Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Estudo sugere que praticar exercício pode reduzir risco de ansiedade
Um estudo coordenado pela pesquisadora Martina Svensson, da Universidade de Lund (Suécia), usou dados de quase 400 mil pessoas e observou que esquiadores participantes da Corrida de Vasa (Vasaloppet) apresentaram uma incidência muito baixa de transtornos de ansiedade. Os resultados sugerem que efeitos semelhantes também possam ser percebidos em outras pessoas fisicamente ativas.
Transtorno de ansiedade em corredores de esqui
A ansiedade é um sentimento normal do ser humano, mas quando exacerbado pode se configurar como distúrbios, os chamados transtornos de ansiedade, bastante frequentes atualmente.
Estima-se que a ansiedade afete 10% da população mundial, sendo mais prevalente em mulheres do que em homens. Inclusive, com a pandemia da covid-19, os transtornos de ansiedade e outros problemas de saúde mental parecem ter aumentado no Brasil
Geralmente as pessoas desenvolvem ansiedade no início da vida, durante a infância, adolescência ou nos anos iniciais da vida adulta, comumente associada a outros transtornos mentais, como a depressão.
Além do tratamento com uso de medicamentos e terapia psicológica, a prática de atividade física tem sido apontada como uma estratégia promissora para amenizar os sintomas da ansiedade, bem como prevenir essa doença.
No entanto, os estudos apresentam controvérsias e pouco se sabe sobre o impacto da "dose" de exercício físico, intensidade ou nível de aptidão física no desenvolvimento de transtornos de ansiedade. Outra dúvida da ciência é se a atividade física repercute igualmente em homens e mulheres quando o assunto é ansiedade.
Assim, os pesquisadores tiveram como objetivo investigar a associação entre um estilo de vida fisicamente ativo e o desenvolvimento de transtornos de ansiedade em homens e mulheres.
Pesquisando associação entre atividade física e ansiedade
A população do estudo incluiu 197.685 suecos que participaram da Corrida de Vasaloppet (corrida de esqui anual, na qual os corredores percorrem de 30 km a 90 km de prova) entre 1989 e 2010, e 197.684 voluntários que não participaram da corrida.
No total, os pesquisadores acompanharam 395.369 pessoas durante 21 anos para investigar se a participação na corrida de Vasaloppet estava associada a um menor risco de desenvolver ansiedade.
Após o período de acompanhamento, 1.649 pessoas foram diagnosticadas com transtornos de ansiedade e verificou-se que a participação na corrida de esqui foi associada a um menor risco de desenvolver ansiedade em comparação aos voluntários que não esquiavam.
A participação na Corrida de Vasa está associada a uma menor incidência de ansiedade
Os pesquisadores descobriram que ser esquiador, o que eles consideraram como um estilo de vida fisicamente ativo, está associado a um risco cerca de 60% menor de desenvolver transtornos de ansiedade em comparação com a população geral do estudo.
Os pesquisadores não foram capazes de investigar os mecanismos por trás dos possíveis efeitos protetores do exercício físico sobre o desenvolvimento da ansiedade, mas trazem algumas explicações com base em outros estudos.
Uma delas diz respeito à capacidade da atividade física de ocupar a mente e oferecer distração, afastando pensamentos negativos. Além disso, o ambiente em contato com a natureza, no caso do esqui, pode ser benéfico.
Em modelos animais, especificamente ratos, também já foi demonstrado que a atividade física muda o recrutamento de neurônios envolvidos na vulnerabilidade ao estresse, para outros relacionados com a recompensa e resiliência ao estresse.
Além disso, pessoas fisicamente ativas parecem ter resposta mais baixa ao cortisol, conhecido como hormônio do estresse, quando submetidos a uma situação estressante.
Mulheres com melhor desempenho físico podem ter maior risco de sofrer de ansiedade
Os resultados também mostraram diferenças entre homens e mulheres ao considerarem o tempo de chegada da corrida.
Entre as mulheres, o desempenho físico superior (medido como o tempo de chegada menor para completar a corrida) foi associado a um risco duas vezes maior de desenvolver ansiedade em comparação com as mulheres que esquiavam mais devagar.
Mas é importante ressaltar que a incidência de transtornos de ansiedade em mulheres que esquiavam mais rápido foi menor do que as que não esquiavam. Ou seja, mesmo mulheres com alto desempenho físico podem se beneficiar de um estilo de vida fisicamente ativo, ainda que a dose ideal de exercício recomendada deva ser menor.
Já para os homens, o tempo de chegada da corrida não impactou significativamente o risco de desenvolver ansiedade.
Os pesquisadores esclarecem que são necessárias mais investigações e por isso apoiam recomendações de prática de atividade física tanto para homens quanto para mulheres.
Eles também enfatizam que não investigaram os motivos pelos quais o melhor desempenho físico está associado a um maior risco de desenvolver ansiedade entre as esquiadoras, mas apontam possíveis razões.
Uma das causas pode ser a diferença de resposta fisiológica ao exercício, com maior estresse e exaustão após a atividade física entre aquelas com melhor desempenho físico.
Fatores psicológicos também podem estar envolvidos, como a preocupação com a aparência, o que poderia levar a um alto nível de atividade física, gerando ansiedade.
Ademais, ainda que muitos estudos indiquem que a ansiedade impede as pessoas de se envolverem em atividades físicas, outras pesquisas mostram que sintomas de ansiedade podem levar à prática exagerada de atividade física e esse comportamento parece ser mais comum entre as mulheres.
Mais estudos sobre atividade física e ansiedade são necessários
Além da necessidade de maiores esclarecimentos quanto às diferenças entre homens e mulheres, o estudo apresenta algumas limitações.
Por exemplo, o nível de atividade física não é o único fator que distingue os esquiadores dos demais voluntários. Pesquisas anteriores, por exemplo, mostram que os esquiadores de Vasa têm uma alimentação mais saudável e fumam menos, o que não pôde ser analisado e controlado por insuficiência de dados.
Limitações à parte, os resultados encontrados confirmam os benefícios da atividade física, especificamente da prática de esqui, mas sugerem efeitos benéficos para pessoas fisicamente ativas em geral.
Por isso, para compor um estilo de vida saudável, sugiro que você busque uma atividade física que proporcione prazer, bem-estar e qualidade de vida e pratique-a como um momento de lazer e de cuidado consigo mesmo. Associado a isso, coma bem e faça as pazes com os alimentos e com o corpo!
Bon appétit!
Sophie Deram
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