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Paola Machado

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Entenda a relação entre má alimentação, depressão e obesidade

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Imagem: iStock

Paola Machado e Samantha Rhein*

Colunista de VivaBem e colaboração para VivaBem

23/05/2022 04h00

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Todos os dias, somos expostos a uma rotina diária turbulenta, intensa, repleta de horários, regras e convenções que nos tornam mais vulneráveis a uma vida estressante e sem a possibilidade de desfrutarmos o momento presente.

O resultado desse estilo de vida é um importante fator de risco para o desenvolvimento de doenças não transmissíveis e de ordem mental, como depressão e ansiedade. Cerca de 4,4% da população mundial sofre com depressão e, segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), o Brasil e os Estados Unidos são os países com maiores taxas relacionadas ao uso de medicamentos antidepressivos (cerca de 5,8% da população).

A OMS classifica a depressão como a maior causa de problemas de saúde e doenças incapacitantes em todo o mundo. Segundo as suas últimas estimativas, mais de 300 milhões de pessoas estão vivendo agora deprimidas. Um recente levantamento realizado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro aponta o adoecimento mental como a terceira maior causa de concessão de licença médica em esfera nacional.

A depressão e a obesidade são doenças que se associam fortemente. Evidências baseadas em dados epidemiológicos e clínicos sugerem que esta correlação possa acontecer em mais de 50% dos casos e um dos mecanismos de associação é a dieta baseada em alimentos processados, grãos refinados e açúcar, além do baixo consumo de dietas ricas em frutas, vegetais, legumes, azeite, peixes, grãos integrais como a Dieta do Mediterrâneo. Esses achados sugerem que muitos comportamentos relacionados à alimentação estão ligados aos estados de humor.

A motivação, por vezes emocional, que impulsiona as escolhas alimentares e o comer emocional tem sido extensivamente associada à obesidade, tendo estudos que demonstram e comprovam a relação entre a maior frequência do comer buscando a sensação de prazer e a gravidade de obesidade —medida pelo IMC (Índice de Massa Corporal).

A ferramenta para lidar com essas disfunções tem sido buscar uma saúde mental positiva. Como foram encontradas associações entre estados afetivos e comportamentos alimentares, a adesão frequente às diretrizes de comportamento relacionadas à alimentação pode resultar em uma rotina alimentar mais saudável e regular, e maior capacidade de autorregular a ingestão alimentar.

Evidências científicas descrevem que a prática de mindfulness favorece a mudança de comportamento alimentar a partir do desenvolvimento de uma variedade de mecanismos, incluindo maior consciência das experiências internas (fome, humor), enfrentamento emocional adaptativo e flexibilidade cognitiva, além da melhora metabólica caracterizada pelo controle do perfil lipídico, melhora da resistência à insulina, entre outros.

Alguns estudos com metodologia bem estruturada identificaram uma relação direta entre o grau de obesidade e a ocorrência de episódios de descontrole alimentar marcado por atitudes impulsivas relacionadas às escolhas alimentares. Os pesquisadores comprovaram que a prática de mindfulness com consequente desenvolvimento de uma atitude não julgadora e de aceitação, associada a intervenções comportamentais baseadas em orientação dietética e prática de exercícios físicos, apresentou efeitos positivos na perda de peso e/ou melhora de parâmetros metabólicos, em indivíduos com obesidade.

Podemos perceber a importância da saúde mental em nossa saúde como um todo e, para isso, além da prática de mindfulness, algumas outras atitudes farão toda a diferença. Sugiro que, de maneira gradativa, você introduza estas ações e em pouco tempo sentirá a diferença:

- Tenha uma boa noite de sono: pelo menos 8 horas de sono são essenciais para preservar todas as suas funções corporais — temos vários estudos relacionando a qualidade de sono ao controle de pressão arterial e glicemia, aumento na produtividade intelectual, melhora da saúde mental, impacto positivo sobre a genética (epigenética) e o ritmo biológico;

- Exercite-se pelo menos uma hora por dia, faça algo que goste e consiga manter a adesão e comprometimento. O treino libera serotonina e promove bem-estar, o que ajuda a manter um bom peso corporal e controle metabólico;

- Evite o consumo de alimentos ricos em gorduras, açúcares e bebidas alcoólicas;

- Mantenha distância de alimentos ricos em cafeína e substâncias excitantes, como café, chá preto, chá verde, chocolate e refrigerantes à base de cola; a maioria das pessoas são sensíveis a estes alimentos;

- Prefira alimentos fermentados ou germinados, pois eles têm mais nutrientes disponíveis e contribuem com a manutenção da flora intestinal; a sua saúde intestinal tem conexão direta com a saúde mental;

- Mude a sua forma de pensar, cultive a positividade e distribua boas vibrações.

- Seja a sua prioridade; cuide de sua saúde e mente e desfrute o bem-estar que estas pequenas atitudes de proporcionarão.

*Com colaboração de Samantha Rhein, nutricionista e doutora pela Unifesp

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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