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Saúde

Sintomas, prevenção e tratamentos para uma vida melhor


Faz mal à visão brincar de revirar olhos e pálpebras e forçar ser vesgo?

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Imagem: iStock

Marcelo Testoni

Colaboração para VivaBem

20/05/2022 04h00

Quem nunca brincou quando criança de revirar olhos e pálpebras ou de ser vesgo para fazer gracinha e importunar alguém? Mas, afinal, essas traquinagens podem causar problemas?

Em parte. Mas não há nenhum risco de seus olhos ficarem revirados como os de um zumbi, totalmente brancos ou vermelhos, ou desviados e paralisados para sempre, por conta disso.

Agora, tenha em mente que os olhos são áreas do corpo muito sensíveis. O simple ato de coçar ou esfregar, por exemplo, pode feri-los e até comprometer a visão. Levam ao surgimento de problemas sérios, como descolamento de retina ou até ceratocone, que é quando a córnea acaba adquirindo o formato de cone.

Fora o perigo dos contágios virais e bacterianos, que ocasionam doenças que, em casos mais graves e não tratados, podem resultar em cegueira.

Quando se revira os olhos

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De acordo com Ione Alexim, oftalmologista com especialização em córnea clínica e doenças oculares externas pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e do ICNE (Instituto de Ciências Neurológicas), em São Paulo, médicos contraindicam a prática de revirar os olhos, pois ela altera o funcionamento dos globos oculares ou de seus anexos, podendo ainda interferir na eficiência de abertura e fechamento das pálpebras, por flacidez e lesões locais.

Colocar as mãos sujas, sem que estejam higienizadas, nos olhos também oferece riscos, continua Alexim: "De contaminação e inflamações a infecções oculares, como conjuntivites (da membrana externa do globo ocular e da pálpebra interior), hordéolos (também conhecidos por terçóis, pontinhos vermelhos e dolorosos perto das extremidades das pálpebras) ou mesmo ceratites (lesões de córneas, tecido transparente que fica na parte frontal do olho)".

Também são queixas frequentes associadas à falta de cuidados com a saúde ocular: coceira/alergia nas pálpebras com secreção oleosa e inchaço (blefarite), lacrimejamento, irritação, vermelhidão, visão turva e nublada, com distúrbios tipo flashes e bolhas coloridas.

Para piorar, muitos, eventualmente, nem sabem que requerem lentes corretoras apropriadas prescritas pelo oftalmologista, podendo agravar seus quadros e apresentar dor de cabeça.

Desvio visual é coisa séria

Criança com tampão no olho, estrabismo, olhos desalinhados, olho preguiçoso - iStock - iStock
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É chamado de estrabismo o distúrbio do equilíbrio da musculatura ocular, fazendo com que um ou ambos os olhos não fiquem paralelos, mas desviados para uma posição diferente da centralizada ou sincronizada por ambos os olhos, podendo causar visão dupla, explica Osório José de Oliveira Filho, oftalmologista do Hospital Aliança e professor da Faculdade de Medicina da UFBA (Universidade Federal da Bahia).

"O desvio pode ser para dentro (esotropia), para fora (exotropia) —esses os mais comuns—, para cima ou para baixo (supra ou infraversão), sendo congênito ou adquirido", acrescenta.

Geralmente, o posicionamento voluntário, ou seja, forçar, induzir os olhos para dentro, não leva ao desenvolvimento de estrabismo em indivíduos que não possuam predisposição para desenvolver esse desvio ocular.

Porém, em quem tenha predisposição, que já apresente algum grau de estrabismo, esse comportamento pode, sim, aumentar o tamanho do desvio ou causar uma descompensação transitória.

"Por essa razão, os pais devem levar seus filhos durante a primeira infância, de seis em seis meses, ao oftalmologista, até completar os seis anos de vida. A fim de detectar precocemente os erros de refração, principais causadores dos desvios oculares", continua Oliveira Filho.

Como abordar o assunto e tratar

Menina estrábica, criança vesga, olhos, visão - iStock - iStock
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Primeiro, os pais não devem incentivar ou aprovar, ver graça, nesses tipos de "brincadeira", apontam os especialistas.

Depois, é necessário que orientem de forma clara para as crianças e os adolescentes que não se deve tentar interferir no funcionamento normal dos olhos e os riscos que isso pode acarretar, incluindo o de sequelas visuais.

"Orientação sobre higienização das mãos antes de se tocar nos olhos e para evitar contaminações também é muito importante. Se o olho ficou vermelho, há presença de desconforto, é necessário procurar um oftalmologista", informa Marina Ciongoli, oftalmologista da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo.

Com suspeitas de que a movimentação dos olhos não está normal, o médico também deve ser consultado, para que seja avaliado o funcionamento específico de cada um dos músculos oculares. É muito importante um diagnóstico precoce, pois em se tratando de estrabismo em crianças, quando não corrigido a tempo, pode ocasionar baixa visão. O tratamento pode ser clínico ou cirúrgico e isso dependerá da idade do paciente, tipo e tamanho do desvio.

O tratamento clínico consiste no uso de óculos e tampão oftalmológico, esse último com o objetivo de forçar o olho mais fraco a se desenvolver e dessa forma restabelecer a visão binocular. Já o tratamento cirúrgico visa corrigir o desalinhamento ocular e melhorar a estética.