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Turbine seu cérebro

Dicas para usar melhor a sua mente


Turbine seu cérebro

Escrever com outra mão, mudar o odor da casa: neuróbica realmente funciona?

Denis Freitas/UOL VivaBem
Imagem: Denis Freitas/UOL VivaBem

Colaboração para o VivaBem

12/08/2019 04h00

Mantenha seu cérebro vivo com exercícios. Era essa a promessa de Lawrence C. Katz e Manning Rubin em um livro publicado nos Estados Unidos em 2000. A partir dessa obra, os dois tornaram-se conhecidos como os pais da neuróbica, a ginástica do cérebro. O livro, publicado no Brasil em 2011 pela editora Sextante, reúne 83 atividades que, segundo os autores, melhorariam o desempenho do cérebro ao criar novos neurônios e aumentar a produção de neurotrofinas, proteínas que favorecem a sobrevivência dos neurônios.

Dentre os exercícios, há conselhos um tanto quanto excêntricos, como virar fotos de ponta-cabeça, mudar o odor da casa pela manhã, escovar os dentes com a mão contrária à que se usa habitualmente e tomar banho de olhos fechados. E isso dá resultado?

Como nem tudo o que reluz é ouro, neurocientistas são bastante céticos em relação aos resultados da ginástica cerebral. "Não existe comprovação científica de que funcione", explica Paulo Bertolucci, pesquisador do Instituto de Memória da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). O pesquisador justifica que primeiro é difícil falar sobre a melhora do cérebro como um todo e para qualquer público.

"Se você é um adulto jovem e saudável, você já deve usar bem seu cérebro e sua memória com as suas atividades cotidianas. Você não melhora algo que já está sendo bem usado em pessoas saudáveis", explica Bertolucci.

O neurologista Lucas Schilling, do Instituto do Cérebro da PUCRS (Pontíficia Universidade Católica do Rio Grande do Sul), reitera que há atividades que são usadas para reabilitação cognitiva, sobretudo de quem começa a ter perdas. "A gente sabe que exercícios cerebrais como leitura, como palavras-cruzadas, como jogos de memória, contribuem para otimizar o funcionamento cerebral e protegem do desenvolvimento de doenças como o Alzheimer e outros quadros de demência", detalha Schilling.

Seguir as atividades de neuróbica não adianta de nada? Não é bem assim. No limite, o aumento de estímulos para o cérebro é positivo. Além disso, alguns dos conselhos ali apontados estão entre os cientificamente comprovados, como a recomendação de manter um círculo social, de conversar com diferentes pessoas ou >ter novas experiências.

Na dúvida, os neurocientistas recomendam algumas atividades que estimulam o cérebro e protegem de doenças cognitivas, importantes de serem mantidas sobretudo por pessoas acima dos 50 anos.

  • Denis Freitas/UOL VivaBem

    Faça exercícios físicos

    Diversos estudos relacionam o exercício físico à redução de riscos de Alzheimer em idades avançadas. Neste ano, um estudo brasileiro publicado na revista Nature Medicine indicou a possibilidade de que os exercícios físicos também sejam importantes na atenuação dos problemas de memória de pacientes com a doença. Os pesquisadores da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) descobriram que a prática de exercícios faz os músculos liberarem irisina, uma proteína encontrada em níveis mais baixos nas pessoas com Alzheimer. A pesquisa aponta que, com os camundongos, o aumento da proteína reduzia os problemas de memória. Ainda são necessários mais estudos para entender como essa proteína atua no cérebro e se os resultados se repetem com humanos.

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    Tenha um círculo social ativo e conte histórias

    Fazer parte de grupos de vizinhos, ter uma grande atividade familiar ou com amigos, além de prazeroso, mantém o cérebro estimulado. "Você tem conversas, acessa memórias, usa a área da linguagem. Os grupos sociais provocam atividades ricas, em diferentes áreas do cérebro", indica Bertolucci.

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    Leia e escreva

    Ler livros, jornais, ou escrever para um amigo distante ou em um diário são atividades estimulantes cognitivamente. "Tem-se a ideia de que mesmo mais velho, aposentado, você tem que manter o cérebro ativo, estimulado. Se o idoso resolve que não quer mais fazer nada intelectualmente, isso acarreta naturalmente uma perda da capacidade cognitiva, e isso pode torná-lo mais vulnerável a um declínio seja próprio da idade seja por uma doença", indica Schilling.

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    Faça palavras-cruzadas e jogos de memórias

    Uma pesquisa com 19 mil participantes feita por pesquisadores da Universidade de Exeter e do King?s College de Londres mostrou que quanto mais adultos acima dos 50 anos resolvem quebra-cabeças, palavras-cruzadas ou sudoku, melhor seus cérebros funcionam. Para solucionar esse tipo de desafio, os adultos precisam usar áreas do cérebro especializadas em atenção, lógica e memória. No estudo, os pesquisadores indicam que quem faz palavras-cruzadas com frequência têm a função cognitiva equivalente à de uma pessoa dez anos mais jovem em testes de linguagem, e oito anos mais jovem em testes de memória de curto prazo.

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    Mude sua rotina e descubra uma atividade nova

    Uma nova língua, um novo conhecimento, um novo lugar. A novidade nos obriga a reagir de maneira não automática, o que é estimulante cognitivamente. Claro, não adianta ser qualquer coisa nova, mas algo que seja interessante para você e provoque engajamento, salienta o pesquisador do Instituto do Cérebro.Se você achou este artigo interessante, por que não começar uma conversa com alguém sobre o assunto e, assim, reforçar os laços sociais da dica n° 2?

  • Denis Freitas/UOL VivaBem

    Efeito placebo

    Mas as outras atividades de neuróbica mais malucas podem ter resultado, mas por efeito placebo. Uma pesquisa publicada na revista científica PNAS em maio de 2016 por psicólogos da universidade norte-americana George Mason indicam que existe efeito placebo na melhora de resultados cognitivos de quem faz exercícios de treinamento mental. Os pesquisadores submeteram dois grupos de 25 universitários a uma hora de exercícios de treinamento cognitivo, um grupo não sabia qual era o objetivo dos exercícios, o outro grupo leu um texto sobre os efeitos dos exercícios nos resultados cognitivos. Os indivíduos que conheciam a promessa de melhora cognitiva ganharam cinco a dez pontos em um teste de QI após os exercícios. Aqueles que não sabiam da promessa de ganho cognitivo não tiveram melhora no teste de QI. "Este estudo mostra que pode haver um efeito placebo, mas ele não pode ser usado como tratamento", sublinha Bertolucci.

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