'Dedo podre': por que culpar mulher por escolha de parceiro ruim é machista

"Ela não tem sorte no amor", "Não sabe escolher namorado" e "Mulher tem que saber escolher o pai de seus filhos para depois não reclamar". Frases assim são popularmente usadas para atribuir o chamado "dedo podre" às mulheres que sucessivamente vivem desilusões amorosas.

"O 'dedo podre' é um conceito machista que protege tanto os homens a ponto de a mulher ser culpada por eles serem ruins", explica a psicóloga clínica e psicoterapeuta Triana Portal.

Segundo ela, por trás dessas frases tão usadas por aí há a mensagem de que os homens podem ser o que eles quiserem, principalmente em relação às mulheres e aos filhos, porque não serão responsabilizados da mesma forma.

A sociedade não espera do homem responsabilidade, amor, comprometimento ou mudança de comportamento, mas coloca nas costas das mulheres o peso de fazer a relação dar certo.

"Ainda hoje, quando uma mulher vivencia uma decepção amorosa, surgem os comentários sobre o 'dedo podre dela'. Além da dor, vem a culpa por não ser capaz ou não saber escolher, por não conseguir se relacionar e por não ter êxito na relação", observa a psicóloga Marina Simas de Lima, cofundadora do Instituto do Casal.

Para se livrar do peso das expectativas e não depender da validação do homem, ressalta ela, é preciso que a mulher aprenda a ficar sozinha e fortaleça a própria individualidade e autoestima. Ter uma profissão que possibilite autonomia financeira também ajuda muito.

Isso diminui a chance de viver um relacionamento a partir da vulnerabilidade e da ansiedade para estabelecer uma relação —muitas vezes só para provar aos outros que ela é possível.

Escolher um parceiro de maneira consciente e atenta e ser capaz de ver os sinais negativos depende de experiência, autoconhecimento, reconhecimento das motivações inconscientes e resolução de conflitos infantis. Então, terapia é sempre um bom caminho.

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