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Jairo Bouer

REPORTAGEM

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Pandemia dispara busca de informações sobre ansiolíticos e antidepressivos

Getty Images
Imagem: Getty Images

Colunista do UOL

07/06/2021 04h00

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A busca por informações sobre medicamentos para reduzir ansiedade e tratar depressão aumentou mais de 100% durante a pandemia. É o que revela um levantamento inédito realizado pela plataforma Consulta Remédios, que comparou o período entre agosto de 2019 e fevereiro de 2020 (antes da chegada do novo coronavírus) com o intervalo entre agosto de 2020 a fevereiro de 2021.

A pesquisa mostra um crescimento importante da busca por informações sobre esses remédios, mas não necessariamente sua compra, já que medicamentos com ação psicotrópica só podem ser comercializados com receita médica nas redes autorizadas.

O primeiro medicamento mais consultado na plataforma foi o zolpidem (utilizado no tratamento da insônia) seguido por fluoxetina, escitalopram e sertralina (três antidepressivos), e completando a lista dos cinco mais procurados está o clonazepam (um ansiolítico também utilizado em transtornos do humor).

Saúde mental em xeque

Não é novidade que a pandemia colocou nossa saúde mental em xeque. A mudança de rotina, a necessidade de adaptação a uma nova realidade, as incertezas, a crise financeira, o medo, tudo isso se mostrou um desafio para muitos brasileiros. O impacto emocional foi grande em boa parte da população.

O levantamento da plataforma acaba confirmando o que muitas investigações realizadas por aqui já sugeriam. Houve um aumento de queixas de ansiedade, estresse, tristeza, angústia e dificuldades para dormir.

Pesquisa de 2020 da Fiocruz em parceria com seis universidades brasileiras, por exemplo, já apontava que 40% dos brasileiros relatavam tristeza e depressão e que 50% referiam ansiedade e nervosismo com frequência.

Consumo cresce nos EUA

Em um artigo escrito aqui mesmo nesse blog no ano passado, já mostrávamos que nos EUA o número de receitas de antidepressivos e medicamentos contra ansiedade e insônia havia aumentado 21% entre 16 de fevereiro e 15 de março de 2020.

Os dados eram da Express Scripts, um tipo de empresa que atua como intermediária entre farmácias e planos de saúde por lá. O consumo de calmantes (ansiolíticos) havia aumentado 34%, o de antidepressivos 18,6% e o de indutores do sono 15%. Três quartos de todas as receitas eram para novos usuários, ou seja, pessoas que nunca haviam consumido esse tipo de remédio.

Esse aumento se mostrava ainda mais preocupante já que havia uma tendência de queda no consumo de boa parte desses medicamentos nos EUA nos anos anteriores à pandemia

Muitas vezes, para aliviar o sofrimento emocional as pessoas acabam buscando soluções mais imediatas como uso de remédios ou mesmo de substâncias como álcool e outras drogas.

Avaliação especializada e tempo limitado

No caso dos medicamentos para tratar insônia, ansiedade e depressão é importante lembrar que sua indicação deve ser feita sempre por um profissional de saúde, que pode avaliar corretamente a necessidade de uso, o tipo de remédio, a dose mais adequada e o período de tratamento.

Muitos ansiolíticos, antidepressivos e indutores de sono podem ter efeitos colaterais, interagem com outras substâncias, exigem cuidados especiais na sua retirada e trazem risco de dependência se mal utilizados.

Em muitos casos de dificuldades emocionais os medicamentos são mesmo essenciais (e por isso é fundamental o diagnóstico especializado), mas em outras situações a adoção de um estilo de vida mais saudável, atividade física regular, técnicas para produzir uma melhor qualidade de sono, estratégias efetivas para o manejo do estresse e psicoterapia são medidas que, no longo prazo, podem ser mais sustentáveis e com menos riscos para as pessoas.

Olhar para a saúde mental

Se a gente levar em conta que a pandemia está se arrastando pelo Brasil há quase um ano e meio, é muito importante que cada um de nós se monitore para entender como anda sua saúde mental, além de ter um olhar mais atento e cuidadoso com familiares, colegas e amigos.

Entender que uma dificuldade emocional pode ser contornada mais facilmente quando abordada inicialmente e que as redes de apoio são fundamentais para se garantir esse suporte inicial, fica clara a importância de se criar canais para que todos possam vencer tabus e estigmas nessa área e comunicar quando estão em sofrimento.

Se apenas esse suporte não for suficiente, mudanças de hábito, psicoterapia e medicamentos por tempo limitado podem fazer parte do arsenal de recursos para os cuidados com nossas emoções. Consultar informações sobre remédios faz parte desse movimento, mas seu consumo exige cuidado e atenção sempre.