada, mas é através desse filtro que consegui preservar essa romântica que existe em mim. Porque de duas uma: ou eu morro sozinha ou com um cara que realmente me ama, que é realmente meu companheiro. Vou ser feliz com qualquer um dos dois destinos. Isso é ser romântica.

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