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Alexandre da Silva

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Voto de pessoas idosas: o direito de escolha e a possibilidade de decisão

SOPA Images/LightRocket via Gett
Imagem: SOPA Images/LightRocket via Gett

Colunista do UOL

06/06/2022 04h00

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Quem já não ouviu de uma pessoa mais velha a seguinte frase: "No meu tempo não era assim!". Essa frase comumente é dita por alguém que está descontente, assustado ou reflexivo com tudo que ocorre nos dias atuais e faz constantes comparações com situações vividas décadas atrás.

É o cabelo pintado e de corte assimétrico de um jovem, a mulher que afirma não ter a mínima vontade de se casar e ter filhos, o homem que assume uma relação aberta, a neta que questiona a fala do seu mais velho ou a falta de conversa na mesa de domingo, pois agora todos ficam com os seus aparelhos celulares postando a bela mesa repleta de comida e não compartilham suas histórias da semana e deixam pessoas mais velhas sem ter com quem conversar.

Indignadas e indignados, esses nossos mais velhos revivem em suas memórias outros tempos nos quais a vida tinha um outro ritmo, não modulado pelas altas velocidades da internet ou para uma busca incessante de um objetivo pessoal. Era também um tempo no qual a economia era outra, menos globalizada, talvez menos influenciada pelas campanhas publicitárias que vivem para nos incentivar a consumir cada vez mais.

Hoje, talvez muito mais que no passado, objetos refletem um certo status social, ou seja, se você tem é porque pode ser considerada uma pessoa bem-sucedida e, se não o tem, que dê um jeito para obtê-los.

Naquele outro tempo, a política também era diferente e mais jovem, que trazia outro tipo de comprometimento de quem entrava para ser representante do povo e também das pessoas que os elegiam. Havia uma outra dinâmica no Brasil e no mundo.

As notícias sobre este assunto não se disseminavam tão rapidamente, gerando influências de um país sobre o outro de forma tão impactante. Conquistas decorrentes da manifestação popular eram feitas nas ruas e mostradas nas páginas dos jornais impressos e, posteriormente, nos aparelhos de TV. Agora, as redes sociais geram grandes impactos paras as reivindicações e lutas políticas, além de contribuir para a organização de eventos realizados nas ruas.

A economia também era outra. Havia um outro modo de relacionamento entre empregado e empregador ou entre o empreendedor e o seu cliente. Usava-se cheque, falava-se abertamente sobre os agiotas, a quantidade de indústrias automobilísticas dava para contar em uma das mãos, assim como as lojas de eletrodomésticos presentes em uma cidade.

Também naquele tempo as pessoas viviam de forma diferente e menos tempo quando comparado aos dias atuais. Andava-se mais a pé, os deslocamentos para o trabalho eram outros, já existia a dificuldade de muitas crianças frequentarem a escola (aquelas crianças são os idosos e as idosas de hoje, certo?), os relacionamentos comumente aconteciam com quem morava ali perto ou quem, por charrete, ônibus ou bicicleta, fosse possível de visitar.

Outros tempos que, cronologicamente, não voltarão mais. As leis da física explicam isso. E mais: as pessoas que viveram aquele tempo também não são as mesmas, às vezes, nem os nomes são os mesmos!

E essa é a segunda condição que aponto. Quem hoje está com os seus 60 ou mais anos de vida não é aquela pessoa com 18 ou 30 anos atrás, que tinha outras expectativas, outro nível de maturidade sobre a vida e das emoções geradas e percebidas em seu corpo. Talvez ainda fosse uma pessoa solteira e agora já tem até netos e bisnetas.

A pessoa daquele tempo passado hoje é uma "nova pessoa idosa" e que está vivendo um presente repleto de inovações tecnológicas, novos comportamentos, novos valores que reorganizam a sociedade em um outro cenário político, econômico e histórico. E por esses motivos que não dá para voltar no tempo, não dá para desejar que tudo volte a funcionar como era antes.

A expectativa de vida aumentada faz que pessoas jovens, adultas e velhas pensem e planejem o seu futuro e, no nosso país, isso também diz respeito a quem queremos eleger para que seja presidente, governador, senador ou deputado. Que essas pessoas sejam muito representativas da nossa diversidade, ou seja, que sejam mulheres, pessoas negras, dos povos indígenas, pessoas LGBTI, pessoas com deficiência e pessoas idosas, por exemplo.

A não exigência do voto para quem tem 70 anos ou mais não deve servir de motivo para que essas pessoas deixem de votar! Quem está nessa faixa etária viverá sobre a gestão de 4, 5 ou 10 mandatos presidenciais até o final da sua vida. Como deixar de participar desse momento democrático tão importante?

Quando muitas das decisões tomadas envolvem diretamente quem tem 70 anos ou mais, como delegar para outros eleitores e eleitoras a escolha de representantes dos seus direitos? São 13 milhões de pessoas nessa faixa etária que podem decidir quem entra e quem sai, ou seja, é importante que pessoas idosas saibam a sua importância na escolha dos nossos futuros representantes.

Dessa forma, pensemos bem para um bom uso do nosso voto. O que queremos? O que pessoas idosas precisam daqui para frente? Votar em quem "promete" ser possível voltar no tempo e manter as estruturas e valores que geraram inúmeras desigualdades e desvantagens não vale a pena!

Ainda hoje percebemos as injustiças percebidas na forma como muitas pessoas envelheceram: sem as devidas garantias previdenciárias, de possibilidades de lazer, acesso à saúde de qualidade e trabalho digno.

Votar em quem garante a vida bem vivida e não em quem manterá as condições de sobrevivência e perdas de direitos para pessoas idosa e das garantias de oportunidade para todas as gerações. Chega de votar em quem cria mais desigualdades e discriminações!

Votemos em quem gosta de gente e não de quem gosta de desgraça, de mortes (físicas e sociais). Votemos em quem vibra com o crescimento do país e não em quem luta apenas para o bem-estar de um único segmento populacional!

Escolhemos um sistema político de oportunidades e uma nova chance será dada a todas e todos nós em outubro! Por enquanto, que possamos analisar quem conseguirá nos representar. Como forma de ajuda nessa busca, recomendo a live, realizada pelo Movimento Velhices Cidadãs, que participei abordando esse assunto.